O estádio Allianz Arena, em Munique, para onde quer que se olhasse, estava à pinha. Nem mais um alemão cabia lá dentro — adeptos espanhóis também os havia, mas escutavam-se pouco e timidamente. Na primeira mão disputada no Vicente Calderón, em Madrid, um golo — e que golo foi! — de Saúl Ñiguez deixou o Atlético em vantagem na eliminatória diante do Bayern. Um resultado curto, pelo que a segunda-mão seria de tripla: qualquer um poderia vencer. O Bayern porque ataca muito e bem, o Atlético porque defender melhor ainda — e contra-ataca como poucos na Europa.

Outra curiosidade era saber, por um lado, se Pep Guardiola (de saída para o Manchester City) venceria ou não o único grande título que lhe falta vencer pelo clube alemão, ou se, por outro, Simeone voltava a uma final da Liga dos Campeões pelo Atlético, vingando a derrota de Lisboa em 2013/2014 — quem sabe contra o Real que o derrotou então.

Bayern de Munique: Neuer; Lahm, Boateng, Javi Martínez e Alaba; Xabi Alonso e Vidal; Douglas Costa, Muller e Ribéry; Lewandowski.

Atlético de Madrid: Oblak; Juanfran, Godín, Giménez e Filipe Luís; Gabi, Augusto Fernández, Koke e Saúl; Griezmann e Torres.

O primeiro golo do jogo surgiu aos 31′. E foi de Xabi Alonso, para o Bayern. O livre era frontal, ligeiramente descaído para a direita, a pedir o remate de um destro, em arco, contornando a barreira. Mas não foi anda disso que se viu. Estavam lá Lewandowski e Xabi, o polaco avançou, mas foi só fogo-de-vista, passando por cima da bola. Quando o espanhol, ele sim, rematou, a bola foi direitinha à barreira, um remate não tão forte quanto isso, mas que acertou em cheio entre as pernas de Giménez, e a bola ao invés de ir para o lado direito da baliza de Oblak (o esloveno ia lançado para lá), foi para o centro, traindo-o. Estava empatada a contenda. Ainda.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pouco depois, aos 33′, penálti para o Bayern, depois de Giménez ter agarrado (ostensivamente) Javi Martínez na área. Na conversão, Muller escolheu o lado direito, Oblak também, e o esloveno ex-Benfica agarrou a bola – e o Atlético à eliminatória. Mas calma, ainda houve tempo para a recarga de Lewandowki, que o esloveno voltou a defender. Enorme!

Chegou a segunda parte e o Atlético virou-a (a contenda, leia-se) do avesso. E o Atlético é isto: contra-ataque. Contavam-se 54′ no cronómetro do árbitro turco Cüneyt Çakır. Mas até para contra-atacar (bem) é preciso saber fazê-lo. A bola é colocada na frente vinda desde a defesa, cai na direita, onde está Griezmann, o francês toca para o lado de cabeça, está lá Torres a fazer de tabela, devolvendo a bola de primeira ao francês. Depois, o que se viu foi a classe do avançado que este ano anda de pé-quente, a avançar para a área (Boateng e Javi, ao invés de o perseguirem, quiseram ser bandeirinhas e ficaram de braço estendido no ar; Griezmann não estava em fora-de-jogo, diga-se) e a rematar à saída de Neuer. O Bayern teria de marcar mais dois golos para virar a eliminatória.

Quando mais insistiu (sobretudo na primeira parte), o Bayern não marcou. Ou pelo menos não alargou a vantagem de 1-0. Mas marcaria, com o jogo mais mortiço do que então. Alaba, na esquerda do ataque, engatou a primeira, deixou Juanfran a vê-lo ir, cruzando o austríaco para o segundo poste. Estava lá Vidal, que é baixinho mas saltou mais alto que o matulão Jiménez, amortecendo a bola para dentro, e aí é o território de Lewandowski; o ponta-de-lança polaco, furtivo como só ele, desviou de cabeça nas barbas de Godín e Oblak. Íamos com 76′ de jogo. Diego Simeone não acreditava nas facilidades que os seus defesas, do lateral aos dois centrais, deram ao Bayern neste ataque. Mas ainda estava em vantagem, El Cholo.

Penálti. Mais um. Mas este não foi. Aos 84′, Torres disparou pela esquerda, ganhou a frente a Javi Martínez, e caiu, tocado pelo médio/central do Bayern. O problema é que caiu fora da área, mas Cüneyt Çakır achou que não e apitou de pronto. Não sabemos se por justiça divina se por mera aselhice, mas a verdade é que foi o próprio Fernando Torres a bater o penálti, atirando para o lado que Neuer escolheu: o direito. E o alemão defendeu.

Contas feitas, ainda não é desta que Pep Guardiola vence uma Liga dos Campeões longe da Catalunha. Dificilmente a vencerá em Munique, pois está de saída, mas em Manchester terá muitos milhões de dirhams (a moeda dos Emirados e do City) para investir e tentar novamente. Certo é que Simeone voltará a uma final. Perdeu a primeira que disputou no estádio da Luz, e perdeu-a como mais dói perder: aos 120′ do tempo extra. Quem sabe não vingará a derrota diante do carrasco de então, o Real, que amanhã recebe o Manchester City no Santiago Bernabéu. Na primeira-mão o placard ficou-se pelo nulo.