Pedro da Silva Martins, 39 anos, guitarrista dos Deolinda

Os fãs mais atentos do guitarrista, compositor e letrista do grupo musical Deolinda já terão uma noção de como foi o arranque do artista nesta viagem única de ser pai. Há menos de um ano, Pedro da Silva Martins e Ana Leonor Tenreiro lançaram o livro Porque Chora o Rei, em homenagem ao filho que nasceu em setembro de 2013. O livro pode ter surgido em tom de desabafo do tanto a que a paternidade obriga, mas ainda há coisas por contar.

O impacto de quando soubemos que íamos ser pais foi impressionante. Eu era uma pessoa muito alheada da realidade, então, fui logo sacar uma aplicação para o telemóvel para perceber qual o tempo de gestação. Mais, inscrevi-me em fóruns de grávidas”, admite o músico divertido. “Acho que era o único rapaz que lá estava. Queria perceber tudo. Não comentava nada, mas ficava a assistir às dúvidas dos outros. Até criei um perfil falso de uma senhora para me sentir à vontade caso quisesse colocar alguma questão.”

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Pedro da Silva Martins e Ana Leonor Tenreiro / Sebastião Almeida/Observador

As memórias de Pedro da Silva Martins não se ficam por aqui. Sem que seja preciso perguntar alguma coisa, é ele quem relata que no dia do parto estava num concerto em Góis, mais precisamente numa concentração de motos. “Fui ao concerto e ainda consegui assistir ao parto. Mas… podia ter faltado por causa de uma concentração de motos. Como é que eu, um dia, ia explicar isso ao meu filho?”, atira, entre risos. Nascido o bebé, o homem habituado a dar música a desconhecidos admite que os primeiros momentos foram “terríveis”. “Ninguém sabe ao que vai. E ter uma criatura tão exigente e, ao mesmo tempo, tão amorosa, que nos suga o tempo e a disponibilidade… Nós não temos essa preparação antes.” É talvez por isso que compara o filho a um pequeno general ou ditador que, apesar da muito tenra idade, é capaz de mudar as regras e impor todo um novo estilo de vida lá em casa, o que depois dos 3o anos já custa mais um pouco:

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Tem um lado maravilhoso, de nos proporcionar momentos e perspetivas incríveis, é o mais fascinante. Depois, sentimos que temos uma pessoa que depende de nós em tudo. Isso é um pouco assustador, mas é tão bonito. Podemos ter ali alguém que vai achar piada às nossas piadas, por mais tristes e desesperadas que possam ser. Com o tempo, as crianças tornam-se nos nossos melhores amigos e não pedem nada em troca, só algum carinho e atenção.”

Joaquim Albergaria, 35 anos, vocalista e baterista da banda PAUS

A única filha do artista já leva quatro anos de vida, mas nem por isso Joaquim Albergaria deixa passar em branco os primeiros dias da bebé lá em casa. Antes de chegar às peripécias que o deliciam, o baterista e vocalista de barba farta admite que só se apercebeu de que era pai quando uma pequena e chorosa Glória chegou aos seus braços. “A preparação dos nove meses [de gestação] é uma coisa que fazes em casal, porque estamos grávidos. A cena de ser pai bate quando tens a filha ao colo.” Bateu tanto que o músico ainda se recorda que, ao início, os cheiros em casa eram diferentes. Mas não foi só o olfato que sofreu alterações, o mesmo aconteceu com os hábitos e rotinas do casal:

O eixo gravitacional passa a ser à volta dela, de quando é que ela precisa de comer e/ou de dormir. Depois, é uma coisa meio zombie“, conta, divertido. Tens a mãe que está a recuperar do parto, que acorda de três em três horas para dar de mamar, e tu és um satélite zombie que gira à volta da relação que aquelas duas têm.”

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Álvaro Isidoro / Global Imagens

Mesmo prestando atenção, Quim não deixou de se surpreender com a maravilha do crescimento. O músico ainda se lembra de acordar e, de um dia para o outro, pensar “a gaja está diferente!”. A admiração foi (e é) tanta que o pai babado admite que uma das suas funções — além de estar eternamente preocupado com todos os passos e passinhos da filha — é gerir a família, no sentido em que, assim que um bebé nasce, “toda a gente quer visitar, tocar e mexer”. Esse é o motivo por que, quando e se tiver um segundo filho, só o vai apresentar quando ele tiver pelo menos um mês de vida.

Para Glória o pai é o Google, alguém que sabe tudo. Foi por isso que, certo dia, ela lhe perguntou uma coisa que Joaquim nunca mais se esqueceu:

Lembro-me de estar a ler uma história para adormecer que continha a noção de infinito. Ela [a Glória] perguntou-me o que isso era e eu respondi: ‘é uma coisa que nunca acaba’. Ela parou para pensar um pouco e perguntou: ‘a nossa família é um infinito pequenino, pai?’. E eu pensei: ‘está bom, não mexe mais!’.”

António Raminhos, 36 anos, humorista

“Achamos sempre que isto vai ser muito fácil mas, de um dia para o outro, dei por mim sentado na sala a ver a bola e, em vez de uma cerveja, tinha um recém-nascido numa mão e um biberão na outra”, começa por dizer António Raminhos ao Observador. O humorista que ficou mais conhecido pelos vídeos As Marias — protagonizados pelas duas filhas, Maria Rita e Maria Inês, de cinco e três anos, respetivamente –, recorda que no começo tudo era motivo de preocupação, do choro e espirros mínimos às cólicas capazes de arrancar lágrimas aos mais pequenos e roubar noites aos graúdos.

Ai, está a chorar! Ai, está a espirrar!”, relembra num tom dramático, muito semelhante ao que terá sentido então. “Depois chegávamos ao médico e ele dizia sempre que era tudo normal. Com a segunda filha fomos mais descontraídos. Se tossia, era normal. Se gatinhava na bosta, era normal…”

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Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

O problema, diz Raminhos, é que o choro é a única forma de comunicar dos bebés — e de alguns adultos, acrescenta –, pelo que não raras vezes dava por si “a mexer nos putos como se fosse o CSI, com luvinhas e tal para não fazer nada de errado”. A sensação de falhar terá sido, com o tempo, posta de parte, uma vez que o humorista admite que quer educar as filhas como se de homens primitivos se tratassem, “de pano no rabo, à procura de comida pela casa”. Se as Marias são ou não pequenas versões femininas de Rambo, o certo é que o pai está convicto de que as duas seriam uma força antiterrorista imbatível: “As duas ficam noites sem dormir, às vezes parece que é por turnos. Parece que as gajas combinam para um gajo não dormir. Seriam ótimas em Guantánamo [prisão norte-americana], porque não iam deixar os prisioneiros dormir e eles, logo no dia a seguir, contavam tudo.”

Mas até Raminhos, que tanto nos habitou ao seu discurso e expressões faciais irónicas, sabe ter um momento sério:

Isto de ser pai pela primeira vez é pôr os braços ao alto e ter muita paciência. Ser pai é provavelmente a pior e a melhor coisa. A melhor porque isto é um amor inquestionável; a pior porque passas a ter medo de tudo o que possa acontecer. Mas só tenho um objetivo: que elas sejam cools e que se divirtam, façam o que fizerem.”

Refira-se ainda que a caminho está uma terceira filha, que se vai chamar Maria Leonor, e um espetáculo ao vivo inspirado nos vídeos que celebrizaram o humorista e que chega, nem de propósito, este sábado (Dia do Pai) ao Casino da Póvoa de Varzim.