Uma incubadora é, literalmente, um ecossistema que mantém condições favoráveis ao nascimento, crescimento e desenvolvimento de um organismo. No caso das startups, a primeira regalia que vem à cabeça de um empreendedor é o espaço para trabalhar, geralmente bem decorado, com acesso a várias condições, da limpeza ao café, todas a um preço bem mais baixo do que o do mercado.

No entanto, embora sejam características apelativas, a mais-valia de um incubadora não é um espaço. São as pessoas que estão lá. Quem o diz são os próprios responsáveis por algumas das mais relevantes incubadoras do país, parceiras do programa Ativar Portugal Startup 2016, promovido pela Microsoft.

“O foco, para além do contexto de área de trabalho, passa pela integração numa comunidade e no acesso a uma rede de mentores, parceiros e outras startups que permitem evoluir e potenciar ainda mais o desenvolvimento dos seus produtos”, afirma Tiago Sequeira, diretor da Startup Braga, uma incubadora que acolhe nas próprias instalações 20 empresas e mais 50 de forma virtual.

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Também Ana Santiago, Head of Communication da Startup Lisboa, salienta o papel essencial de uma incubadora, que extravasa o benefício de ter um escritório “mais barato”: “a grande vantagem é pertencer a uma comunidade de empreendedores com quem podem partilhar experiências, problemas, ideias e até encontrar parceiros”.

A própria Startup Lisboa, à semelhança das restantes entrevistadas, promove o contacto entre as startups que incuba e potenciais clientes ou parceiros, aumentando a sua vantagem competitiva. Além disso, tem uma rede de mentores especialistas em várias áreas que aconselham pro bono os empreendedores, para não mencionar também o apoio jurídico e ao desenvolvimento do negócio, cruciais para qualquer projeto.

Com tudo isto, não é de estranhar a grande procura que estas incubadoras têm. E nem todos os empreendedores chegam lá. As 90 startups que a Startup Lisboa acolhe até três anos – metade em regime virtual – tiveram de passar por um processo de candidatura exigente. “Temos dois critérios de seleção: em primeiro lugar, mais do que a ideia, é preciso ter um bom modelo de negócio e uma capacidade de crescimento altamente escaláveis; em segundo, a qualidade da equipa, com capacidade para executar esse modelo de negócio”, explica Ana Santiago.

O empreendedorismo começa nas universidades

As especializações em áreas específicas, promovendo a aprendizagem e o conhecimento, são outra mais-valia que as incubadoras proporcionam. A Startup Braga tem vindo a focar-se na Medtech (tecnologia médica) e Nanotech (nanotecnologia) como áreas de especialização, o que lhe permitiu estabelecer parcerias estratégicas com o Hospital de Braga ou o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia.

No entanto, Tiago Sequeira, diretor da Startup Braga, salienta outro tipo de parceria, que começa quando os empreendedores são ainda jovens. A proximidade com unidades curriculares da Universidade do Minho permite aos jovens estudantes obter feedback em relação aos seus próprios projetos por parte da comunidade da incubadora. “Esta realidade dá também espaço para que exista um trabalho conjunto de procura de novas ideias e produtos, fazendo ligação a centros de investigação que potenciem essa realidade”, sublinha.

Neste contexto, é incontornável a ação do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), uma incubadora marcadamente académica. Neste caso, é a relação com a universidade que a torna atrativa. “Promovemos uma série de programas que aproximam as empresas das universidades, desde desafios lançados pelas próprias empresas aos alunos, como parcerias empresariais na estratégia de desenvolvimento de projetos lançados pelos estudantes”, exemplifica Fátima São Simão, diretora de desenvolvimento do UPTEC, que já apoiou 370 projetos empresariais desde 2007.

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UPTEC / FERNANDO VELUDO/LUSA

Um desses programas passa pela unidade curricular de Laboratório de Gestão de Projeto da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, na qual os alunos desenvolvem projetos para empresas. Outra colaboração aproxima as empresas e os alunos de doutoramento em Design das Universidades de Aveiro e do Porto, na mesma lógica. “Esta interação entre investigadores e empresas permite que os alunos usem as empresas como própria matéria de investigação e que as empresas encontrem soluções junto deles”, sublinha Fátima São Simão.

Embora a Startup Lisboa não seja uma incubadora académica, também gosta de estar próxima das universidades. Além dos esforços de “evangelização” nas próprias universidades, Ana Santiago destaca a Startup Lisboa Momentum, uma bolsa para licenciados e pré-licenciados com uma ideia de negócio, mas sem capacidade financeira para a concretizar.

A bolsa, com a duração de 12 meses, inclui incubação gratuita na Startup Lisboa, alojamento gratuito caso o empreendedor não seja de Lisboa e um pocket money de 500 Euros mensais para despesas pessoais. A segunda edição desta iniciativa está quase a começar.

Mas, afinal, quem são os empreendedores?

Mas será o jovem universitário o típico empreendedor? “Não”, responde assertivamente Ana Santiago. “A maior parte dos empreendedores são pessoas que já trabalharam por conta de outrem, que têm agora uma ideia de negócio para desenvolver e alguma capacidade financeira.” Ao contrário dos EUA, por exemplo, em Portugal, na sua opinião, as universidades ainda não promovem muito o empreendedorismo.

Por sua vez, a própria diretora de desenvolvimento do UPTEC salienta os riscos do empreendedorismo académico, se não for bem gerido. “Muitas vezes, os alunos ficam muito tomados pelo tempo que a ideia de negócio lhes leva, acabando por limitar o seu percurso académico.” A solução passa por integrar a ação empreendedora nas próprias unidades curriculares dos cursos para que os alunos possam dedicar-lhes tempo, mas com retorno para o próprio curso, e assim desenvolver o espírito empreendedor de forma consolidada.

Num mundo de startups bastante competitivo, parece não haver competitividade entre as próprias incubadoras. “Coopetição”, como Ana Santiago refere, parece ser a palavra de ordem. Até porque quando mais incubadoras existirem, mais forte será o ecossistema empreendedor.