É uma caixa que, para além de conteúdo essencial para os primeiros meses de vida de um bebé, também pode ser usada como a sua primeira cama. A iniciativa começou na Finlândia, mas é uma prática que se está a expandir para vários países do mundo.

Em 1938, na Finlândia, por cada 1000 nascimentos, morriam 65 crianças. O Governo decidiu então desenvolver um novo projeto para conseguir reduzir a taxa de natalidade: a cada família que estivesse para ter um filho era oferecido um conjunto de bens essenciais, como roupa, brinquedos e lençóis dentro de uma caixa. Para os pais que não conseguiam comprar uma cama, esta caixa também podia ser utilizada como berço para o bebé.

Os pais podiam optar: ou recebiam a caixa e o seu conteúdo, ou então recebiam o equivalente em dinheiro. Mas, para receber esta ajuda, as famílias deviam ir a uma clínica, antes de a gravidez atingir o quarto mês. Só nas clínicas eram distribuídas as ditas caixas. Esta era uma forma de levar as mães a conhecerem o sistema nacional de saúde para poderem ter ajudas durante e após a gravidez, informa o El País.

O resultado da iniciativa tornou-se quantificável: a taxa de mortalidade infantil na Finlândia passou de 65 em cada 1.000 crianças para 2,52 em cada 1.000 crianças com menos de um ano, um dos índices de mortalidade infantil mais baixos do mundo.

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Embora as primeiras caixas trouxessem roupa e lençóis, em 1940 o conteúdo foi modificado e a caixa passou a conter fraldas, medicamentos e um pequeno colchão, conteúdo que ainda hoje é entregue na Finlândia.

Caixa bebés

Pais finlandeses revelam o conteúdo de uma caixa para bebés

A medida teve tanto sucesso no país nórdico que alguns países começaram a implementar sistemas semelhantes para tentar diminuir as suas taxas de mortalidade infantil. A iniciativa é também muitas vezes utilizada para dar conselhos às famílias que estão prestes a ter um filho. Na maior parte dos países, as caixas são adaptadas às necessidades locais.

Na Índia é oferecida uma rede mosquiteira, dentro da caixa, para proteger o bebé da malária, para além de instrumentos de limpeza e alguns medicamentos que ajudam a prevenir infeções.

Na África do Sul, o programa recebeu o nome Thula Baba Box (Caixa Fica Calmo) e a fundação que está a desenvolver o projeto quer que a iniciativa seja implementada em toda a Cidade do Cabo e, a partir da capital se estenderá a todo o país. A caixa pode mesmo ser bastante diferente da utilizada na Finlândia. Para começar, é feita de plástico, para poder servir de recipiente para banho e dentro da caixa seguem panfletos informativos e alguns produtos essenciais para cuidados de saúde. Os panfletos são bastante importantes para impedir que mães infetadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) morram durante o parto, explicaram os mentores do projeto Ernst Hertzog e Frans de Villiers. Segundo os mentores do projeto, esta iniciativa fez com que mais mulheres fossem às consultas nos primeiros meses de gravidez.

Kit de natalidade oferecido pelo governo da Cidade do México

Kit de natalidade oferecido pelo governo da Cidade do México

No México, onde o programa foi lançado em 2015 com o nome Programa Berços CDMX (Cidade do México), a caixa inclui também alguns instrumentos de cuidados médicos, como um corta-unhas, aspiradores nasais ou um termómetro. Numa primeira fase, esta medida foi instituída apenas na Cidade do México, para “aqueles que vivem na pobreza e marginalidade”, informou Gamaliel Martínez, diretor geral do Sistema Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família (Dif -Sistema Nacional para el Desarrollo Integral de la Familia). A medida espera ajudar 7.000 mulheres na capital do país, onde a taxa de mortalidade infantil é de 12,23, por cada 1000 nascimentos.

Esta iniciativa não se resume a países em desenvolvimento. Países desenvolvidos como Inglaterra também experimentaram o projeto que se tornou viral há três anos devido a um artigo da BBC. Em Londres, dois hospitais testaram o programa que foi divulgado como uma forma de estreitar laços entre pais e filhos, já que se os filhos dormirem na British Baby Box podem ficar mais perto dos pais.

British Baby Box

British Baby Box

A cidade de Alberta, no Canadá, também aderiu à iniciativa das caixas para bebés. Os pais recebem uma caixa que contem roupa, fraldas e alguns instrumentos para cuidar das crianças, bem como um colchão para forrar a caixa. O projeto iniciou-se em Alberta já que é uma região onde muitos homens trabalham na indústria petrolífera e onde, por vezes, as mães chegam a ficar sozinhas durante semanas. Quando recebem as caixas, as mães vinculam um contrato de segurança com uma unidade de saúde que se presta a dar apoio desde a 32ª semana de gravidez até que a criança tenha seis meses.

O mesmo tipo de programa já está a ser implementado em alguns estados americanos, como Washington e Texas. O principal objetivo do estado texano é reduzir as mortes por asfixia, ao tirar a criança da cama dos pais, onde costumam dormir.

Existem, no entanto, alguns especialistas que rejeitam a influência das caixas na redução da taxa de mortalidade infantil. Colin Pritchard, professor da Universidade de Bournemouth, estudou a mortalidade infantil e acredita que, ainda que as caixas tenham “sentido teórico” os seus efeitos reais serão marginais. Na sua opinião, o problema deve ser atacado através do combate à pobreza, pela melhoria da educação e dos cuidados pré-natais e fazendo com que os pais deixem de fumar.