Perante o que se passa em Espanha, onde ainda não há governo, e agora na Irlanda, o pós-legislativas em Portugal parece uma brincadeira de crianças. Porquê? É que ainda não fechou a contagem de votos e já se fala em novas eleições na Irlanda, perante os resultados que até agora foi possível apurar.

Tal como as sondagens indicavam, os dois partidos no governo, o Fine Gael e o Labour, perderam votos — embora o Fine Gael esteja à frente — e só um milagre poderia fazer com que a coligação que se formou depois das legislativas de 2011 se reeditasse. Os resultados dos dois partidos não chegam para uma maioria no Dáil, o parlamento irlandês.

E se já estava cansado de contas pós-eleições, aguente mais um pouco, porque na Irlanda a matemática também não está fácil. Mais uma vez, os partidos que implementaram medidas de austeridade estão a ser penalizados pelo eleitorado. Mais uma vez, o partido que encabeçava o governo deverá ser o mais votado. E mais uma vez, não terá votos suficientes para formar governo sozinho.

Desta vez, tal como em Espanha, as hipóteses de uma maioria no parlamento implicariam uma coligação entre dois eternos rivais: o Fine Gael e o Fianna Fáil, que estão em campos políticos separados desde a guerra civil da Irlanda. Foi este último partido, a par com o Sinn Féin, que mais subiu nas preferências dos irlandeses.

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O Labour registou a maior queda, sendo que a esta hora a própria eleição da líder do partido para o parlamento está ainda posta em causa. O mesmo cenário se coloca para vários ministros do governo ainda em funções.

Para ter uma ideia mais precisa, em 2011, o Fine Gael e o Labour somaram 55,6% dos votos. Nas sondagens à boca das urnas não chegam aos 34%. Tanto um, como outro, terão perdido mais de 10% dos votos em relação à eleição anterior.

Mas será que o machado de guerra pode ser enterrado e o Fine Gael e o Fianna Fáil vão entender-se numa grande coligação? A história diz que não e a campanha também. Tanto o primeiro-ministro e líder do Fine Gael, Enda Kenny, como Micheál Martin, líder do Fianna Fáil, recusaram qualquer possibilidade de trabalharem juntos num governo. E ambos negaram qualquer cooperação com o Sinn Féin, que deverá ser o terceiro partido mais votado destas eleições.

E é por tudo isto que o cenário está cada vez mais complicado e já se fala na possibilidade de novas eleições. Em declarações citadas pelo Irish Times, o estratega do Fine Gael, Mark Mortell, admitiu como “muito, muito elevada” a probabilidade de novas eleições num horizonte próximo.

Mas porque não há ainda resultados finais?

A contagem dos votos na Irlanda não é tão simples como em Portugal, porque os eleitores não votam apenas num partido, indicam preferências. Então o que acontece? Vamos dar-lhe um exemplo utilizado pelo The Guardian, e que esclarece como tudo se processa.

No círculo eleitoral de Galway East foram registados 45, 238 votos válidos. Há três lugares em disputa, e por isso, para que cada deputado seja eleito, terá de obter 11, 310 votos. É uma espécie de quota que fica estabelecida. Ora, o problema é que nenhum dos oito candidatos que concorre neste círculo conseguiu esse valor na primeira contagem (onde se contam apenas as primeiras escolhas dos eleitores). O que acontece a seguir? Volta a pegar-se nos boletins dos dois candidatos menos votados em primeira escolha e vê-se qual é a segunda escolha daqueles eleitores. E assim esses votos serão redistribuídos, para ver se algum dos outros consegue atingir os tais 11 mil votos. E por aqui fora até haver fumo branco.

É por isso que as eleições foram esta sexta-feira e já vamos a meio de sábado sem saber resultados finais.