A Galp Energia reajustou o plano de investimentos ao ambiente “desafiante” que a industria petrolífera atravessa. A petrolífera portuguesa apresentou esta terça-feira um plano de investimentos de cinco a seis mil milhões de euros até 2020, um valor que é inferior em 15% ao previsto na estratégia anterior.

A empresa prevê investir 1.000 a 1.200 milhões de euros por ano, num plano que admite um cenário do petróleo barato quem mantém o preço médio de 45 dólares por barril até 2020. O cenário base aposta contudo na recuperação das cotações até atingir os 70 dólares por barril no final da década, o que representa já uma redução face ao preço estimado no plano anterior que antecipava o barril a 80 dólares em 2019.

Para este ano, a Galp antecipa a um preço médio de 35 dólares por barril. Valor que subirá para 45 dólares em 2017, 55 dólares no ano seguinte, 65 dólares em 2019, até atingir os 70 dólares por barril em 2020. Os pressupostos partem ainda de uma cotação estável do euro face ao dólar.

Sobre a previsão de 35 dólares por barril para 2016, o administrador financeiro, espera que esteja errada, mas Filipe Silva realça que a Galp está mesmos exposta ao risco da cotação do petróleo, devido ao seu portfólio diversificado de operações que permite “mitigar o efeito”. A petrolífera reviu em alta as margens de refinação para os próximos cinco anos.

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Os números foram apresentados no dia do investidor que se realizou em Londres perante uma plateia de cerca de 100 analistas e representantes do bancos e casas de investimento. O interesse crescente pela companhia portuguesa é também explicado pelo facto da Shell, um dos pesos pesados da bolsa inglesa, ser agora parceira da Galp nas operações de produção no Brasil, depois de adquirir a BG.

Galp pode voltar a cortar no investimento

A redução do investimento anunciada resulta de dois fatores: um menor esforço de capital obtido através de ganhos de eficiência e o ajustamento feito a projetos já aprovados. Um dos pontos que mais pesou nesta redução foi a forte queda dos custos de exploração, uma consequência da desvalorização do petróleo e da travagem de alguns projetos. Um dos exemplos dados é a diminuição do custo de uma sonda para perfuração que baixou de um milhão de dólares por dia para 500 mil a 600 mil dólares.

Mas o plano é flexível e pode haver mais reduções no investimento previsto nos projetos ainda não aprovados, assinalou Filipe Silva, administrador financeiro da Galp. “Vamos ser muito disciplinados na exploração”, até obter um retorno positivo (free cash-flow) na produção. A expectativa é que isso aconteça no Brasil em 2017 e no resto dos projetos de investimento em 2018.

Apesar desta revisão do investimento, a Galp mantém a prioridade no desenvolvimento da exploração e produção, área que irá absorver 85% dos valores anunciados. O investimento deve atingir o pico já este ano no Brasil e Angola, os dois palcos de produção onde está envolvida a empresa portuguesa. A produção de petróleo vai crescer 25% a 30% por ano, em linha com a previsão anterior.

Em Moçambique, o consórcio da Galp, liderado pela Eni, está na fase final de acerto das condições com as autoridades do país para dar luz verde ao desenvolvimento da produção de gás natural. Este é um projeto que exige uma maior otimização de custos, reconheceu Filipe Silva.

Já o presidente executivo destacou a resistência dos projetos da Galp à queda das cotações do petróleo, numa apresentação feita aos investidores em Londres. Segundo Carlos Gomes da Silva, os projetos em desenvolvimento são viáveis mesmo com o petróleo abaixo dos 30 dólares, margem que, admite, pode ainda vir a descer mais.

Apesar da incerteza que envolve o mercado do petróleo, Gomes da Silva deixou a nota: a procura global de energia vai continuar a crescer, independentemente do mix de combustíveis. A Galp acredita que o petróleo vai continuar a representar um papel central nessa procura, bem como aposta no crescimento do gás natural.

O plano estratégico para 2020 aposta ainda na manutenção da política de dividendos que prevê distribuir 50 cêntimos por ação nos resultados de 2016, a pagar no ano seguinte. O dividendo proposto para este ano, e relativo aos lucros de 2015, é de 41 cêntimos por ação.

A jornalista viajou para Londres a convite da Galp.