Yisrael Kristal é do mesmo ano em que os irmãos Wright se aventuraram a voar. Ou do ano em que se realizou a primeira transmissão via rádio transatlântica, dos Estados Unidos para o Reino Unido. 1903. Nasceu a 15 de setembro, em Zarnov.

Nado e criado nessa cidade polaca, mudou-se de armas e bagagens para Lodz, também na Polónia, depois da “Grande Guerra”, e foi em Lodz que trabalhou numa confeitaria, casou e teve dois filhos. Com a ocupação nazi da cidade, viu o seu bairro transformado num gueto — Yisrael Kristal é descendente de judeus ortodoxos — e acabou, pouco depois, por ser transportado, como tantos outros judeus, para um campo de concentração. Mas não para um campo como os demais; foi transportado para o mais sanguinários, desumano dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial: Auschwitz-Birkenau.

Mais de um milhão de homens, mulheres e crianças judias ali morreram entre 1940 e 1945, ano da libertação do campo pelas forças soviéticas. A mulher e os dois filhos de Yisrael morreram também. Ele não. Sobreviveu, cadavérico, com apenas 36 quilos de peso, de sofrimento, mas sobreviveu.

Certo dia perguntaram-lhe, numa televisão israelita, e com o avançar do calendário para Yisrael, qual era a sua dieta para viver tanto e tão bem. Gracejou: “Em Auschwitz nem sempre havia o que comer, sabe? Comia o que me davam. Então, aprendi a comer para viver e não a viver para comer.”

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Continuou a viver. É hoje o homem mais velho do mundo para o Guinness World Records: 112 anos. 112 anos de sobrevivência, a duas guerras mundiais, ao holocausto, à morte dos seus. Vive em Israel há mais de sessenta anos.

Aquando da distinção do Guinness, esta sexta-feira, foi modesto quanto à sua façanha de fintar o tempo: “Honestamente, não sei dizer qual é o segredo para ter uma vida tão longa. Acredito que é um desígnio superior, de Deus, e nunca sabemos quais as Suas razões. Homens houve que, mais inteligentes, fortes e com melhor ar do que eu, não viveram tanto.”

O anterior homem mais velho do mundo para o Guinness World Records era o japonês Yasutaro Koide, também com 112 anos, que morreu em janeiro deste ano. Jeanne Louise Calment, que viveu até 1997, foi a mulher mais velho de que há registo: morreu aos 122 anos e 164 dias.