Os pescadores da arte do cerco da sardinha mostraram-se hoje satisfeitos com a quantidade e qualidade do pescado obtido na primeira safra deste ano.

Depois de um período de paragem, que variou entre os sete a nove meses, para reposição dos ‘stocks’ da espécie, os pescadores da sardinha puderam voltar ao mar no domingo à noite. E, no regresso à lota, trouxeram os barcos cheios.

“A campanha de hoje correu bem, trouxemos muita sardinha e ficou ainda muito mais no mar. Vamos ver o que futuro nos reserva”, contou à Lusa Fernando Santos, mestre da embarcação Orlando Eugénio, enquanto descarregava no porto de pesca de Matosinhos.

Os pescadores têm disponível para gerir, até 31 de julho, uma quota de sardinha a rondar as 6.900 toneladas, algo que na opinião de Fernando Santos é “demasiado curto”.

“Sempre defendemos que há muita sardinha no mar. Já no tempo dos meus avós era assim e vai continuar a ser. Esta é uma quota muito curta. Era preciso pelo menos 12 mil nesta primeira fase, e, depois, se chegássemos às 19 mil toneladas, já valeria a pena”, desabafou.

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O mestre lembrou que para trás “ficaram meses de sacrifício, durante a paragem”, garantindo que “são muitas famílias a viver do salário mínimo dado pelos apoios”.

Opinião semelhante partilhou Celestino Alexandre, mestre da embarcação Belo Horizonte, a quem a campanha da noite de domingo não foi tão profícua.

“Trouxemos menos do que estávamos à espera, porque apanhamos uma mistura de biqueirão com sardinha, mas apesar não ser grande quantidade, tomará que amanhã possa dar o mesmo”, começou por dizer.

O mestre referiu que “com tantos meses de paragem não há quem sobreviva com estas condições”. “É por isso que os rapazes novos não querem ir para o mar”, disse.

“Esta vida de incerteza para quem tem de pagar casa ou carro é muito complicada”, completou Celestino Alexandre, enquanto carregava os seus cabazes para serem vendidos na lota.

Hoje, de manhã, em Matosinhos, cada cabaz (com cerca de 22 quilogramas), estava ser vendido entre os 20 e os 22 euros, preço que na opinião de Manuel Postiga, da embarcação Mar Cáspio, ainda é um valor muito baixo.

“Só podemos vender 166 cabazes por dia, mas repare que com 25 homens a bordo não é com isso que nos podemos governar num mês”, afirmou o mestre, lembrando que, neste período, a pesca da sardinha é apenas permitida quatro dias por semana.

Ainda assim, Manuel Postiga mostrou-se satisfeito com a qualidade e quantidade da safra que conseguiu nesta primeira noite

“Estávamos à espera disso porque no ano passado deixamos muita sardinha no mar. Hoje até encontrámos peixe mais pequeno, que deixámos para trás, e fomos à procura de sardinha maior e de qualidade. Correu bem. Creio que de modo geral toda gente que saiu para a faina pescou sardinha”, partilhou o mestre à Lusa.

Quanto ao futuro, Manuel Postiga não se mostrou muito otimista, sobretudo se Bruxelas continuar a impor quotas muito curtas face às pretensões dos pescadores.

“Temos muita experiência do mar e sabíamos que havia sardinha. Temos visto muito peixe pequeno que ainda se vai desenvolver. Mas são muitos meses de sacrifício. Qualquer empresa, seja de ramo for, se trabalhar como nós, apenas cinco meses por ano, e parasse sete, não conseguia sobreviver”, desabafou.

Na noite de domingo, a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, esteve no porto de pesca de Matosinhos, a acompanhar a saída dos pescadores para o primeiro dia da pesca da sardinha, mostrando confiança que a quota para 2016 poderá aumentar.

“Assim que chegamos ao governo disponibilizamos verbas para fazer um cruzeiro científico, que pelos dados recolhidos num relatório preliminar indicam que existe uma melhoria no stock de sardinha”, partilhou a ministra.

Ana Paula Vitorino lembrou que se se confirmarem as informações recolhidas, “a atual quota de 14 mil toneladas partilhada com Espanha poderá passar para as 19 mil toneladas”.

A governante partilhou, ainda, que “em meados de junho serão enviadas novas informações para as entidades competentes sobre o ‘stock’ de sardinha”, acreditando que possa haver “uma revisão em alta” no número de capturas permitidas.

“É importante termos a informação necessária para convencermos Bruxelas que o nosso ‘stock’ de sardinhas já está a recuperar e que podemos manter níveis de pesca, melhores do que estão fixados. Para isso vamos, também, ouvir e manter um contacto muito próximo com os pescadores”, garantiu a ministra do Mar.

Com o final do defeso da sardinha, puderam este domingo regressar ao mar 150 embarcações, com mais de dois mil pescadores, que se dedicam à captura desta espécie, e que poderão fazê-lo até 31 de julho, caso não ultrapassem esta quota inicial de 6900 toneladas.