Diz que procura pessoas “absolutamente excecionais” para trabalhar na empresa que lançou em 2011 com João Jerónimo e João Menano, que resolve um problema que afeta “triliões de euros na Europa e nos EUA” e que não anda à procura de capital porque não precisa. Pedro Fonseca é o líder da startup que foi considerada a melhor fintech (tecnologia financeira) da Europa e explicou ao Observador o que têm as empresas portuguesas do setor que as outras não têm: “Resolvem problemas maiores com menos barulho”.

“Não estamos a levantar uma ronda de investimento deliberadamente. Não precisamos. Geramos mais do que o dinheiro necessário para nos sustentarmos e queremos ter as métricas todas no sítio antes de fazermos uma ronda com os investidores de capital de risco que já nos conhecem há muito tempo”, disse Pedro Fonseca ao Observador.

A CrowdProcess desenvolveu uma aplicação para facilitar a análise dos riscos de crédito em bancos de média dimensão, o James. Foi com ela que foi distinguida na maior conferência do setor fintech do mundo, a Money 20/20. Sem revelar o valor do investimento inicial, explica que esse dinheiro tem sido o suficiente para trabalhar no produto e pagar salários. Ente os primeiros investidores, estiveram membros do departamento financeiro da Google.

Nos últimos anos, a equipa tem estado a trabalhar na otimização dos algoritmos que servem de base ao software e que permitem à aplicação automatizar os consultores de machine learning (subcampo da inteligência artificial que permite que os computadores aprendam a partir da extração de regras e padrões de dados).

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O líder da CrowdProcess explicou que uma das principais dificuldades com que a equipa tecnológica se deparou foi a de tornar o James percetível. “Não é aceitável para um banco dizer que não faz um empréstimo e que não sabe porquê. A tecnologia tem de dizer os motivos e as causas que estão dentro do algoritmo”, explica, confessando que, nos últimos dois anos, a luta foi esta.

“A nossa história nasceu no problema e a tecnologia foi adaptada até ao momento em que conseguimos resolver esse problema”, conta.

E que problema é este? É o do crédito malparado. Com o James, os analistas de crédito têm uma ferramenta que lhes permite decidir sobre a concessão de empréstimos sozinhos. “São mudanças muito substanciais, que mexem com a capacidade de o banco distinguir entre o crédito mau e o crédito bom. Estamos a chegar à fase em que conseguimos automatizar o consultor de machine learning e dar ao risk officer uma ferramenta com que possa, sozinho, melhorar o sistema de risco do banco”, disse Pedro Fonseca.

Da CrowdProcess à Feedzai. O que é que o fintech português tem?

A tecnologia financeira portuguesa parece andar a dar cartas. Antes de a CrowdProcess ter sido distinguida no Money 20/20, a Feedzai (que atua no combate à fraude no comércio eletrónico) foi considerada o único potencial unicórnio (empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares) português. Pedro Fonseca diz que costuma ter sempre pedidos de investidores de capital de risco para que este o introduza a mais startups portuguesas. “Porque eles têm a perceção de que resolvem problemas maiores com menos barulho”, diz.

Reconhecendo que não é um dos setores que mais tem atraído a atenção dos media, Pedro Fonseca explica que a diferença entre as os projetos que estão a “endereçar problemas de organizações grandes” e aqueles que dependem do consumidor é que as últimas “dependem do oxigénio da publicidade para sobreviverem” e as primeiras só precisam de ser conhecidas por três entidades: pelas organizações, pelos distribuidores e pela comunidade de investidores.

“As startups de fintech portuguesas são muito conhecidas pelos três targets que lhes interessam”, explicou Pedro Fonseca.

Para o líder da CrowdProcess, Portugal vive uma situação parecida com a de Israel – é um país pequeno, com boa engenharia, e que permite fazer experiências com potenciais clientes. “À medida que o investimento estrangeiro vai reparando mais em Portugal e nas startups fortes – mas silenciosas – que temos, também começamos a ver o efeito israelita, ou seja, começamos a ver startups que não são necessariamente viradas para o consumidor a saírem de Portugal”, explica.

“Acho que muito em breve, é lá fora que vão ter de aprender com o que se faz cá dentro. E não ao contrário. Portugal vai ter um foco de inovação fintech do qual o mundo vai ouvir falar. E a Feedzai será o nosso exemplo mais brilhante de como a tecnologia portuguesa consegue resolver um problema internacional gigante. E espero que em breve se fale da CrowdProcess ao lado destes nomes”, concluiu.

A trabalhar numa versão escalável do James, Pedro Fonseca diz que quer aumentar a equipa que, neste momento, conta com oito pessoas. “Queremos recrutar pessoas absolutamente excecionais. O tempo que passamos a recrutar uma única pessoa é muito longo. Vamos recrutá-las às instituições mais prestigiosas do mundo e é um processo de namoro muito longo”, conta. Tipicamente, procura pessoas formadas em áreas como Matemática, engenharias, finanças quantitativas. “São pessoas escolhidas muito a dedo porque são raras.”

Sobre os vários problemas que a banca portuguesa tem enfrentado, o líder da CrowdProcess explica que os bancos têm tido “bastante abertura” para trabalhar com as startups e apostado na inovação tecnológica. Contudo, reconhece que ainda é preciso ganhar mais experiência para saber como podem trabalhar mais vezes juntos.

Presente em quatro países (Portugal, Espanha, França e Reino Unido) e a trabalhar com sete bancos de média dimensão, Pedro Fonseca explica que os objetivos passam agora por aumentar a rede de parceiros. “Todas as consultoras que têm um alcance geográfico muito grande ficaram interessadas em levar o James para outras geografias”, conta. Itália será o primeiro país.