Parado no semáforo, ao cimo da avenida, observo o cartaz com a imagem de uma ilha no oceano sobre a frase, em inglês: “Let’s find some beautiful place to get lost”. Atravesso a rotunda e sigo a pensar como será possível alguém perder-se numa ilha. Afinal por mais voltas que dê, vai encontrar sempre o mar.

Há um lugar assim, a cerca de 1000 quilómetros de Portugal Continental, onde nos podemos refugiar da confusão, do ruído e do stress habituais na vida urbana. Tem inúmeros recantos onde podemos sentir-nos quase como náufragos numa ilha deserta, mas com a certeza de que bastam alguns minutos para chegar ao hotel ou ao restaurante. O Porto Santo ainda é um dos locais turísticos menos desenvolvidos da Europa, mas tem tudo para ser dos mais procurados.

A praia é o cartão-de-visita, uma extensão de areia que se estende por nove quilómetros na costa sul da ilha; larga, ligeiramente inclinada e apoiada por um cordão dunar. Uma longa praia dourada banhada pelo mar azul-turquesa, cortesia dos fundos basálticos. O mar é sempre ameno, com a temperatura oscilar entre os 18º C e os 22º C ao longo de todo o ano. Porto Santo é uma das “7 Maravilhas do Mundo” na categoria de “Praia com Dunas”.

A ilha, guardada por seis ilhéus, tem uma população a rondar os 5.000 habitantes numa área com pouco mais de 12 km de comprimento por seis de largura, com o ponto mais alto situado a 517 metros, no Pico do Facho.

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É o silêncio que dá encanto ao Porto Santo, sobretudo fora dos meses de julho e agosto, a época alta. Em tons bege, com algumas nuances de verde dadas por plantas de aloé vera e pelos catos, a planura despida é interrompida pela meia dúzia de pequenos cones vulcânicos, parecendo miniaturas. Aliás tudo na ilha parece feito à escala, como convém para manter a coerência arquitetónica num lugar com tamanha riqueza natural onde é urgente proteger a biodiversidade e defender o estatuto de resort ecológico.

Evidência disto é a Vila Baleira, a sede do município, com uma pacatez que já levou jornalistas de viagens a citá-la como a “capital sonolenta”, tal o sossego e acalmia que ali se faz sentir.

Se a ilha da Madeira é conhecida como a “Pérola do Atlântico”, a ilha do Porto Santo bem pode ser considerada um diamante em bruto.

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Hoje os hotéis ainda não chegam à dezena e até há pouco tempo havia menos de 20 táxis. Sendo uma ilha tão pequena, onde apenas se produzem algumas frutas, vinho e muitos coelhos, surpreende que o Porto Santo tenha tantos restaurantes. Com ambientes distintos e preços acessíveis, todos oferecem peixe fresco e marisco como prato principal. Enfim, o coelho foi levado para a ilha há séculos e, apesar da sua famosa capacidade de reprodução, só há poucos anos passou a ser considerado uma iguaria pela gastronomia local.

Se não quer passar todo o seu tempo deitado na praia, em modo dolce fare niente, pode simplesmente caminhar pelo areal até à Ponta da Calheta, lugar de rara beleza para apreciadores de paisagens marítimas. Em vários locais há trilhos assinalados e devidamente preparados para caminhadas à descoberta da ilha. As conhecidas veredas, como a do “Pico Branco e Terra Chã” ou a do “Pico do Castelo” podem ser percorridas a pé em pouco mais de duas horas, proporcionando belas paisagens e o contacto com a fauna e flora nativas da ilha.

Num local tão pequeno é fácil pensar que vamos a pé a todo o lado, mas há casos em que o passeio sobre rodas pode ser a solução para quem tem menos tempo. De moto ou jipe, existem várias opções para dar a volta à ilha em pouco tempo, passando pelos principais locais de interesse. Também pode recorrer ao centro hípico, mesmo que não seja experiente, para um inspirador passeio a cavalo, acompanhado por um guia.

Se é amante da atividade física, uma das atrações a não perder é andar de bicicleta, nomeadamente pela ciclovia e passear pela ilha durante todo o dia. Sendo uma terra na sua maioria plana, é exposta aos ventos e ainda hoje encontram-se por toda a ilha os pitorescos e tradicionais moinhos de vento.

Um mergulho em mar aberto, a pesca desportiva, os voos de parapente e asa-delta, além do golfe, completam um vasto leque de opções para quem não quer ficar todo o dia na areia quente e fina, com conhecidas propriedades terapêuticas. Há décadas que os turistas envolvem o corpo na areia dourada, ficando ali ao sol como se fossem panados, a sentir os efeitos benéficos para o aparelho esquelético-motor. É por isso que a praia do Porto Santo se afirma também, cada vez mais, como um destino de saúde, uma espécie de SPA a céu aberto.

Um cheiro a história

É possível visitar a casa onde terá vivido Cristóvão Colombo, construída no século XV. Teses apontam para o facto de Colombo ter aprendido as artes de navegação com o sogro Bartolomeu Perestrelo, primeiro Capitão Donatário da ilha, pai de Filipa de Moniz.

Na Casa-Museu podem ser apreciados diversos artefactos de marinhagem, alguns retratos de Colombo além de mapas e outros registos cartográficos. O espaço compreende várias salas onde se exibem objetos alusivos às viagens do navegador ao continente americano e também à expansão marítima portuguesa. Ali também pode ver parte do espólio do galeão da Companhia das Índias Holandesas “Sloot Ter Hooge”, que foi afundado a norte da ilha, no século XVIII. Além da Casa de Colombo, pode ainda visitar o Forte de São José (séc. XVIII) e o Museu Cardina, situado na parte norte da ilha, dedicado à história de Porto Santo.

Existem várias ligações ao Porto Santo, a partir do continente e também da ilha da Madeira, embora não sejam diárias. Por mar, pode partir do Funchal a bordo do “Lobo Marinho” em ligações diárias com duração de duas horas e meia por trajeto.

Integra o grupo de ilhas atlânticas conhecido como Macaronésia, expressão que pode ser traduzida como “ilhas felizes” ou “ilhas afortunadas”. Os geógrafos antigos designavam assim as ilhas encontradas a oeste do estreito de Gibraltar, reunindo no mesmo conjunto os arquipélagos dos Açores, da Madeira, das Canárias e de Cabo Verde.

Abençoada tempestade que, em 1418, afastou a tripulação portuguesa liderada por João Gonçalves Zarco da rota inicial e empurrou a armada para a praia de areia fina, logo batizada de Porto Santo. A ilha onde é primavera todo o ano.