Cerca de 1,8 mil milhões de pessoas em todo o mundo podem estar a beber água contaminada com fezes, mesmo quando esta provém de fontes melhoradas, alerta esta segunda-feira a UNICEF, a propósito do Dia Mundial da Água.

Num comunicado divulgado na véspera do Dia Mundial da Água, que se assinala na terça-feira, a agência da ONU para a Infância recorda que em 2015, ano em que terminou a era dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), 663 milhões de pessoas em todo o mundo continuavam a não ter água potável de fontes melhoradas, que visam evitar o contacto da água com dejetos humanos e outros poluentes.

No entanto, alerta a UNICEF, mesmo as pessoas que têm acesso a estas fontes melhoradas não estão a salvo da contaminação.

Com efeito, segundo estudos realizados com uma tecnologia recente citados pela agência sediada em Nova Iorque, “um total estimado de 1,8 mil milhões de pessoas podem estar a beber água contaminada pela bactéria e-coli — o que significa que existe matéria fecal na água que consomem, mesmo quando esta provém de fontes melhoradas”.

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“Agora que podemos analisar a água de uma forma menos dispendiosa e mais eficaz do que na altura em que foram definidos os ODM, estamos a perceber a verdadeira magnitude dos desafios que o mundo enfrenta no que diz respeito a água limpa”, afirmou Sanjay Wijeserkera, chefe dos programas globais de água, saneamento e higiene da UNICEF, citado no comunicado.

Para o responsável, ao definir os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em setembro do ano passado, a comunidade internacional não está a começar no ponto em que os ODM terminaram. “Trata-se de um desafio totalmente novo”.

Segundo a UNICEF, uma das principais causas para a contaminação fecal da água é o saneamento precário, que afeta 2,4 mil milhões de pessoas em todo o mundo.

Quase mil milhões de pessoas, acrescenta ainda a organização, praticam defecação ao ar livre, “o que significa que em muitos países e comunidades as fezes podem infiltrar-se de tal modo que mesmo as fontes de água melhoradas podem ficar contaminadas”.

O problema tende ainda a agravar-se com as alterações climáticas, avisa o comunicado da UNICEF, lembrando que nos períodos de seca as populações recorrem à água de superfície que não é segura, enquanto as cheias causam danos nas infraestruturas de água e saneamento, fazendo aumentar doenças como a cólera e a diarreia.

As temperaturas mais elevadas também podem estar associadas a um aumento da incidência de doenças como a malária, o dengue ou o Zika, porque que as populações de mosquitos aumentam e expandem o seu âmbito geográfico.

A UNICEF afirma que os mais vulneráveis são as cerca de 160 milhões de crianças menores de cinco anos que vivem em zonas de elevado risco de seca.

Para assinalar o Dia Mundial da Água, a agência da ONU lança na terça-feira uma campanha no Instagram que visa alertar para o impacto das alterações climáticas nas crianças e apelar à participação de todos.