Durante o período em que decorre uma gravidez, muitos são os preparativos que se fazem para acolher o bebé no momento do nascimento e várias são as imagens que passam pela mente dos pais. É normal que se imaginem a pegar no seu bebé ao colo, a alimentá-lo, a trocar-lhe as fraldas e a protegê-lo. Mas nem sempre a realidade corresponde ao imaginado. Quando a criança nasce antes do tempo previsto, todos os aspetos relacionados com os cuidados que lhe são prestados têm de ser ajustados, porque a sobrevivência pode estar em risco. Graças à evolução da Medicina, são cada vez mais as histórias com final feliz, sendo possível ao bebé desenvolver-se após o nascimento como se continuasse no ambiente protetor do útero materno.

Chamam-se bebés prematuros (ou pré-termo) aos que nascem antes das 37 semanas de gestação, considerando que a gravidez tem uma duração média de 40 semanas. Por nascerem antes de tempo, apresentam imaturidade dos órgãos e sistemas, que não tiveram tempo de se desenvolver totalmente, podendo apresentar dificuldades ao nível da respiração, controlo da temperatura, digestão ou metabolismo. Desta forma, estão mais vulneráveis a determinadas condições externas e doenças, precisando de atenção e cuidados especiais.

Causas da prematuridade

Em Portugal, cerca de oito em cada 100 bebés nascem com menos de 37 semanas de gestação e 1% têm menos de 1.500 gramas no momento do nascimento. A prematuridade constitui a causa de um terço da mortalidade infantil no nosso país. E embora os números disponíveis pareçam indicar que a situação está a diminuir (7,7% em 2014 face a 8,7% em 2009, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística), a verdade é que são elevados – em termos mundiais, a taxa de prematuridade varia entre 5% (nalguns países da Europa) e 18% (nalguns países de África).

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Com efeito, um dos aspetos que mais contribui para a taxa de prematuridade prende-se com a incidência de gravidez gemelar, que é o “principal fator de risco” não só de nascimento antes de tempo, como de baixo peso ao nascer. A idade da mãe está também diretamente relacionada com a prematuridade, fato revelado pelas estatísticas: em 2014, a maior percentagem de nados vivos prematuros registou-se entre mães com 40 ou mais anos (10,9%) e com 19 anos ou menos (7,7%). Os avanços nos cuidados neonatais têm sido de tal ordem que se estima que a taxa de sobrevivência de prematuros de 29 a 32 semanas ronde os 90 a 95%, sendo esta percentagem ultrapassada no caso de prematuros de 33 a 36 semanas.

Cuidados Neonatais

De acordo com Gabriela Vasconcellos, coordenadora da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) do Hospital CUF Porto, “a taxa significativa de prematuridade em Portugal tem sido associada a causas como a maternidade tardia, tabagismo, stresse e técnicas de procriação medicamente assistida, que aumentam a gestação múltipla, entre outras”. Ainda assim, a médica explica que “nem sempre se identificam as causas”, as quais podem não se relacionar apenas com a mãe, mas também com o próprio feto.

A prematuridade é classificada em diferentes graus, dependendo do tempo de gestação e do peso ao nascer. Por se apresentarem muito frágeis (ver as características dos prematuros no final deste artigo), a médica chama a atenção para a “possibilidade de patologia aguda de diferente gravidade, com ou sem sequelas a médio e a longo prazo”. Há pois que proteger o recém-nascido, ajudando ao “crescimento e desenvolvimento de todos os órgãos num meio externo, com condições e riscos que condicionam a sua evolução, nomeadamente do ponto de vista térmico, respiratório, cardiovascular, digestivo e imunológico/infeccioso”.

Para que tal seja possível, o bebé poderá ter de permanecer na maternidade ou, em alternativa, ser internado numa Unidade de Cuidados Intermédios, ou numa UCIN. Estes locais dispõem dos recursos tecnológicos necessários para permitir a sobrevivência dos bebés pré-termo, tendo em conta as suas necessidades. Entre os equipamentos contam-se as incubadoras, berços aquecidos ou ventiladores, que irão ajudar os bebés a levar a cabo algumas funções vitais que neles possam estar comprometidas.

Elevada sobrevivência

Os resultados destas intervenções são muito animadores e Gabriela Vasconcellos lembra que “a Neonatologia é uma área da Medicina com um desenvolvimento muito significativo, razão por que o futuro destes recém-nascidos é cada vez mais promissor”.

A médica reforça que “as perspetivas são hoje muito mais favoráveis”, nomeadamente no que diz respeito às complicações mais frequentes relacionadas com a visão, crescimento e desenvolvimento psicomotor. Ainda assim, esclarece que “estes recém-nascidos deverão ter sempre uma vigilância clínica seriada, no sentido de serem antecipadamente detetados e tratados todos os problemas associados, particularmente no que respeita aos aspetos do foro respiratório, infeccioso e de autonomia”.

Posteriormente, a criança que nasceu antes de tempo “começa a ser avaliada de acordo com a evolução dos seus pares que nasceram a termo, cerca dos 2-3 anos de idade cronológica, dependendo do parâmetro a ser avaliado, que pode ser antropométrico ou do desenvolvimento”.

Internamento numa UCIN

A duração do internamento do prematuro numa UCIN é variável e depende da “evolução e eventuais complicações de cada recém-nascido”.

Um dos aspetos que atenua a ansiedade característica desta situação – afinal, para os pais é motivo de grande preocupação terem o seu bebé internado em vez de o levarem para casa – é o fato da presença dos progenitores na UCIN ser estimulada. Segundo Gabriela Vasconcellos, “esta atitude tem demonstrado melhorar não só as competências parentais, como a evolução do próprio recém-nascido”. Proporcionar e incentivar a presença dos pais junto dos prematuros durante o internamento é, pois, uma prática comum e desejável. Isso mesmo verifica-se na UCIN do Hospital CUF Porto.

Este serviço faz parte do Centro da Criança e do Adolescente desta instituição, trabalhando em paralelo com o Serviço de Ginecologia-Obstetrícia. Gabriela Vasconcellos destaca que a unidade tem, em permanência, “uma equipa de médicos e enfermeiros com experiência em Neonatologia, contando com o apoio multidisciplinar das diferentes subespecialidades pediátricas, entre as quais a Cardiologia, Cirurgia, Otorrinolaringologia ou Oftalmologia”.

Disponíveis naquela Unidade estão também “os meios auxiliares necessários, em termos de Imagiologia e laboratório, bem como de terapêutica e diagnóstico, como a Medicina Transfusional”.

Enquanto coordenadora da UCIN, Gabriela Vasconcellos frisa que “a unidade tem como objetivo dar resposta às solicitações do serviço de Obstetrícia, assim como aos recém-nascidos que sejam admitidos pelo Atendimento Permanente ou sejam transferidos de outras instituições”. Para poder corresponder à procura, “existem cinco postos de cuidados intensivos e três de cuidados intermédios, estando devidamente equipados com os recursos técnicos de monitorização e terapêutica necessários ao exercício clínico da maioria das situações”.

E porque o acompanhamento destas crianças continua depois da alta, a pediatra sublinha que “a equipa de médicos está disponível para dar continuidade ao seguimento destes recém-nascidos em regime de consulta externa no hospital de dia”.

Características do bebé prematuro

Segundo informação partilhada pela XXS – Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro no seu site, estas são as características apresentadas pelos bebés pré-termo ao nascer:

– Tamanho pequeno

– Baixo peso ao nascer

– Pele fina, brilhante e rosada, por vezes coberta por lanugo (penugem fina)

– Veias visíveis sob a pele

– Pouca gordura sob a pele

– Cabelo escasso

– Orelhas finas e moles

– Cabeça grande e desproporcional em relação ao resto do corpo

– Músculos fracos e atividade física reduzida (ao contrário de um lactente de termo, um lactente prematuro tende a não elevar os membros superiores e inferiores)

– Reflexos de sucção e de deglutição fracos ou inexistentes

– Respiração irregular