Anda à procura do “edifício perfeito”, mas Simon Schaefer não tem dúvidas: aquele que é o maior campus para startups da Alemanha vai ter uma irmã em Lisboa. À semelhança da britânica Second Home, a berlinense Factory também quer fazer parte do ecossistema de empreendedorismo português. “Porque Lisboa é extraordinária”, diz ao Observador.

A decisão está tomada e os contactos com parceiros feitos, garante o fundador daquela que hoje é a casa mãe de empresas como a SoundCloud, Twitter ou Uber, em Berlim. Simon Schaefer foi um dos fundadores da Factory, juntamente com Udo Schloemer, mas em 2015 a dupla separou-se e Simon dedica-se agora à internacionalização da marca. O campus de Berlim é gerido por Udo.

Sobre Lisboa, Simon prefere não avançar com datas (para já). Por enquanto, há duas certezas: o espaço terá, no mínimo, 2.500 metros quadrados e, tal como sucede em Berlim – onde conta com o apoio da Google – a Factory também vai entrar na capital portuguesa com uma parceria.

“Preferimos demorar mais tempo, mas abrir quando encontrarmos este sítio certo, que nos permita fazer tudo bem. Depois, vai depender do estado do edifício, se precisa de muitas obras ou não. Mas avançamos sempre com parceiros locais, tal como em Berlim”, diz.

A Factory nasceu em junho de 2014, em Berlim, num edifício de 16 mil metros quadrados, que já tinha funcionado como posto de vigia da República Democrática Alemã. Missão: “dar mais poder à próxima geração de empreendedores ao encurtar a distância de inovação que existe entre as empresas mais antigas e as novas, cobrindo todas as fases do empreendedorismo, do protótipo à admissão em bolsa”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em Lisboa, a ideia é a mesma: juntar equipas em fase muito inicial com empresas num estado mais avançado. “É aí que podes sentir que há magia a acontecer. Quando juntas pessoas com mente iluminada, com a mesma compreensão da cultura e do negócio, num só sítio. Ainda que estejam em fases diferentes. Quando elas se juntam, ajudam-se umas às outras. E a forma como se apoiam umas às outras é que é o ‘momentum'”, explica.

Porquê a capital portuguesa? Porque faz lembrar Berlim, não há muito tempo, diz. Não em termos de tamanho de mercado ou do tipo de indústrias, mas na cultura, que tem muito de empreendedora.

“Quando estive em Lisboa, conheci muitas pessoas que estavam muito em linha com a era dos Descobrimentos. E acho que esta fase que estamos a viver agora é uma nova era dos Descobrimentos. Sinto que há uma cultura, hoje, que se adapta com a altura em que Portugal foi um interveniente global e relevante. Foi, na verdade, um dos primeiros países a globalizar-se verdadeiramente”, afirmou Simon

Quando compara a capital portuguesa à alemã, lembra quando a cidade estava repleta de edifícios vazios e de como isso se tornou num “mundo de oportunidades”. O que começou com música eletrónica acabou por transformar-se “numa cultura de startups com uma mentalidade muito internacional. E passa-se o mesmo em Lisboa”, refere, destacando o número de pessoas que fala inglês (e bem) em Portugal e a quantidade de infraestruturas que ainda estão disponíveis.

E de que vai andar à procura em Lisboa? De empresas com “ADN”, de fundadores “que queiram fazer parte da Factory e devolver a sua aprendizagem e experiência à comunidade onde vão estar inseridos.

“Os fundadores precisam de fazer parte da comunidade e querer ajudar os mais novos a ter sucesso. Todas as pessoas que conheci em Lisboa estão muito entusiasmadas com a ideia de ajudar o ecossistema a crescer”, diz.

É por isso que a Factory faz “uma curadoria das empresas” que acolhe, juntando pessoas de setores e empresas distintas. “Acho que é importante juntar pessoas de todo o lado, tão diferentes quanto possível, para que consigamos criar um bom momentum. E deixar que a serendipity [feliz coincidência] aconteça”, refere, acreditando que os próximos 10 anos sejam de grande entusiasmo, sobretudo nos próximos dois anos.

Sobre os desafios que Portugal ainda enfrenta, refere aquela que também pode ser uma vantagem: o tamanho do mercado. Por ser pequeno, obriga as empresas a nascerem logo com uma visão internacional, um posicionamento global. “Acho que o mercado é um dos desafios, mas podes transformá-lo em algo positivo. É uma coisa boa, porque ajuda as empresas a serem internacionais desde o primeiro dia”, concluiu.

A Factory é a terceira incubadora a anunciar a chegada a Lisboa, no mesmo ano em que se realiza a primeira Web Summit – maior conferência de empreendedorismo e tecnologia da Europa – na capital portuguesa. A londrina Second Home abre em junho no Mercado da Ribeira e o Impact Hub Lisbon abre no mesmo mês, num pavilhão abandonado na zona do Beato-Marvila.