O primeiro-ministro, António Costa, já tinha feito o pedido assim que o Governo iniciou funções: é preciso moderação no discurso e cuidado no uso das redes sociais e dos espaços informais de comunicação. Segundo apurou o Observador, há uma espécie de código de conduta que deve ser seguido por todos os membros do Governo. João Soares recusou seguir as directivas e, depois do incidente em que ofereceu “bofetadas” a dois comentadores no Facebook, demitiu-se esta sexta-feira.

Dentro do Governo, nem todos terão atribuído o mesmo valor ao episódio das “bofetadas”. O ritmo dos acontecimentos foi muito rápido e houve pouco tempo para troca de impressões. Ao longo do dia, houve quem dentro do Executivo tivesse estranhado a hora a que o post de Soares foi publicado no Facebook (às 6h12), quem tivesse desvalorizado, quem nem tivesse voltado a pensar no assunto, de tão ocupado que esteve. Mas houve também membros do Executivo que se recordaram, de imediato, do código de conduta imposto por António Costa.

É que assim que assumiu a chefia do Governo, Costa pediu especial atenção para todas as intervenções públicas. Sobretudo as que são feitas em espaços mais informais, em tom mais coloquial, que dão margem para mal entendidos.

Nessa altura, o primeiro-ministro já tinha lembrado que, apesar de os governantes poderem continuar a exercer a sua liberdade individual, deviam ter em conta que a sua intervenção no espaço público seria sempre entendida como expressão do Governo. E isso António Costa não quer: o Executivo só deve comunicar pelos canais próprios, com uma linguagem adequada.

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“Nem à mesa do café”

Ontem, mal tinha nascido o dia, já João Soares tinha lembrado no Facebook o “par de bofetadas” que tinha prometido em 1999 a Augusto M. Seabra. “Mas continuo a esperar ter essa sorte”, escreveu ainda. “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente, para as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também.”

À tarde, ao Expresso, o ministro fez um comentário irónico por SMS: “Peço desculpa se os assustei”. À noite, a tolerância de António Costa chegou ao limite e lembrou publicamente o código de conduta que já tinha sido pedido internamente: “Já recordei aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo”, disse aos jornalistas, à porta do Teatro da Comuna, em Lisboa.

Pouco depois, chegava à Agência Lusa um comunicado do ministro da Cultura onde escrevia: “A minha intenção não foi ofender. Se ofendi alguém peço desculpa”. Esta manhã, João Soares decidiu sair. “Respeito e aceito a avaliação que fez”, concordou António Costa.