O ainda presidente do governo espanhol atravessou quatro meses no limbo, entre o resultado inconclusivo das eleições espanholas e o longo e infrutífero processo negocial para formar uma maioria que pudesse assumir o poder.

Mariano Rajoy viveu uma realidade que chegou a ser um cenário em Portugal para Passos Coelho, no caso de a esquerda não ter conseguido viabilizar uma maioria no Parlamento e na impossibilidade constitucional de convocar logo novas eleições. Mas não quis ser o Passos Coelho espanhol, uma escolha que, segundo o jornal ABC, terá sido influenciada pelo conselho de um “amigo português” que passou pelo governo mas curto da história da democracia portuguesa.

O líder do PP espanhol tirou lições do percurso acidentado do seu aliado português logo a seguir às eleições de outubro, aproveitando o facto de Portugal ter vivido com mais de dois meses de antecedência o impasse eleitoral que saiu das legislativas espanholas de 20 de dezembro. A coligação portuguesa, tal como o PP, ganhou as eleições depois de governar em tempos e austeridade, mas com um resultado insuficiente para ser manter no poder.

O ABC conta como foram estes quatro meses do líder do governo e como Mariano Rajoy quis evitar ser o Passos Coelho espanhol, recusando o convite do rei Filipe VI para formar equipa, porque não tinha apoios para o concretizar. Fez o contrário do presidente do PSD que disse sim a Cavaco Silva para ver o seu segundo executivo cair um mês depois, por uma moção de censura votada por toda a esquerda.

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O momento em que Rajoy decidiu passar a bola ao líder do PSOE foi “escrito em português” conta o jornal espanhol e teve a inspiração da visita de “um amigo português”.

Não foi Passos Coelho, foi Paulo Portas que esteve em Madrid em janeiro para receber uma condecoração, a Gran Cruz del Mérito Civil, e para visitar informalmente a número dois do governo PP, Soraya Sáenz de Santamaria. Terá sido enquanto tomava café com a vice-presidente do governo espanhol que o ex-número dois da coligação PSD-CDS terá dado o conselho, revela a edição de domingo do ABC.

“Tenham cuidado porque em Portugal a aliança das esquerdas que sucedeu a Passos Coelho consolidou-se no Parlamento quando foi afastado o governo de centro direita saído das urnas. Foi nesse momento (quando os partidos de esquerda chumbaram o segundo governo de Passos e Portas) que a esquerda viu a sua força”.

A número dois fez soar o alarme no Palácio da Moncloa, residência do líder do governo espanhol, para os perigos de uma tomada de posse sem apoios, num parlamento hostil onde todos os outros grupos parlamentares estavam contra.

A somar a isto, uma sucessão de escândalos de corrupção que têm abalado o PP, o que poderia significar a morte politica de Mariano Rajoy. O ABC diz que foi a descrição dos acontecimentos no Parlamento de Lisboa que convenceu o líder do PP a dizer não a Filipe VI. Ainda que tenha tentado não condicionar o espaço de manobra do rei, a Constituição espanhola só permite aceitar ou recusar, e ainda que tivesse enfrentado divergências na sua sua equipa.

Afinal, também o PSOE não conseguiu seguir a via de António Costa e angariar apoios para formar um executivo à esquerda, o que culminou na marcação, na semana passada, de novas eleições para 26 de junho.