“Porque é que é tão difícil falar com pessoas? Simplesmente, é.” A resposta conclusiva (e que muito ajuda os leitores) está em What to Talk About (2014), um livro que promete logo na capa ser o remédio para a conversa de elevador, num avião com desconhecidos ou num cocktail. Antes que carregue na tecla “add to cart” da Amazon: o livro é assinado por dois professores de escrita criativa e isso pode ajudar a explicar o facto de muitas vezes parecerem confundir a importante e delicada vida social dos seus leitores com a necessidade de fazer avançar um conto ou uma peça de teatro.

A experiência pessoal, ainda que seja pouca e má, diz-nos que não vale a pena imaginar que as pessoas com quem estamos a conversar são personagens de um filme, como sugerem Rob Baedeker e Chris Colin, e sabemos intuitivamente que perguntar a alguém que acabámos de conhecer “qual a sua história?”, “qual foi o ponto alto do seu dia?” ou “se pudesse ser teletransportado num ápice, onde gostaria de estar agora?” pode significar ouvir o silêncio até dos grilos.

O livro tem o mérito de aceitar uma lei fundamental da vida: é simplesmente complicado falar com pessoas e conseguir manter a conversa interessante pode ser um feito heroico. Comece-se por viver isso a sorrir e com simpatia. Se estiver com vontade de testar as vantagens da escrita criativa na vida de todos os dias, pode também aceder ao 101 Conversation Starters; se não, aqui ficam cinco maneiras de começar e continuar uma conversa. Na vida, como em dating apps.

1. Não fale do tempo, fale do espírito do tempo

Não há ninguém que não conheça os benefícios da conversa sobre o tempo: é chata, ensina-nos pouca coisa nova, mas é terreno comum a toda a gente. O grande problema é que acaba depressa. Aí, não insista no tempo meteorológico, fale do esprit du temps, do zeitgeist. Afinal de contas, que momento é este que estamos todos a partilhar? Quais são as nossas grandes questões filosóficas? O que é que mudou mais a nossa maneira de experienciar o mundo: a internet ou as redes sociais? E agora que morreu David Bowie, o que fazer (em geral)?

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Ao contrário do tempo meteorológico, a introdução dos grandes temas exige subtileza. Mas também temos algo que exige menos malabarismos:

2. Envie um emoji

Amelia Diamond, do Man Repeller, debruçando-se sobre este mesmo tema na ótica mais específica das dating apps, experimentou ser simples e original e, em vez de escrever “hey!”, ou “hello!” (a saudação certa para começar conversas difíceis, segundo Adele), enviou o emoji da rapariga de braço no ar a sete pessoas com quem nunca tinha falado. Zero responderam. Mas se conhece a pessoa do outro lado, porque não? Os emoji podem ser o ponto de partida para conversas mais latas sobre o tal espírito do tempo que nos ensina tanto sobre a pessoa com quem estamos a falar. Afinal de contas, há emoji da Beyoncé, do clã Kardashian (os Kimoji) ou da Guerra das Estrelas. E se a conversa não é online, pegue no telemóvel, leia uma mensagem antiga e diga desinteressadamente “ai ai, estes emoji…”

emoji girl-with-hand-up

3. És vegetariano? Ótimo!

O encontro de um vegetariano com um omnívoro pode ser o melhor de todos os mundos: o que o motivou a deixar de comer carne? Que cuidados há a ter para manter a dieta equilibrada? E o peixe? E os ovos? E saudades de bifes? Quando o tema parece estar esgotado — e tendo em conta o inconveniente de que provavelmente o vegetariano em questão já teve de responder a estas mesmas perguntas várias vezes — coloque o desafio Abade de Priscos: comeria este pudim que, não apresentando carne no prato, envolveu a fervura de toucinho mais tarde retirado do preparado? Debrucem-se um pouco sobre os limites deste puzzle lógico.

4. Desfrute da conversa de circunstância

Aquilo a que os anglo-saxónicos chamam small talk pode afinal ser de grande valor. A conversa de circunstância é tida como um momento rotineiro e mecânico das relações, mas pode surpreender se prestar atenção ao que a outra pessoa está a dizer. Numa primeira conversa, indica os caminhos a explorar com o seu interlocutor, os temas que têm em comum, aqueles em que talvez discordem. Com aqueles que já conhece, poderá ser surpreendente o simples facto de tomar mais atenção, e fazer as mesmas perguntas de cortesia mas de outra maneira ou numa ordem diferente — uma dica de Colin e Baedeker.

5. E aquele vídeo dos gatinhos?

Encaremos os vídeos virais como parte integrante do conceito vago que conhecemos como “atualidade” — as coisas que aconteceram hoje ou há pouco tempo e que estão na mesa da discussão pública. Será sempre um bom trabalho, para os desligados da “atualidade”, fazer um scroll pelas homepages de alguns jornais para saber desenvolver comentários inocentes sobre o governo, as agências de notação financeira ou a morte das skinny jeans. A vantagem dos vídeos virais sobre tudo isto é a certeza de que terão outros relacionados, tal como aquela barra à direita, no YouTube. E as palavras que compõem conversas são afinal como os vídeos virais — vêm umas atrás das outras.