É a dança das cadeiras da renovação anunciada. Na era pós-Portas, Assunção Cristas vai reduzir para metade o número de vice-presidentes do partido, mantendo apenas Nuno Melo – e Nuno Magalhães, por inerência – no núcleo restrito. Cecília Meireles e Adolfo Mesquita Nunes são promovidos, juntando-se ainda João Almeida, que deixa de ser vice mas passa a porta-voz, cargo até aqui ocupado por Filipe Lobo d’ Ávila.

De fora ficam nomes como Diogo Feio, Teresa Caeiro e Luís Pedro Mota Soares, sendo que o ex-ministro do Trabalho e da Segurança Social deixa a vice-presidência, descendo um degrau, mas mantém-se no órgão restrito da direção. Numa tentativa de equilibrar o número de homens e mulheres presentes na comissão executiva, Cristas vai ainda promover a ex-deputada Teresa Anjinho e a estreante no Parlamento Ana Rita Bessa. Também o deputado João Rebelo, nome próximo de Portas, deverá voltar ao órgão restrito da direção, assim como o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, que era vogal da comissão executiva e assim deve continuar.

Para o lugar de secretário-geral, até aqui ocupado por António Carlos Monteiro, vai Pedro Morais Soares, ficando assim com um lugar de destaque na comissão executiva de Cristas.

Quem são os quatro mosqueteiros de Assunção?

Nuno Melo

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Nuno Melo era apontado como um dos mais prováveis sucessores de Portas, mas acabou por não avançar, apoiando Assunção Cristas

É o único que se mantém na cadeira, transitando do núcleo duro de Portas para o núcleo ainda mais restrito de Assunção. Eurodeputado desde 2009, e no CDS desde os tenros tempos da juventude popular, Nuno Melo sempre foi visto internamente como a continuidade natural de Paulo Portas, sendo a escolha mais apreciada pelo núcleo duro do ex-líder.

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Mas Melo, mesmo tendo “noção de que desiludia muita gente”, optaria por não avançar, escolhendo o caminho de Bruxelas em vez do caminho do largo do Caldas. Depois de um período intenso de conversações e reflexão na sequência do anúncio do afastamento de Paulo Portas, o eurodeputado viria a dar um passo atrás estendendo a passadeira para Cristas. “Se este for o custo que tiver de pagar para garantir que o CDS não se balcanizará, não se radicalizará em conflitos, então que seja. Se eu puder ser, como quero, fator de unidade e coesão para dar mais força ao CDS nos desafios futuros, assim será”, disse no dia em que comunicou a decisão.

Desde então que a palavra “união” e “coesão” têm sido das mais repetidas entre os dirigentes centristas, sendo esse o principal desafio da nova presidente. Melo deu logo o seu apoio público a Cristas, e cedo ficou subentendido que Cristas o iria incluir na sua direção. Unir para reinar. Mas isso não impediu o eurodeputado de assinar uma moção estratégica em nome próprio, que por sinal é uma das que faz mais exigências à nova liderança: “O pior serviço que o novo líder faria ao CDS seria repetir os gestos de Paulo Portas ou imitar-lhe o trajeto”, disse.

Melo, assim como Filipe Lobo d’Ávila, representam neste novo ciclo a ala que quer ver o partido mais firme no espaço do centro-direita, sem ouvir falar em consensos à esquerda. Uma linha que difere do discurso de “abertura” e “responsabilidade” que se ouve nos discursos da nova líder. Em todo o caso, é o primeiro vice-presidente de Cristas, o seu braço direito.

Cecília Meireles

Apresentação e discussão do Programa do XXI Governo Constitucional

Cecília Meireles é deputada do CDS

É um dos rostos mais visíveis na bancada parlamentar do CDS na Assembleia da República. Natural de Guimarães, aderiu ao CDS quando o líder era Manuel Monteiro tendo começado o seu percurso de forma discreta a assessorar o grupo parlamentar. Licenciada em Direito, foi no entanto na área da economia e finanças que mais se destacou.

No Parlamento enquanto deputada desde 2009, esteve na comissão de Orçamento e Finanças e na comissão de inquérito ao BES, onde se destacou pela postura interventiva. Agora volta a repetir o processo, tendo sido também escolhida para representar o partido na comissão de inquérito ao Banif, ao lado de João Almeida.

Paulo Portas chegou a levá-la para o Governo, em 2011, nomeando-a secretária de Estado do Turismo, mas não ficaria muito tempo naquele posto – por opção própria. Em entrevista ao semanário Sol, em 2012, Cecília Meireles confessaria que era uma pessoa mais “combativa por natureza, e pouco dócil”, pelo que preferia o combate político no Parlamento do que o trabalho de governante a promover o Turismo. Para o seu lugar acabou por ir Adolfo Mesquita Nunes.

De volta ao Parlamento, acaba por ser promovida a vice-presidente da bancada, sendo dessa forma premiada pelo seu trabalho técnico. “A política é muito absorvente e faço isto com uma grande entrega”, disse na mesma entrevista ao Sol.

No congresso que elege este fim de semana Assunção Cristas como líder, Cecília Meireles assina a moção global de estratégia de João Almeida e Adolfo Mesquita Nunes, que pedem o CDS mais aberto à sociedade e a falar de temas sociais, sem ter medo que sejam tradicionalmente bandeiras de esquerda.

Adolfo Mesquita Nunes

Adolfo Mesquita Nunes

Adolfo Mesquita Nunes foi secretário de Estado do Turismo no último Governo PSD/CDS

Ganhou notoriedade nos últimos quatro anos de governação, tendo ficado com a pasta do Turismo. Militante do CDS desde 1997, passou a integrar a comissão política nacional do partido em 2011. Adolfo Mesquita Nunes é hoje um dos nomes mais sonantes no partido. Já era vogal da comissão executiva da direção de Portas, mas é agora promovido por Assunção Cristas ao lugar cimeiro de vice-presidente – cargo que vem imediatamente a seguir ao do presidente.

Apoia Cristas na liderança (“É a pessoa indicada para tornar o CDS a primeira escolha dos portugueses”, disse ao Observador), e adota a sua postura mais dialogante – que diverge da postura mais rígida defendida por Nuno Melo.

Numa entrevista ao Observador, publicada esta semana, o ex-secretário de Estado admite mesmo que o CDS pode viabilizar Orçamentos do PS se a solução à esquerda falhar e se António Costa concordar com eleições antecipadas. “Há determinados instrumentos de governação que, se a extrema-esquerda faltar, a direita pode viabilizar, com uma condição: o PS reconhecer que perdeu a maioria que sustentava o Governo e convocar eleições”, disse.

A ideia é abrir o partido a todos, numa perspetiva de inclusão, crescendo eleitoralmente como primeira opção do centro-direita e não como segunda opção (atrás do PSD).

Nuno Magalhães

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Nuno Magalhães, ao centro, na qualidade de líder parlamentar é vice-presidente por inerência

É o homem forte do CDS no Parlamento. Deputado desde 2005, começou a sua carreira parlamentar como assessor do grupo parlamentar, chegando depois a líder da bancada. Eleito líder parlamentar na legislatura passada, quando o CDS esteve no Governo com o PSD, voltou a ser reconduzido no cargo na altura legislatura, já com o CDS na oposição, ocupando assim uma das posições mais institucionais do partido.

Tendo desenvolvido uma relação estreita com a bancada parlamentar do PSD, nomeadamente com Luís Montenegro, Nuno Magalhães defende que o PSD é o parceiro natural dos centristas e que é com o PSD que o CDS deve manter “uma relação preferencial”, como disse este sábado à chegada ao congresso em Gondomar.

Numa altura em que as vozes no CDS se levantam para pedir autonomia face ao PSD, Magalhães é dos que mais fala em “articulação”. “Acho que os portugueses perceberiam mal se nós não tivéssemos, mais uma vez, sentido de Estado e sentido de país para apresentar uma alternativa conjunta. A forma é uma questão a ver”, chegou a dizer numa entrevista ao jornal Oje, em dezembro. Apoia Assunção Cristas e diz que quer ver o partido a falar mais para o exterior.