A polícia britânica pediu desculpas e indemnizou sete mulheres que achavam que os homens com quem mantinham uma relação tinham desaparecido. Afinal, eles eram na verdade espiões ao serviço das autoridades. Estas mulheres eram ativistas e os seus maridos e namorados eram agentes infiltrados nesses grupos ativistas em que militavam. Todos eles desapareceram sem deixar rasto deixando a família ou a relação que construíram para trás. Só anos depois, agora, elas descobriram porquê.

A ativista ambiental inglesa Charlotte é uma das mulheres que foi vítima deste esquema. Em 1985 teve o seu primeiro filho com Bob Robinson. Dois anos depois, Bob desapareceu depois de dois amigos seus terem sido detidos por incendiarem um armazém que vendia casacos de pele. Como justificação, disse que tinha medo de cair também ele nas mãos das autoridades. A última vez que Charlotte soube notícias dele foi através de uma longa carta de despedida com carimbos postais de Valência, Espanha.

Charlotte sentiu-se abandonada. O seu filho cresceu sem pai. 24 anos depois, em junho de 2012, uma fotografia de Bob denunciou a verdadeira causa pela qual se tinha afastado. A notícia dizia que o terceiro suspeito do incêndio era na realidade um agente infiltrado. Bob é hoje em dia professor universitário especializado em espionagem e atividades terroristas conhecido como Lambert. Charlotte apercebeu-se que tudo o que Bob lhe contou era mentira. Ele não fugiu da polícia, ele era a polícia.

Durante todo o tempo em que manteve uma relação com Charlotte, Bob era casado com uma mulher da quem já tinha filhos. Encontrava-se com a mulher sempre que não estava em serviço. Tudo o que viveu com Charlotte foi uma manobra para dar credibilidade à sua máscara de ativista. A relação foi um adereço para que pudesse manter a Scotland Yard informada acerca dos planos dos ativistas ambientais, particularmente da Frente de Libertação Animal.

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Helen Steel também foi usada como meio de investigação. Entre 1994 e 1997 esteve envolvida no processo civil mais longo da história do Reino Unido: o McLibel. A multinacional McDonald’s processou duas pessoas, uma das quais Helen, por difamação. O Tribunal dos Direitos Humanos europeu acabou por dar razão aos arguidos. Revelações recentes divulgaram que um dos autores do panfleto que esteve na origem do processo era nem mais nem menos que Bob Lambert, ou seja, Bob Robinson, o pai do filho de Charlotte.

Mas não foi só com Bob que Helen Steel teve uma relação. A ativista viveu com um homem que se dizia chamar John Barker entre 1990 e 1992. Na altura estavam muito apaixonados, mas Barker dizia que tinha sido vítima de maus tratos na infância e que não conseguia lidar com os seus demónios. Foi por isso que fugiu para África do Sul. Helen acreditou durante anos que John se tinha suicidado. John, que na verdade se chama Dines e não Barker, foi chamado de volta pela Scotland Yard. Hoje em dia dirige um curso para polícias em Sidney. Helen viajou recentemente para a Austrália para confrontá-lo. 25 anos depois, John pediu-lhe desculpa.

Também a Scotland Yard, em novembro, pediu desculpas publicamente e indemnizou as sete mulheres que denunciaram em ação conjunta o trauma que sofreram. A polícia destacou que estas mulheres se comportaram com coragem e dignidade durante todo o processo, que admitem ter sido doloroso.

Ainda assim, este pedido de desculpas não remenda tudo por que passaram. Agora questionam-se sobre que direito tem o Estado de usar mulheres desta forma para obterem informações. Mais importante ainda, questionam-se sobre o que é que sustentou as relações que mantiveram com estes homens. Se para elas foi amor, para eles pode ter sido apenas interesse.