O líder do terceiro maior partido moçambicano, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), disse estar chocado com as imagens de corpos abandonados no distrito da Gorongosa, província de Sofala, e exigiu um apuramento dos factos.

“Vi as imagens e são chocantes”, declarou Daviz Simango, reagindo à divulgação hoje, pela Lusa, da existência de 15 corpos deixados ao abandono junto da Nacional 1 (N1), a principal estrada do país, e perto do local onde camponeses da região alegam ter visto mais de cem cadáveres numa vala comum.

A presença de militares não permitiu o acesso à vala comum descrita pelos camponeses, mas era visível uma dezena e meia de cadáveres nas imediações, espalhados pelo mato e alguns deles despidos.

Daviz Simango avançou que uma equipa do seu partido seguiu para a Gorongosa, mas não conseguiu chegar ao local, “porque está tudo cercado por militares e é preciso muita coragem para circular ali”.

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Os elementos do MDM descrevem “um cheiro terrível” junto da estrada, prosseguiu o líder partidário, acrescentando não ter “a mínima dúvida” da existência da vala comum na região e suspeitando que haja outras por revelar.

“Agora que temos imagens, a grande questão que se coloca é saber quem matou aquelas pessoas”, salientou Simango, também presidente do município da Beira, capital de Sofala, reiterando que é preciso uma investigação aos factos, após ter exigido, na sexta-feira, na primeira reação à denúncia dos camponeses, o envolvimento do parlamento e do Ministério Público.

Daviz Simango lamentou ainda os desmentidos das autoridades locais e agora quer ouvir mais explicações.

“Se desmentem e não têm culpa no cartório, então porque desmentem?”, questionou.

O administrador da Gorongosa contrariou, na sexta-feira, o relato dos camponeses sobre a existência da vala comum com mais de cem corpos.

Segundo Manuel Jamaca, uma equipa do governo distrital foi enviada ao local, mas não encontrou nada e o Governo provincial de Sofala também negou a existência de uma vala comum na região da Gorongosa.

A polícia de Sofala anunciou, na sexta-feira, que vai iniciar uma investigação para apurar a veracidade da descoberta.

Apesar dos desmentidos, a Comissão de Direitos Humanos de Moçambique (CDHM), instituição vinculada ao Estado, quer apurar a veracidade dos relatos, adiantado que, a confirmarem-se, é um caso “muito preocupante” e instando a Procuradoria-Geral da República a investigar.

Contactado hoje pela Lusa, o presidente da CDHM, Custódio Duma, disse que precisa de reunir mais informações antes de se pronunciar sobre a revelação das imagens dos corpos na Gorongosa.

Dos 15 corpos encontrados por um pequeno grupo de jornalistas no local, quatro foram largados numa pequena savana, a cerca de 200 metros do cruzamento de Macossa para o interior, e os outros foram deixados debaixo de uma ponte próxima da N1.

O local onde foram depositados estes corpos fica a seguir à ponte sobre o rio Muare, no sentido Gorongosa-Caia, e onde se tem feito, ainda que de forma tímida, extração ilegal de ouro.

Os cadáveres são de mulheres e homens jovens, uns deixados recentemente no lugar e outros sem roupas, entre a presença de abutres.

Quanto à vala comum principal, segundo os camponeses, localiza-se na zona 76, entre Muare e Tropa, no posto administrativo de Canda, distrito da Gorongosa, uma região que se mantém sob vigilância de militares e da polícia e que tem sido marcada por confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).