O grupo islamita Boko Haram raptou, no final de 2014, 500 mulheres e crianças em Damasak, no nordeste da Nigéria, mas as autoridades ignoraram o incidente, afirmaram residentes. Este rapto ocorreu a 24 de novembro de 2014, explicaram na quarta-feira à agência noticiosa France Presse (AFP) locais de Damasak.

Em março do ano passado, o governo nigeriano, sob a presidência de Goodluck Jonathan, um senador local e uma fonte da segurança desmentiram as informações sobre este rapto.

Os testemunhos dos residentes à AFP confirmaram as informações de um relatório da organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), publicado na terça-feira.

“Mantemos o silêncio sobre o rapto por medo de provocar a fúria do governo, que já estava a lidar com o rapto das alunas de Chibok”, afirmou um funcionário local à AFP, que pediu o anonimato. “Todos os pais tiveram medo de falar”, acrescentou o funcionário, cujo filho de sete anos foi raptado. Os políticos, alertados pelos residentes que fugiram de Damasak, “nada disseram e ignoraram-nos”, insistiu.

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O rapto de 276 alunas em abril de 2014 em Chibok, no nordeste da Nigéria – berço do Boko Haram, que se juntou ao grupo extremista Estado Islâmico (EI) – desencadeou uma onda de indignação mundial.

Em Damasak, os islamitas “foram às escolas privadas e corânicas e raptaram as crianças, mesmo as de cinco anos”, testemunhou um chefe local, que pediu o anonimato. “Eles tiraram as crianças às mães na localidade. Os meus 16 sobrinhos foram levados, tinham entre cinco e 16 anos”, declarou, tendo ainda acrescentado ter voltado ao local para enterrar “mais de 200 pessoas em valas comuns”.

“Três centenas de crianças foram dadas como desaparecidas há mais de um ano e o governo nigeriano continua sem reagir”, denunciou a norte-americana Humans Rights Watch. “As autoridades têm que acordar e tomar medidas para os libertar”.

De acordo com vários residentes, o governo abafou deliberadamente o rapto de Damasak.

Controlada pelo Boko Haram, a localidade foi libertada a 9 de março de 2015 pelas tropas chadianas e nigerianas, que encontraram no local uma centena de corpos numa vala comum, sob uma ponte à saída de Damasak. Alguns corpos tinham sido decapitados, outros estavam crivados de balas.

No mês seguinte, dezenas de outros corpos foram encontrados nas ruas e casas de Damask.