Daniel Ek e Martin Lorentzon são fundadores do Spotify, o serviço de streaming de música sueco que conta com cerca de 100 milhões de utilizadores mensais ativos. Na semana passada, publicaram um artigo no Medium, onde se queixaram das condições que existem no país. Foram mais além: ameaçaram tirar a empresa da Suécia, “se não houver mudanças”. O artigo, citado por publicações como o Financial Times e a CNN, fez soar campainhas em Portugal. E levou o jovem Malik Piarali a criar um grupo de Facebook, com um objetivo claro: “Vamos trazer o Spotify para Lisboa“.

Criado a 17 de abril, o grupo conta com mais de 590 membros e algumas caras conhecidas do ecossistema empreendedor de Lisboa, como Miguel Santo Amaro, líder e cofundador da Uniplaces. Na verdade, foi uma publicação de Miguel Amaro no Facebook – onde chamava a a atenção para a posição dos responsáveis suecos – que levou Malik a criar a iniciativa. Porque “não podia deixar escapar esta oportunidade”.

Estando atento à situação da companhia [Spotify] na Suécia sabia que não podia deixar escapar esta oportunidade. Depois de ler o artigo no Financial Times e de ver a publicação do Miguel Santo Amaro, da Uniplaces, [no Facebook,] decidi que estava na hora de agirmos. Se o conseguimos fazer com a Web Summit, porque não trabalhamos juntos para este objetivo [de convencer o Spotify a vir para a capital portuguesa]?”, explicou.

Suponhamos que os dois fundadores de Spotify decidiam mesmo sair da Suécia, passando a sediar a empresa noutro país. E se fosse Portugal? “O Spotify é uma startup com mais de 75 milhões de utilizadores em todo o mundo. Trazer uma companhia tecnológica desta dimensão a Lisboa vai [iria] contribuir para a economia e para o crescimento do ecossistema de startups em Portugal”, explica Malik Piarali, de 19 anos, estudante e brand ambassador da Landing Jobs.

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Discutir e perceber como cativar o Spotify a vir para Lisboa é pensar no que Lisboa tem para oferecer a estas empresas. E nos “problemas” que ainda subsistem. É isso que Malik Piarali quer fazer este fim de semana: organizar um evento para pôr a comunidade empreendedora a discutir “como tornar Lisboa a capital tecnológica que todos sabemos que tem potencial para ser”:

Este fim de semana realizar-se-á um evento [“Upframe Breakfast: Lisbon as a Tech Hub”] para o qual toda a comunidade de empreendedores está convidada a juntar-se, onde serão discutidos os problemas reais por detrás deste movimento. Porque é que empresas como o Spotify não estão satisfeitas nos outros países da Europa? O que é que nós podemos fazer em relação a isso? Como podemos tornar Lisboa numa capital tech [tecnológica]?

Mas há mais movimentações: “Na Landing Jobs estamos a trabalhar arduamente para trazer o Spotify ao Landing Festival, um evento onde vão poder encontrar as startups europeias com maior crescimento, já em junho. Esta pode ser uma oportunidade para os impressionar e convencê-los a ficar” em Portugal, acrescenta.

O que é que Lisboa tem para oferecer? “Talento mais barato”

No artigo publicado pelos dois fundadores do Spotify, Daniel Ek e Martin Lorentzon apontaram vários problemas ao país, que, dizem, dificultam o crescimento às empresas. Três deles em particular: a habitação, já que em Estocolmo é particularmente difícil arrendar casas (o que é um problema quando o Spotify emprega pessoas vindas de 48 países diferentes); o ensino, a que apontam falhas (“Temos de começar a saber programar mais cedo, logo na escola primária, para que possamos tirar partido do talento existente”, escrevem); e a dificuldade do Spotify em conceder stock options (uma forma de remunerar gestores e trabalhadores, através de ações da própria empresa) generosas aos seus trabalhadores — o que, dizem, torna mais difícil ao Spotify atrair e reter talentos.

No mesmo artigo, os fundadores do Spotify deixam no ar a possibilidade da empresa sueca se vir a mudar para os Estados Unidos. Em comparação com os EUA, o que é que Lisboa tem para oferecer? “O custo de vida”, explica Malik.

Lisboa tem um ecossistema de startups muito jovens e em crescimento, que se opõe ao dos EUA, onde o Spotify seria só mais uma companhia (…). [Para além disso,] nos EUA, o custo de vida é bastante superior ao de Lisboa: basta olhar para as quantias pedidas para alugar uma casa em Nova Iorque ou em São Francisco, onde o Spotify tem escritórios”, afirmou o jovem.

Em Portugal, acredita, a empresa sueca poderia encontrar “talento mais barato, tanto em tech [tecnologia] como em design“. Em Lisboa “uma cidade multicultural por excelência”. E no Governo português um executivo “bastante aberto e flexível”, ainda que este esteja na mesma família política do Governo sueco no Parlamento Europeu (onde ambos integram o SPD), que é alvo de reparos por parte dos empreendedores nórdicos.

O Governo português tem sido bastante aberto e flexível. Isto vê-se com a entrada da Web Summit em Portugal e com todas as iniciativas que têm vindo a ser tomadas para fazer o ecossistema de startups crescer. Um bom exemplo é o programa Startup Portugal“, disse Malik.

Em relação à importância de ensinar os jovens a aprender a programar cada vez mais cedo, Malik Piarali não tem dúvidas: isso já começa a ser feito em Portugal, com programas como o CoderDojo Lisboa, “um local onde crianças dos 7 aos 17 anos podem vir a aprender a programar todos os fins de semana”, e a Academia de Código, “que surgiu para requalificar desempregados que não encontraram sucesso noutras áreas e para responder à procura de programadores”. A estas duas iniciativas juntam-se “todos os meetups [encontros] e workshops destinados a trazer pessoas de todas as idades para o mundo da programação e que são organizados todas as semanas por entidades diferentes”, em Portugal.

“Estamos no bom caminho. As pessoas por detrás das startups, das universidades e das organizações para o empreendedorismo já perceberam que temos de trabalhar juntos para poder realmente criar um impacto”, sublinha. Agora é pôr mãos à obra. E, se possível, trazer o Spotify para o país.