Diz o senso comum, e a experiência coletiva, que noites mal dormidas são meio caminho andado para manhãs dolorosas, em que o humor está na mó de baixo e sujeito à irritabilidade que desponta pelas mais pequenas coisas: seja porque as cápsulas de café chegaram ao fim (sem aviso prévio) ou o rolo de papel higiénico voltou a desaparecer como que por magia. E uma vez de volta a cama, há uma grande probabilidade de o sono demorar a chegar.

Pois bem, escreve a Quartz que esta é uma situação que desperta tantas dúvidas como a eterna questão do ovo e da galinha: afinal, o que vem primeiro? Viremo-nos para a ciência em busca de ajuda: um estudo de 2015, que envolveu a participação de dois mil adultos e publicado no British Journal of Health Psychology, examinou a relação entre a capacidade de uma pessoa em regular as suas emoções e o desenvolvimento de insónia ao longo do tempo.

No começo do estudo, a dita capacidade dos participantes — de regular as emoções — parecia não ter qualquer efeito nos seus padrões de sono. A coisa mudou passados seis e 18 meses, com a pesquisa a descobrir que as pessoas que eram menos capazes de gerir emoções tinham maior probabilidade de serem “vítimas” de insónia persistente — isto aconteceu até com pessoas que começaram a investigação sem quaisquer problemas de sono.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A sugestão é, então, a seguinte: a instabilidade emocional pode ser parcialmente responsável por estados de insónia. “É muito mais complexo do que apenas uma simples causa — provavelmente difere de pessoa para pessoa”, diz Markus Jansson Fröjmark, o principal autor do estudo, citado pela Quartz. É ele quem argumenta que a investigação pela qual é responsável apenas mostra uma ligeira relação entre a gestão disfuncional de emoções e a insónia.

Diz ainda Fröjmark que, ao que parece, quanto mais as pessoas se privarem de dormir, mais vão experienciar emoções negativas. A hipótese em cima da mesa é esta: a maneira como nos sentimos depois de poucas horas de sono pode estar em parte relacionado com o facto de termos tido (ou não) opção de escolha. É que quem sofre de insónia não o pode evitar, sendo que o mesmo não se pode dizer de quem escolhe ficar mais tempo acordado (seja a trabalhar, seja a ver mais um episódio da série preferida).

Outro estudo, encabeçado por investigadores do Tel Aviv Medical Center, em Israel, debruçaram-se sobre 18 pessoas de maneira a perceber como as partes do cérebro que processam a emoção respondem a imagens de teor negativo (corpos mutilados ou cobras) e outras neutras (colheres ou mesas). Analisados os dados, as pessoas que estavam descansadas — isto é, que tinham dormido bem — reagiram de forma normal às imagens em questão; o mesmo não aconteceu considerando quem passou 24 horas sem dormir, uma vez que os seus cérebros perderam a habilidade para distinguir as imagens negativas das neutras, reagindo de forma emocional a ambos os tipos.

Escusado será dizer que os investigadores ficaram surpreendidos com a descoberta, admitindo que a privação de sono fez com que as pessoas reagissem de forma mais emotiva a coisas que deveriam ser consideradas neutras.

Já antes se escreveu que a falta de sono aumenta o apetite por comida doce e salgada rica em gordura e que afeta a produtividade (pelo contrário, uma boa noite de sono ajuda a limpar o cérebro). A isso junta-se, agora, a ideia de que a qualidade do sono estará associada à qualidade da gestão emocional, importante para nos ajudar a recordar que uma colher é apenas uma colher, nada digno de deixar cair lágrimas.