Lisboa e outras cidades portuguesas correm (um grande) risco de ter um incêndio semelhante ao que deflagra na região de Alberta, no Canadá. Entre as razões apontadas estão a proximidade a zonas florestais, a existência de terrenos baldios junto ou dentro das cidades e as alterações climáticas. Os dados foram revelados pelo The Guardian que, na sequência do devastador incêndio florestal que atingiu (e destruiu) a cidade canadiana de Fort McMuray (ainda não controlado), foi procurar as razões e quais as cidades são tão vulneráveis a estes fenómenos.

A tragédia que assolou Fort McMurray deveu-se uma conjunção de vários fatores, a começar pela localização da cidade, que está completamente rodeada por floresta. O fenómeno meteorológico El Niño também teve alguma responsabilidade, já que provocou um inverno mais seco do que é habitual no Canadá, aliado a temperaturas mais altas do que é habitual nesta altura do ano na região, levando à antecipação da época de incêndios.

Na Europa também é comum encontrar espaços urbanos junto a zonas florestais ou rurais. O estudo liderado por Heiko Balzter mostra que o abandono de zonas agrícolas e a invasão de mato criam regiões abandonadas com condições propícias à deflagração de incêndios. Acresce ainda o risco de se tratarem de zonas suburbanas com sobrepopulação e de existir uma urbanização massiva junto às cidades turísticas. O autor do estudo elenca Lisboa e outras regiões de Portugal como exemplos, mas menciona também o sul de França, sul de Espanha e a Grécia.

Explica ainda que as regiões mediterrânicas estão ameaçadas pelas alterações climáticas, já que deverão ficar mais secas devido a menos chuva e aumento das temperaturas. Balzter acredita que “sob os efeitos das alterações climáticas, independentemente da questão da junção de zonas selvagens [florestais] e urbanas, toda a região [mediterrânica] está sob um grande risco de incêndio”.

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Mas os riscos que as alterações climáticas acarretam não se ficam pelo sul da Europa. No Equador, a região de Quito é frequentemente afetada por sismos, inundações e incêndios florestais que, só em 2012, foram cerca de 2.600. Na Austrália, as áreas metropolitanas de Sydney, Melbourne e Camberra são frequentemente afetadas por incêndios.

Greg Bankoff, responsável pela edição de “Flammable Cities: Urban Conflagration and the Making of the Modern World” (“Cidades Inflamáveis: Conflagração Urbana e a Contrução do Mundo Moderno” em tradução livre), relembra que este é um problema que afeta os países desenvolvidos e em desenvolvimento de forma diferente. Ainda que as alterações climáticas sejam um problema global e a construção urbana junto a zonas florestais seja comum um pouco por todo o mundo, a capacidade de resposta e até mesmo a estrutura das cidades difere muito.

Em zonas como as favelas do Brasil, em que há uma grande concentração de população num espaço limitado e em que os materiais de construção são de pouca qualidade e, geralmente, frágeis e inflamáveis, o combate aos incêndios e a evacuação da zona é muito mais difícil.

Em todos os casos apontados, houve falhas no ordenamento do território, que falhou na avaliação do risco de incêndio. É necessário planear melhor as urbanizações e é preciso, também, ter planos de contingência para que quando o inevitável aconteça, as consequências não sejam catastróficas.