Os benefícios do leite materno, os seus componentes únicos e a importância para os bebés prematuros foram os temas explorados pelo XI Simpósio Internacional de Aleitamento Materno, que terminou este sábado em Berlim. Entre os temas abordados aparecem a prevenção da obesidade e o desenvolvimento cerebral.

“O aleitamento materno é forma mais eficaz de assegurar a saúde e sobrevivência das crianças”, segundo a Organização Mundial de Saúde. “Se todas as crianças fossem amamentadas uma hora após o parto, bebessem apenas leite materno durante os primeiros seis meses de vida e continuassem a beber leite materno até aos dois anos, seria possível evitar a morte de 800 mil crianças todos os anos.”

A amamentação pode ter um papel determinante na prevenção de doenças crónicas não-transmissíveis, como mostrou Donna Geddes, professora na Universidade da Austrália Ocidental. “O aleitamento materno está associado a um risco reduzido de desenvolver síndrome metabólica” – que predispõe os indivíduos para desenvolver diabetes e doença cardiovascular -, assim como “reduz o risco de obesidade”. O leite materno tem várias moléculas bioativas, como hormonas, fatores de crescimento, agentes anti-inflamatórios, entre outros.

A descoberta recente de leptina e grelina no leite, duas hormonas relacionadas com o controlo do apetite, podem condicionar favoravelmente o controlo do apetite na vida futura da criança. A amamentação pode assim ser uma forma de prevenir excesso de peso, segundo explica a investigadora. No caso da mãe, a amamentação pode, a longo prazo, reduzir o risco de doença cardíaca, de cancro da mama e de cancro do ovário.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Quando as vantagens para a mãe e para o bebé são consideradas em conjunto, a promoção e apoio continuado para a amamentação é, sem dúvida, uma das melhores estratégias custo-eficácia disponíveis”, escreve Donna Geddes no resumo da apresentação.

Outro dos componentes do leite materno é um tipo específico de oligossacarídeos (hidratos de carbono), tão abundante que a concentração chega a superar largamente a quantidade de proteínas no leite humano. Este tipo de açúcares não aparece no leite em pó adaptado para bebés, apesar do seu já conhecido papel na regulação de uma flora intestinal saudável. Mas o impacto dos oligossacarídeos de leite humano vão além disso: pode reduzir o risco de infeções e ajudar a controlar o crescimento das bactérias no intestino e sistema urinário, como apresentou Lars Bode, investigador no Departamento de Pediatria da Universidade da Califórnia.

Os componentes do leite materno, muitos deles não replicados nas fórmulas de substituição, têm um papel importante na formação de mielina, uma substância que envolve as células nervosas (e particular os axónios) e que é responsável pela condução dos impulsos nervosos. As crianças amamentadas, por oposição às que beberam fórmula de substituição, têm um maior desenvolvimento de massa branca do cérebro e uma maior formação de mielina, concluiu Sean Deoni, investigador no Departamento de Radiologia Pediátrica no Hospital Pediátrico (Colorado, Estados Unidos). Esta massa branca está associada a melhorias nos desempenhos cognitivos e comportamentais.

O leite materno é a melhor opção, mas o que fazer quando o leite materno não está disponível? Uma das hipóteses é recorrer a bancos de leite materno. Mas também aqui é necessário aumentar os conhecimentos, porque quando o leite é pasteurizado (para evitar passar uma infeção ao bebé) muitos dos componentes mais importantes do leite são perdidos, incluindo as bactérias.

“Recentemente tornou-se claro que o leite humano contém uma grande variedade de micróbios (cerca de 700), muitos dos quais não têm origem na pele da mãe ou na pele da criança. Em alternativa, os dados sugerem que muitos desses micróbios têm origem no trato gastrointestinal da mãe”, referiu no resumo da apresentação Josef Neu, investigador na Universidade da Florida.

Para evitar o tratamento térmico do leite, com vista a uso posterior, Susanne Herber- Jonat, investigadora da Universidade Ludwig Maximilians de Munique, apresenta o caso do banco de leite materno de Munique, onde as dadores extraem o leite materno sob supervisão de uma assessora de aleitamento em condições estéreis. Posteriormente, o leite materno é submetido a um controlo, como o das doações de sangue, e é refrigerado.

As apresentações deste simpósio permitem reforçar a importância do aleitamento materno, não só em termos nutricionais, mas também os efeitos protetivos desse leite.

A Organização Mundial da saúde recomenda o aleitamento materno, em exclusividade, durante os primeiros seis meses de vida do bebé e depois da introdução dos sólidos até aos dois anos de idade ou mais.