Um líder com um prazo, com uma estratégia por afinar e com uma necessidade urgente de renovar a direção do partido, atiram os críticos. Está “isolado”, vão dizendo à boca pequena no PSD. Pedro Passos Coelho prepara-se para enfrentar o congresso de Espinho deste fim-de-semana reforçado com o voto de 95% de militantes que o reelegeram como líder. Ao mesmo tempo, o presidente social-democrata vê os críticos a aumentarem o tom e a passarem uma mensagem clara: os próximos dois anos pertencem a Passos; depois, logo se verá.

É isso que diz José Eduardo Martins, ex-deputado, barrosista e crítico assumido da atual direção. Foi isso que deixou em aberto Nuno Morais Sarmento, não afastando, no futuro, uma eventual candidatura à liderança do partido. E ainda há Pedro Duarte, antigo líder da JSD e ex-diretor de campanha de Marcelo. Ou Rui Rio, há muito um nome apontado para suceder a Passos. Ele, que decidiu não ir a Espinho para “não perturbar” o congresso e para não se “tornar uma peça central” do evento, como disse numa entrevista à TSF, jantou na véspera com mais de 200 militantes da concelhia do PSD Porto.

As peças vão-se movendo no tabuleiro social-democrata. Na SIC, Luís Marques Mendes traçou um cenário delicado para o presidente do PSD. Pedro Passos Coelho “corre um risco enorme de andar a ser permanentemente queimado em lume brando”, admitiu o comentador e ex-líder social-democrata.

José Eduardo Martins não vai por aí e afasta-se de lutas fratricidas. O ex-secretário de Estado do Ambiente garante que não vai a Espinho cavar trincheiras. Se Passos foi reeleito com 95%, então “o partido deve ajudá-lo a cumprir esse mandato” e avançar unido para a primeira batalha – as autárquicas. “Sem medos” e “com bons candidatos”. Para já, não será ele a afirmar-se como challenger, repete. Este social-democrata que esteve nas direções de Passos na JSD, lembra que não “há gente suficiente” a pensar como ele no partido para construir uma alternativa e uma candidatura sólidas.

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Em 2017, porém, far-se-ão outras contas. “Daqui a dois anos, se esse cenário que descreve existir [o Governo socialista sobrevive para lá dos dois anos de mandato de Passos], aí haverá um novo congresso e será altura para se fazer um balanço do desempenho do partido na oposição” e nessas mesmas eleições autárquicas, admite ao Observador.

Na Antena 1, Nuno Morais Sarmento admitiu o mesmo. Passos é o “líder ideal”. Por agora. Mas se o Governo socialista sobreviver para lá do prazo previsto (2017), dificilmente Passos Coelho “poderá ser candidato a primeiro-ministro”, atirou Morais Sarmento. Contactado pelo Observador, o ex-ministro de Durão Barroso e Santana Lopes preferiu não acrescentar uma vírgula. Mas as regras parecem ser claras. Ou cai o Governo ou Passos tem sair.

No horizonte imediato, a atual direção tem pelo menos dois desafios: vencer as autárquicas, como pedem os autarcas social-democratas, e acertar de vez a estratégia.

José Eduardo Martins vai ao congresso defender isso mesmo, garante ao Observador. Vai a Espinho dizer que o partido perdeu, nos últimos meses, “densidade de discurso” que urge recuperar e que o PSD deve voltar-se “definitivamente para o futuro depois de ter sido surpreendido” pelos arranjos parlamentares pós-eleitorais. É tempo de deixar o estado de “atordoamento” e “amargura” em que mergulhou.

Foi isso que pediu também Paulo Rangel, em entrevista ao Público. O eurodeputado, que em 2010 foi derrotado por Passos na corrida à liderança do partido, defendeu que já está na hora de o PSD “fazer oposição mais forte” ao Governo socialista. O partido precisa de se “reinventar”, diz Rangel.

Marques Mendes, que liderou o PSD na oposição a José Sócrates, diz ao Observador que Passos precisa de sair de Espinho com “uma equipa, uma agenda e iniciativas renovadas” e “aproveitar o Congresso para mudar de vida”. Ou as contas complicam-se.

E complicam-se porque os críticos da atual direção não se escusam a apontar o dedo à estratégia de Passos. Rui Rio fê-lo na entrevista à TSF, censurando as declarações do ex-primeiro-ministro sobre a intervenção de António Costa na banca. O ex-autarca pôs-se ao lado do socialista no caso BPI-Isabel dos Santos, como já antes o tinham feito Eduardo Catroga e Marcelo Rebelo de Sousa (o Presidente considerou natural a posição do Governo). Pacheco Pereira, crítico assumidíssimo desta direção, acabaria por notar o isolamento de Passos nas críticas a Costa. Marcelo, diz Pacheco Pereira, deu “uma sonora estalada” a Passos Coelho.

Com Marcelo a ditar o ritmo em Belém, com o CDS a adotar uma estratégia própria, com os críticos a tornarem-se cada vez mais audíveis, muito se tem dito e escrito sobre Passos ser por esta altura um líder com pouca companhia para além dos seu núcleo duro. Ao Observador, José Eduardo Martins admite que essa tese tem “sido alimentada à boca pequena no PSD” e que “serve bem a estratégia dos adversários” do partido. “Mas essa é uma característica do partido que não vale a pena explorar”, desvaloriza. A terminar, deixa uma pergunta: “Como é que um líder que foi reeleito com 95% dos votos pode estar isolado?”. Os próximos tempos dirão se há mesmo alguém disposto a ser consequente e a correr em pista própria para suceder a Passos Coelho, ou se este volta a ser primeiro-ministro.