Acordar à pressa. Tomar banho à pressa. Comer à pressa, quando dá tempo. Ir para o trabalho à pressa. Almoçar à pressa, às vezes mesmo à frente do computador. Sair do trabalho à pressa. Buzinar no trânsito porque tem pressa de chegar a casa (onde ainda há tanta coisa para fazer). Cozinhar à pressa. Lavar a loiça à pressa. Deitar os miúdos à pressa. Ir para a cama à pressa. Fazer sexo à pressa, porque é tarde e no outro dia há que acordar cedo… e à pressa.

No ritmo de vida acelerado em que vivemos, como é que fica a última parte do dia antes de dormir? Por outras palavras: com tanta pressa, será que se faz alguma coisa — incluindo sexo — como deve ser? Tal como diz a sexóloga Vânia Beliz ao Observador, há muitos fãs de rapidinhas que gostam de “gozar de um orgasmo rápido e intenso numa sessão de sexo fugaz”. No entanto, isso não significa que todas as sessões de sexo tenham de ser tão curtas como se alguém estivesse com pressa para ir apanhar o comboio.

Segundo um estudo feito pela Universidade do Kentucky a mais de 14.400 pessoas de ambos os sexos, solteiras e comprometidas, a vontade geral é que o sexo dure mais tempo. E essa vontade não é exclusivamente feminina ou masculina. Como escreve a Fusion, tanto os homens como as mulheres ouvidos no estudo disseram que as suas relações sexuais demoravam em média dez minutos, sendo que os homens admitiram que gostariam que durassem o dobro e as mulheres entre 15 a 20 minutos, ou mais.

Mas será que existe uma duração desejável para o ato sexual?

O tempo ideal deve ser aquele que satisfaça os intervenientes, sejam dez minutos ou uma hora”, diz a sexóloga Vânia Beliz, acrescentando: “Existe um tempo ideal para cozer o arroz, a massa ou um bolo, mas para fazer sexo ele depende de muitas variáveis, como a predisposição ou a situação.”

A questão tem sido colocada várias vezes e tem dado origem a respostas não muito diferentes. Um estudo feito em 2008 pela Penn State University, por exemplo, concluiu que o tempo de uma relação sexual “desejável” é de aproximadamente 13 minutos, o que vem de encontro a um outro estudo feito pela Cosmopolitan a 2.500 mulheres que descobriu que, idealmente, elas gostariam que o sexo durasse mais do que 10 minutos (sendo a resposta mais comum entre os 15 e os 20).

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As mulheres são quem mais beneficia de sessões de sexo mais duradouras. Vânia Beliz explica: “Para chegar ao orgasmo, normalmente as mulheres precisam do triplo do tempo dos homens”. E aqui é importante referir que existem “algumas estratégias para preparar o terreno”, como diz a sexóloga, tais como “mais preliminares, mais estimulação e chegar à penetração só mesmo na fase em que a mulher estiver quase [a atingir o orgasmo] e também quase sempre com estimulação adicional na estrutura clitoriana”. Isto porque quando não há estimulação no clitóris, a maior parte das mulheres pode estar horas no coito sem atingir o clímax.

Quando os ponteiros levam ao fingimento

Outra das descobertas de Kristen Mark, autora do estudo da Universidade do Kentucky citado no início, é que o facto de o tempo da relação sexual não ser o desejado pode levar homens e mulheres a fingirem orgasmos — na investigação, isso foi reportado por 55 por cento das mulheres e por 30,7 por cento dos homens.

Vânia Beliz concorda mas desafia os casais a investirem na comunicação, incentivando ainda as mulheres “a não temerem que lhes seja dado o avanço necessário”. “O orgasmo não é uma meta exclusiva”, lembra a sexóloga, pelo que é possível haver prazer e gratificação sem uma explosão. No entanto, fingir não é, de todo, o caminho. “Se não nos apetece [ter sexo], então mais vale usufruirmos do prazer do nosso parceiro. Dar-lhe prazer, estimulá-lo até ao orgasmo, por exemplo, observá-lo a chegar lá e sermos espectadoras do seu prazer. Por que raio temos de gritar e chegar ao prazer ao mesmo tempo?”, questiona a sexóloga.

Para os casais que estão fartos de não ter tempo e que querem apostar “numa noite de amor com direito a muito carinho, massagens e jogos que permitem prolongar o prazer”, ou seja, para os casais que querem chegar pelo menos aos almejados 20 minutos, Vânia aconselha a ter uma boa preparação. “Começar por excitar a mulher pode ser uma forma de preparar o terreno para uma viagem mais longa”, além de poderem recorrer a cremes ou preservativos retardantes. Outra opção poderá ser evitar as posições que aumentam a excitação masculina, como as que têm acesso visual facilitado, já que “os homens são muito visuais”.

Como lembra a sexóloga, “no fim o que importa é que dê prazer a quem lá está. O resto é só mais uma castração da nossa intimidade, que é única para cada um.”