Os trabalhadores dos correios iniciaram esta segunda-feira uma greve de 24 horas, convocada para exigir aumentos salariais, por um dos principais sindicatos do setor, que afirma haver grande adesão, embora a empresa desvalorize.

A greve começou às 00:00 e a maioria dos trabalhadores da noite nos CTT de Cabo Ruivo, em Lisboa, aderiu, confirmou um sindicalista no local à Lusa.

No centro de tratamento e logística de Cabo Ruivo, um piquete de greve juntou alguns trabalhadores e sindicalistas, um deles o secretário-geral da central CGTP, Arménio Carlos, que foi manifestar solidariedade.

Porém, a saída de camiões conduzidos por trabalhadores que não aderiram à greve decorreu com normalidade, como verificou a Lusa no local.

O representante do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações, Vitor Narciso, explicou à Lusa que a greve se deve à proposta “irrisória” de aumentos, feita pela administração, que esta organização recusa, embora tenha sido aceite pelos restantes dez sindicatos representantes de trabalhadores dos CTT.

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“Estivemos desde 2010 sem aumentos, no ano passado tivemos uma espécie de aumento e este ano pensávamos – e pensamos -, que íamos recuperar algum poder de compra perdido”, explicou.

Vítor Narciso acrescentou ainda: “A empresa disse que não estava disponível para aumentos e, depois, apresentou uma proposta de 1,3 por cento e, estranhamente, os outros sindicatos aceitaram. Não podemos aceitar e daí a greve de hoje. E não só, porque a luta vai continuar e não está posta de parte voltar a haver nova greve em abril”.

O sindicalista estranhou a relutância da empresa em dar um maior aumento, já que os CTT são uma empresa “altamente lucrativa”, que dá “milhões de euros de lucro”, e reserva para prémios muito mais do que para os “aumentos de miséria”. “Os trabalhadores não vivem de prémios”, disse.

Vítor Narciso prevê, para esta segunda-feira, uma “boa greve” na parte da distribuição e nas centrais de tratamento, e menos boa nos balcões.

O diretor de recursos humanos dos CTT, António Marques, prevê que a greve não se faça sentir junto da população. Também à Lusa explicou que, na sexta-feira, a empresa se preparou para minimizar os efeitos da greve, fazendo “avanços aos centros de distribuição postal”.

“A nossa expectativa é que a greve não se faça sentir, ou se faça sentir muito pouco”, disse, acrescentando que espera que todas as lojas estejam abertas durante esta segunda-feira. O responsável explicou também que será dada prioridade à distribuição de correio “de caráter social”, como vales de correio, assim como a outro “correio prioritário”.

“Mas a maioria dos nossos clientes e a população em geral não sentirá os efeitos da greve”, reforçou.

Na primeira hora, em Cabo Ruivo, por onde passam milhões de cartas diariamente, a expectativa dos sindicalistas era de uma grande adesão.

À Lusa, Arménio Carlos disse que é fundamental para o desenvolvimento da economia que haja uma “mais justa distribuição da riqueza”, com um aumento de salários, algo que a empresa pode fazer, em vez de “uma proposta que não valoriza a imagem” dos CTT. “Esta empresa tem condições objetivas para evoluir na proposta [salarial] como tem de dar exemplo de combate ao que tem a ver com desigualdades na grelhas salariais”, disse o responsável, salientando que a valorização salarial não passa por prémio mas por atualização do valor dos salários.

O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações é o mais representativo dos trabalhadores da empresa. Alguns desses trabalhadores estão esta noite junto do local de saída de camiões e a avaliar a adesão no arranque da greve.