A indicação da liderança da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) cabe este ano a Portugal e vai marcar os próximos anos desta organização que reúne os países lusófonos e pretende promover a língua portuguesa no mundo. Mas quem será a figura escolhida pelo Governo? Terá de ter um perfil “político” ou “ser um diplomata de carreira”, possuir conhecimentos no mundo da lusofonia, mas também saber “dar murros na mesa”. Problemas como o estatuto da Guiné-Equatorial, um maior envolvimento do Brasil e a normalização da democracia e dos direitos humanos em todos os Estados-membros estão na agenda desta organização.

Com todas as atenções focadas na candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU, é fácil esquecer que este ano cabe a Portugal indicar o líder da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização que reúne nove países. No entanto, é uma escolha estratégica que nem o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, nem o Presidente eleito, Marcelo Rebelo de Sousa, querem relegar para segundo plano. A rotação de secretário-executivo, cargo mais alto da CPLP, é feita por ordem alfabética entre os países que integram esta organização e a pessoa escolhida tem um mandato de três anos, que pode ser renovado por mais três. O atual secretário-executivo da CPLP é Murade Isaac Miguigy Murargy, moçambicano e diplomata de carreira.

Esta é a primeira vez que Portugal vai escolher o líder desta organização e o Ministério dos Negócios Estrangeiros pretende indicar “alguém com suficiente experiência e em condições de levar à prática a nova visão estratégica que a CPLP vai aprovar”, segundo respondeu o gabinete de Santos Silva ao Observador. Apesar de alguns nomes já terem sido avançados para este cargo, como Francisco Seixas da Costa ou Vítor Ramalho, segundo noticiou o DN, ambas as figuras se mostram alheias ao processo.

O embaixador Francisco Seixas da Costa, em declarações ao Observador, nega qualquer interesse no cargo e Vítor Ramalho, secretário geral da UCCLA, diz que ainda não lhe chegou qualquer convite. “Sou um amante da afirmação dos países de língua portuguesa A CPLP terá de enfrentar um ciclo novo”, afirma Vítor Ramalho, sem nunca negar a possibilidade de chegar ao topo da CPLP.

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Desafios difíceis para um português resolver

Os próximos anos vão ser decisivos para esta organização que procura uma afirmação global para a língua portuguesa e maior integração entre os países de matriz lusófona. Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, diz que o próximo secretário-executivo da CPLP tem de ser uma pessoa “energética” e que “dê murros na mesa”. “Precisa ser uma figura politicamente forte”, considerou o investigador em declarações ao Observador.

Rejeitando qualquer interesse no cargo, o embaixador Francisco Seixas da Costa assegura que o cargo ficará para um político ou para um diplomata de carreira. “Tem de ser alguém que tenha um histórico de boas relações com todos os parceiros e que não suscite dificuldades juntos dos países da CPLP. É necessário que seja alguém com capacidade de diálogo”, assegura o embaixador e antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus.

Essa capacidade servirá para o novo líder da CPLP enfrentar questões como a polémica inclusão da Guiné-Equatorial na organização, normalizar questões relacionadas com a democracia e os direitos humanos em vários Estados-membros e ainda dar conteúdo no plano económico a esta organização, nomeadamente através de uma maior cooperação empresarial. Temas que, segundo o atual secretário-executivo da CPLP não são ignorados pelo novo Presidente português. “É um grande apoiante do crescimento da CPLP. Espero contar com ele, no pouco tempo que me resta como secretário-executivo”, firmou então Murade Murargy.

A CPLP é também uma prioridade para Augusto Santos Silva. A Comunidade de Países de Língua Portuguesa está no topo das nossas prioridades. “Em particular, neste ano de 2016, em que se celebrarão os 20 anos da sua fundação, em que se espera a aprovação da sua nova Visão Estratégica e em que cabe a Portugal apresentar a candidatura ao cargo de secretário executivo“, disse então o ministro dos Negócios Estrangeiros durante o seminário diplomático que teve lugar no início do ano.