O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) apresenta a partir de quarta-feira “O museu que não se vê”, uma exposição que seleciona 314 peças das suas reservas, algumas pela primeira vez mostradas ao público.

Entre o que vai ser mostrado pela primeira vez ao público, o diretor do MNAA referiu uma coleção de desenhos do ciclo de Rembrandt (século XVII) e outros de autoria de Pietro Perugino e de Raphael (séculos XV e XVI) e esculturas de Antonio Canova.

“Reunimos peças que, algumas delas podiam fazer parte do percurso museográfico, mas que habitualmente estão fora do olhar público, por outro lado é uma exposição que é um reflexo sobre nós próprios”, disse o diretor do MNAA, António Filipe Pimentel.

O responsável definiu a exposição, que estará patente até 25 de setembro, como “diacrónica e polissémica”, que percorre diferentes períodos — desde a Antiguidade Egípcia, com uns leões ptolomaicos, ao século XIX com pintura, por exemplo de Domingos Sequeira, e reúne diferentes disciplinas da arte desde a pintura aos esmaltes, desenho, tapeçaria, escultura, ourivesaria, mobiliário e têxteis.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A exposição aponta em diversas direções”, disse o diretor, que realçou a importância do MNAA como “ativo nacional” com um papel económico, nomeadamente na área do turismo

A exposição revela também “o trabalho de investigação e o olhar crítico do museu”, refletindo a contemporaneidade.

O primeiro núcleo da exposição, que entre outras peças inclui um pluvial do século XVI, que pertenceu ao Mosteiro dos Jerónimos, e um baixo-relevo de Santo Agostinho que pertenceu à antiga igreja de S. Vicente Fora, ambos em Lisboa, reflete “uma nova sacralização”, pois os objetos estão expostos pelo seu valor estético, criando a sacralização da arte ao passarem a fazer parte de um museu, explicou o diretor.

Outro núcleo inclui cerca de 12 peças e apresenta “o museu enquanto limbo”. Nesta área expõem-se obras que pelo seu estado de conservação não podem fazer parte da exposição permanente, mas também atribuições duvidosas a determinadas peças, como uma tela atribuída a Lucas Cranach (o velho), mas que há dúvidas sobre a sua autoria, e uma atribuída a David Teniers, ou pratas que são cópias do século XIX.

António Filipe Pimentel afirmou que o trabalho de investigação e a troca de informações com museus congéneres na Europa, permite ir conhecendo melhor as peças e em alguns casos determinar a sua autenticidade ou levantar questões sobre elas.

Uma das áreas do museu, através da instalação de um jogo de caixas, permite ao visitante espreitar para o espaço das reservas.

Entre outras peças, refira-se a tapeçaria flamenga em depósito no MNAA “À maneira de Portugal e da Índia”, que se destaca no núcleo dedicado à “viagem” e que reflete “o encontro de culturas e como um povo via o outro”, neste núcleo, que mostra “um mundo que se entrecruza”, há um conjunto de diferentes tipos de malas de viagem, um dossel desmontável para viagem e um altar móvel que acompanhava o viajante.

António Filipe Pimentel afirmou à Lusa que a exposição realça a necessidade de ampliação do museu, cujos constrangimentos físicos do edifício não permitem a exposição de mais peças, mas deposita esperanças no plano de pormenor das Janelas Verdes, recentemente aprovado pela Câmara de Lisboa, que “protege uma área em torno do museu, que pode ganhar uma frente nova na avenida de 24 de julho, o que lhe dará uma outra dimensão”.

O diretor estima que o MNAA detenha cerca de 50.000 peças, das quais 8.000 estão em exposição.

O Museu está instalado no palácio mandado construir, em finais do século XVII, pelo 1.º conde de Alvor, mais tarde residência de Paulo de Carvalho, irmão do marquês de Pombal, e posteriormente, do cônsul da Holanda, Daniel Gildemeester, negociante de diamantes, e que promoveu obras de qualificação dos interiores.

O MNAA, procurando adaptar-se ao crescimento das suas coleções e às novas exigências museológicas, tem realizado sucessivas obras de ampliação, na primeira metade do século XX construiu um anexo a poente, num projeto do arquiteto Guilherme Rebelo de Andrade, seguindo-se um acrescento à ala oriental, feito entre 1942 e 1947, destinado a auditório, biblioteca e gabinete de estampas.

Recentemente, o MNAA, foi alvo de obras de modernização, em 1983, antes da XVIII Exposição de Arte, Ciência e Cultura, e em 1992-1994, em vésperas de Lisboa – Capital Europeia da Cultura, pelo arquiteto João de Almeida.