Htin Kyaw é, desde esta quarta-feira, o primeiro presidente civil de Myanmar, ex-Birmânia, em mais de 50 anos. Aos 69 anos, o novo presidente discursou numa cerimónia emotiva vestido com a camisola laranja do partido que representa, a Liga Nacional para a Democracia:

O nosso Governo vai implementar a reconciliação nacional, a paz no país e fazer emergir uma constituição que cimente o caminho para uma união democrática e que melhore o nível de vida das pessoas”, disse, citado pelo The Guardian.

O novo presidente — que rompe assim com mais de meio século de ditadura militar em Myanmar, derivada do golpe de Estado de 1962 — é um amigo próximo de Aung San Suu Kyi, tendo sido escolhido a dedo pela ativista política laureada com o prémio Nobel da Paz em 1991. San Suu, já considerada a mulher de ferro daquele país, criou a Liga Nacional para a Democracia (LND) no final da década de 1980, o partido que em novembro último, aquando do primeiro sufrágio livre em mais de 25 anos, obteve 80% dos votos.

A maioria a favor do LND seria suficiente para que o próximo Governo fosse liderado por San Suu, escrevia o Observador no início de fevereiro, no entanto, ela está legalmente impedida de assumir o cargo. A atual Constituição (alterada quase à medida) não permite que San Suu Kyi assuma a presidência porque tem filhos de nacionalidade estrangeira — foi casada com um britânico, falecido em 1999 vítima de cancro –, uma cláusula que os líderes militares incluíram na Constituição em 2008.

Também de acordo com a Constituição, o exército manterá 25% dos assentos parlamentares, tendo, assim, o direito de veto sobre alterações constitucionais. Já Suu Kyi poderá assumir a liderança de três ministérios no novo governo de Myanmar: Negócios Estrangeiros, Educação e Energia, sendo que também terá a cargo a pasta do gabinete do Presidente.

Htin Kyaw, fiel conselheiro de Suu Kyi, que chegou a servir-lhe como uma espécie de motorista, foi eleito pelo Parlamento a 15 de março, sendo que o novo Governo toma posse no próximo dia 1 de abril. Sucede assim a Thein Sein, ex-general que estava no poder desde 2011.

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