É a crise da “falta de liderança”, dos refugiados, do Reino Unido e da Grécia. Para Martin Schultz, presidente do Parlamento Europeu, a “policrise” que a União Europeia enfrente pode enfraquecê-la. “Não é certo que a União Europeia saia destas crises mais forte”, disse em entrevista ao Diário de Notícias. O facto de “os que querem destruir” o projeto europeu estarem a ganhar eleições não o descansa, porque apesar de ainda não serem a maioria, são “uma minoria hostil muito ruidosa”.

“Continuamos a ser uma bicicleta, mas sem ar nos pneus. Temos inúmeros problemas para resolver. Continuamos a pedalar. Mas os nossos instrumentos não estão na melhor forma”, disse Martin Schultz sobre o projeto europeu.

Na entrevista que deu ao Diário de Notícias, Schultz afirmou que a União Europeia é “a região mais rica do mundo, mas a distribuição da riqueza não é justa nem equitativa”, porque uma parte dos Estados membros decidiram colocar “os interesses nacionais em primeiro lugar” e que, noutras gerações de políticos havia o entendimento de que “uma Europa forte é a melhor proteção” para os Estados-membros.

“A falta de liderança na União resulta de hoje haver primeiros-ministros que vêm a Bruxelas dizer ‘eu tenho de defender o melhor interesse do meu país’. Presumem que o interesse de um país é atacado em Bruxelas e por isso tem de ser defendido. Dito isto, todos os primeiros-ministros portugueses, especialmente o que está em funções, são muito fortes e convictos na defesa de um aprofundamento da integração europeia”, afirmou.

Assumindo que não é um defensor de medidas de austeridade, acrescenta que a economia que diz que tem de se cortar apenas nos orçamentos públicos “é uma política errada”, porque é preciso “investimento estratégico em crescimento”, especialmente na educação. “Nunca se conseguirá sanar as contas públicas através de cortes”, afirmou, acrescentando que “aqueles que têm mais dinheiro e que o podem pôr em paraísos fiscais devem contribuir para a gestão dos custos do bem-estar público”.

Sobre a Grécia, Schultz afirmou que não se deve pedir mais medidas aos gregos:”Devemos dar-lhe o tempo necessário, até 2018″. E em relação ao populismo e à xenofobia, confessa-se irritado com os “países que não estão a participar” na redistribuição de refugiados, tendo contribuído para criar esta crise, depois critiquem a UE “por não ser eficaz na gestão da crise”. Para o líder do parlamento, os países que não participam na “solidariedade” que é precisa na Europa “devem, pelo menos, contribuir financeiramente, como uma forma de alívio para os países que gerem a crise”.

“Precisamos de mais honestidade. As fronteiras internas foram abolidas por razões económicas e não apenas pela livre circulação de pessoas. O encerramento de fronteiras internas significa o bloqueio de um dos mais importantes elementos do nosso sucesso económico, que é a livre circulação no mercado único. As pessoas devem ser razoáveis”, afirmou.

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