O encontro tem pouco de secreto, porque já se sabe hora e até local. Marcelo Rebelo de Sousa vai reunir-se com representantes da Renamo à tarde, na residência da embaixada portuguesa em Moçambique, na prática, em solo nacional. A reunião acontece no dia em que o Presidente português esteve no Parlamento, onde a chefe da bancada parlamentar do partido da oposição à Frelimo pediu mediação internacional.

Em declarações aos jornalistas, Ivone Soares diz que só a “mediação internacional pode resolver os problemas de fundo que são a questão das Forças Armadas, que neste momento estão partidarizadas, e a democracia que não existe em Moçambique”. A líder parlamentar da Renamo esteve com Marcelo de manhã, numa reunião no Parlamento, com os representantes das outras bancadas (Frelimo e MDM) e também com a presidente da Assembleia da República. Horas depois da reunião, o próprio Presidente remeteu para mais tarde uma posição face ao pedido da Renamo.

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Ivone Soares, que também é sobrinha de Afonso Dhlakama — o presidente da Renamo –, não poupou críticas fortes à Frelimo e às justificações sobre o uso da força por parte da Renamo: “O que está a fazer é a garantir a sua autoproteção. Em Moçambique há guerra, isso não é novidade para ninguém. O Governo não quer assumir porque tem receio de afastar os investidores”.

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Estou aqui a falar mas sei que diariamente há esquadrões da morte que têm estado a matar os nossos colegas, o nosso presidente sofreu três atentados contra a sua vida, o nosso secretário-geral foi baleado”, acusa Ivone Soares, da Renamo.

A deputada garante que a ação do exército não foi alvo de consulta no Parlamento e diz que se passa sobretudo “em zonas onde a Renamo é forte, no norte e centro do país”. Dhlakama estava na lista do protocolo, por ser líder da oposição, para o jantar que o Presidente português oferece amanhã em Maputo, no hotel Polana. Questionado sobre a origem do convite, Marcelo disse aos jornalistas: “Não sei mas vou saber, porque as autoridades moçambicanas é que escolhem a lista”. De qualquer forma, o líder da Renamo não comparecerá no jantar.

O Presidente português tem-se mantido cauteloso, nesta visita de Estado a Moçambique, recusando interferir nas questões de um “Estado soberano”, mas mostrando vontade de ajudar. Antes de ir para Maputo, Marcelo esteve em Roma e chegou a encontrar-se com a Comunidade de Santo Egídio, a comunidade católica que foi fundamental para a assinatura do Acordo de Paz, em Roma em 1992, depois de 16 anos de conflito armado entre as duas forças políticas.