Quando nos deparámos com a sigla ZFG num artigo da revista Elle americana, ficámos a pensar como por vezes, em inglês, as palavras soam tão bem. O que os americanos querem dizer com ZFG é nada mais, nada menos do que “Zero F*ck Given“. Qualquer coisa como “não quero saber” ou “estou-me a marimbar” e cuja asneira começada por “f” não impediu a expressão de ser nomeada para uma das palavras do ano em 2015.

No artigo, a jornalista Glynnis Macnicol explica que esta sigla tem vindo a ser associada à ascensão de mulheres que não se preocupam com nada daquilo que a sociedade lhes impõe: aparência, peso, casamento, filhos e comportamento. E aponta o facto de, pela primeira vez na história, as mulheres serem financeiramente independentes, casarem mais tarde e poderem escolher ter, ou não, filhos.

Vem isto tudo a propósito da mais recente capa da New York Magazine e do artigo que Rebecca Traister escreveu sobre a ascensão da mulher solteira ser uma reviravolta emocionante na história. A antiga presunção de que nenhuma mulher realmente conta enquanto cidadã num sistema económico e social enquanto não for casada, está a ser deitada por terra. E porquê? Porque as mulheres estão a começar a “marimbar-se para tudo” e ao mesmo tempo a aceitar que não podem ter tudo.

A felicidade depende da quantidade de ZFG

Quantas pessoas vivem infelizes em trabalhos de que não gostam, a fazer o que não lhes dá prazer, em relações que não as satisfazem, a seguir as regras dos outros… Porque não têm confiança suficiente para serem como bem lhes apetece e ficam presas a todas estas supostas leis invisíveis que a sociedade nos impõe? Adotar o lema “Zero Fuck Givens” e “estar-se a marimbar para tudo” não significa deixar de se preocupar com as pessoas que o rodeiam. Significa, sim, deixar de ter medo do que os outros vão pensar de si e das suas escolhas. Porque é apenas isso que o está a paralisar — na vida e na carreira.

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Claro que é mais fácil falar do que agir. Todas estas noções de como devemos ou não comportar-nos têm vindo a ser programadas no nosso cérebro pela sociedade desde que nascemos. Temos de nos vestir de uma certa maneira, arranjar um emprego “normal”, casar, ter filhos… Temos de nos conformar ao que a sociedade desenhou para nós. E enquanto estamos preocupados em seguir este padrão, esquecemo-nos, grande parte das vezes, de pensar naquilo que realmente queremos.

Hoje isto tornou-se especialmente difícil. Vivemos na era das redes sociais em que temos pessoas de todo o lado a opinar sobre as nossas escolhas. Vivemos presos ao número de likes que vamos ter, queremos ser iguais às pessoas que vemos no Instagram, queremos fazer tudo o que os outros fazem e, no final do dia, nunca somos nós próprios. O mais certo é dar por si derrotado pelas trivialidades da vida. Quer conduzir certo carro porque lhe proporciona estatuto. Quer comprar aquela mala porque está na moda. Continua naquela relação porque estar sozinho é mais penoso. E sabe que mais? A única coisa que o está a separar da felicidade é apenas… você mesmo.

Porquê ficar num emprego que não o faz feliz?

Deixe-me partilhar uma história pessoal: Há uns anos, estava presa num trabalho que não me fazia feliz, a fazer coisas com as quais não me identificava e, simplesmente, não conseguia ser quem queria porque passava quase 12 horas por dia enfiada num escritório. Isso estava a afetar toda a minha vida. Os especialistas dizem que só 10% da nossa felicidade depende de fatores externos. E enquanto 50% do nosso nível de felicidade pode ser determinado pelos genes, os restantes 40% são determinados por coisas como as nossas atividades, relações, trabalhos, desportos e hobbies. Ou seja, tudo coisas que podemos controlar.

Como é que eu poderia ser feliz se, a trabalhar 12 horas por dia, não podia ter hobbies nem relações nem qualquer outra atividade fora daquele escritório? Como poderia estar bem comigo própria se passava 12 horas por dia a fazer coisas de que não gostava? O meu momento “ZFG” foi quando simplesmente me decidi ir embora. E, de repente, estava desempregada, tive de vender o meu carro e voltar para casa dos meus pais. No entanto, isso deu-me tempo para reorganizar a minha vida e descobrir o que realmente gostava de fazer: jornalismo digital.

Tal como a autora Sarah Knight diz no seu livro bestseller The Life-Changing Magic of Not Giving a F*ck, isto pode soar egoísta — e é –, mas também vai criar um mundo melhor para todos à nossa volta. Vamos parar de nos preocupar com toda as coisas que temos de fazer e começar a concentrar-nos nas coisas que queremos fazer. Vamos ser felizes num trabalho de que gostamos. Os nossos colegas e clientes também vão beneficiar com isso porque vamos trabalhar melhor. Vamos estar mais descansados e vamos ser pessoas mais felizes ao pé dos nossos amigos. Vamos passar mais tempo com a nossa família. E vamos ter mais tempo, energia e/ou dinheiro para nos dedicarmos a viver a nossa vida melhor.

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A capa do livro com aquele que é possivelmente o subtítulo mais comprido da história da literatura: “como parar de perder tempo que não tem com pessoas de quem não gosta a fazer o que não quer fazer”

Coisas para as quais as pessoas felizes “se estão a marimbar”

Por mais clichê que isto possa soar, “estar-se a marimbar para tudo” pode realmente mudar a sua vida. Faça aquilo que lhe apetece — voltando a um apontamento pessoal, tenho um amigo que se despediu de uma consultora para dar aulas de surf em Peniche –, vista-se como lhe apetece, vá onde lhe apetece, seja realmente como que ser. Não ceda ao que a sociedade impõe — mesmo que subtilmente — como certo. O blogue humanitário Live Learn Evolve reuniu 10 coisas com as quais as pessoas felizes não se preocupam, das quais selecionámos oito.

    1. Idade. É apenas um número e pode fazer tudo aquilo que quiser independentemente da idade. A vida é demasiado curta — viva-a da forma que o fizer feliz.
    2. O que os outros pensam. Este é um dos maiores bloqueios para a felicidade. A partir do momento em que perceber que as palavras dos outros não vão definir aquilo que é, vai conseguir bloquear esses medos e não deixar que as opiniões externas tenham relevo na sua vida.
    3. Empregos infelizes. Não estamos a apelar aos despedimentos. A ideia que tem de reter é que não somos o nosso emprego. Claro que ter um trabalho é importante para a estabilidade e sobrevivência na sociedade de hoje, mas não pode deixar que um emprego se infiltre em toda a sua vida diária ou vai acabar a sentir-se cansado, desmotivado e infeliz. Aquilo que mais importa é o seu talento, a sua paixão e visão da vida.
    4. Medo. O medo não é real, e as pessoas felizes sabem disso. Todo o nervosismo e ansiedade que, supostamente, vêm com o medo não são reais e apenas o vão impedir de sair da sua zona de conforto. Não faz sentido bloquear toda a sua vida só porque tem medo.
    5. Passado ou futuro. Para ser feliz tem de se libertar do passado e seguir em frente. Aprenda com ele (para não repetir os mesmos erros) mas não se agarre às coisas más que lhe aconteceram. Quanto ao futuro, o truque é simples: deixar de ter expectativas. Parar de saltar entre o passado e o futuro, leva a quê? A desfrutar realmente do presente.
    6. Não esperar nada em troca. Comece a fazer coisas apenas porque as quer fazer. As pessoas felizes não ficam sempre à espera do que vão receber em troca. É assim que conseguem controlar as deceções.
    7. Viver a reclamar. Esse é o resultado de uma vida infeliz. Às vezes as coisas não correm da forma que queremos mas não podemos fugir a isso. Como se costuma dizer: “é a vida!” Mas passar o tempo todo a queixar-se é inútil. O truque passa por encontrar a melhor solução para todos os problemas com uma mentalidade positiva.
    8. Conformar-se com os padrões da sociedade. Tal como a idade, há toda uma série de rótulos que vão sempre tentar definir quem somos e as expectativas que são colocadas em cima de nós podem ser, por vezes, esmagadoras. As pessoas felizes simplesmente dão “Zero Fuck Given” para isso. Que é o mesmo que dizer que elas escolhem ser aquilo que querem ser. É assim que a felicidade é criada. E não a fazer coisas que não queremos.