“Têm Kleenex?” foi a primeira pergunta que Andreia Reis fez assim que aceitou o desafio proposto pelo Observador: levar o filho de quatro anos à redação para ele falar sobre a própria mãe em frente às câmaras. A preocupação tinha razão de ser, não fosse uma das perguntas definidas “o que fazes quando a tua mãe chora?”. Os lenços de papel foram, assim, colocados estrategicamente na sala de entrevistas para aconchegar as prometidas lágrimas maternais. Só que não houve choros mas sim risos, muitos risos.

A ideia era ter, em vídeo, a visão de cinco mães a partir dos comentários dos filhos — com idades entre os quatro e os sete anos –, à semelhança do que fez a marca Pears em 2015. Juntá-los na redação num dia de escola não foi fácil, mas mais difícil foi sentá-los diante das câmaras de microfone preso no colarinho. Para isso ajudaram as bolachas com pepitas de chocolate compradas estrategicamente para entreter os mais novos enquanto esperavam a sua vez ou para suborná-los a falar diante de pessoas estranhas.

“Vamos começar: o que mais gostas na tua mãe?” A pergunta que à partida parecia fácil provocou as mais diversas reações: mãos nas bochechas, livros a tapar a cara de tanta que vergonha, olhos revirados e linguagem impercetível, digna de ser inventada por Tolkien (e que valeu alguns balões na edição).

A timidez de algumas crianças surpreendeu as mães que, na verdade, estavam à espera de respostas mais espontâneas. “Eles não costumam ficar assim tão intimidados, talvez fosse diferente se eu não estivesse na sala”, comentou Olga Reis, mãe de Leonor e de Afonso, com seis e quatro anos, respetivamente. Teresa Carlos, que trouxe ao Observador o pequeno Pedro — um verdadeiro mestre em fugir às perguntas com sucessivos “não sei” e “não me lembro” –, defendeu a mesma ideia.

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Embora algumas respostas tenham saído a custo, o orgulho foi visível no rosto das mães que sorriram, soltaram gargalhadas e levaram as mãos à cara perante as respostas. Nos bastidores, Maria João Calais Pedro, mãe de Sofia, de sete anos, admitiu que adorava estes desafios e confessou o desejo da filha em ser atriz — talvez tenha sido por isso que Sofia sorriu, ponderou as repostas e falou pausadamente. No fim pediu uma visita guiada à redação.

“Este vídeo fica como recordação”, dizia Andreia Reis à saída do jornal, mesmo que o pequeno Tomás, de apenas quatro anos, se tenha recusado a dizer qualquer palavra e tenha acabado por não aparecer no vídeo. Completamente diferente foi a postura de Afonso, filho da blogger Catarina Beato. Chegou bem-disposto à redação e depressa foi apanhado com os lábios carregados de chocolate; não foi parco em palavras e deu a todos uma lição de tecnologia (mais especificamente de telemóveis).

Pepitas de chocolate e migalhas espalhadas pelo hall de entrada, olhares esbugalhados para os muitos jornalistas a trabalhar e desenhos rabiscados nos quadros da sala de reuniões, assim se passou mais um dia na redação do Observador. E o resultado está no vídeo acima.