Paulo Portas afirmou este domingo que o Ocidente e a Europa, em particular, “agiram sem qualquer realismo” na gestão da crise síria, ao insistirem numa política de vetos à Rússia e entregando armas à oposição que tenta derrubar o regime do Presidente sírio Bashar al-Assad.

O antigo vice-primeiro-ministro participava na qualidade de convidado no Le Forum De Crans Montana Dakhla – o maior que se realiza em África e que juntou mais de mil decisores africanos e de outros continentes -, quando questionou a estratégia seguida pela Europa na gestão do conflito sírio.

“Há dois anos que o Mundo sabe que o Presidente Obama não porá ‘boots on the ground’ [tropas no terreno]”, começou por dizer o ex-líder do CDS. Ou seja, sem uma participação militar e efetiva dos Estados Unidos, continuou Paulo Portas, “não há qualquer solução militar viável”.

Chegados aqui, argumenta o centrista, “só há soluções políticas” para resolver a questão síria. Soluções, essas, que devem ser tratadas no quadro do “conselho de segurança das Nações Unidas” e que “implicam o acordo da Rússia”. Mas a Europa falhou em perceber esta realidade.

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“O Ocidente devia ter percebido muito mais cedo que a única esperança para o fim daquela tragédia era precisamente esse compromisso com a Rússia. [Um compromisso] que é incompatível com vetos a este ou aquele país na mesa das negociações. Realisticamente não há outro caminho”, reiterou Paulo Portas.

Mas a estratégia de alguns países europeus foi outra, denunciou o centrista. “Em vez desse realismo, alguns países europeus empenharam-se em fornecer armamento a oposição Síria. Ora, também sabemos há demasiado tempo que a oposição Síria é heteróclita e está perigosamente infiltrada por grupos fundamentalistas. Mais de 200 grupos dessa oposição estão identificados no terreno como tendo ligações a franchises do terrorismo islâmico”, argumentou o ex-vice-primeiro-ministro.

Dar armamento a estes grupos, insistiu Paulo Portas, “é como pôr o fuzil na mão de quem no dia seguinte liquidará os cristãos ou os judeus ou os alauitas ou simplesmente os moderados islâmicos”.

A terminar, o histórico líder centrista lembrou que “as falhas de política externa têm consequências”. E “enquanto a Europa enquistava a sua relação com a Rússia nos temas da Ucrânia e da Síria – com a Rússia como player obrigatório – a Síria transformava-se num inferno para os seus habitantes e exportava uma crise sem precedentes para a Europa”.