Morley Safer, jornalista da CBS, morreu esta quinta-feira em Manhattan, aos 84 anos, conta a CBS News. Safer trabalhou praticamente até aos últimos dias da sua vida: anunciou a reforma na semana passada, por o estado de saúde estar a piorar. Não foi revelada ainda a causa da morte.

Safer entregou-se ao jornalismo durante 61 anos da sua vida. O famoso programa da CBS, o “60 Minutes”, transmitido em Portugal pela SIC, tinha em Morley Safer uma das suas estrelas há 46 anos. O tom e a colocação da voz são inconfundíveis. As perguntas sem filtro e o silêncio à espera das respostas eram igualmente penetrantes.

Era uma referência do jornalismo. E saltou para a ribalta quando cobriu a Guerra do Vietname. Safer fez mais do que isso: mostrou aos americanos algo que não estavam preparados para ver, como os soldados do seu país a incendiarem aldeias inteiras, como aconteceu em Cam Ne, como mostra o vídeo em baixo. Esta reportagem seria classificada como uma das melhores peças de jornalismo do século XX pela Universidade de Nova Iorque.

“Morley Safer morreu. Um contador de histórias magistral, uma inspiração para muitos de nós e um amigo maravilhoso”, escreveu no Twitter Jeff Fager, o produtor executivo do “60 Minutes”. A CBS fala num “correspondente icónico” que mudou a forma de reportar os acontecimentos, precisamente pelo que mostrou diretamente do Vietname.

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Recentemente, Safer tratava assuntos na área da ciência, cultura e arte. A CBS lembra algumas histórias marcantes do jornalista, que “escreveu ensaios elegantes”, e lembra com mais destaque a entrevista a Ruth Madoff, em 2011, que quase 19 milhões de pessoas viram. Aí fez as questões difíceis, nomeadamente a obrigatória: como poderia Ruth não saber do esquema do seu marido, Bernard Madoff.

“Morley foi um dos mais importantes jornalistas de qualquer meio, de sempre”, disse Leslie Moonves, o patrão e CEO da CBS. Moonves considera que Safer mudou a forma de se fazer reportagem e que o seu nome será eternamente um sinónimo de 60 Minutes. “Ele era também um cavalheiro, estudioso, um grande contador de histórias — tudo isso e muito mais para a gerações de colegas, a sua legião de amigos, e a sua família, a quem prestamos as mais sinceras condolências pela perda de um dos grandes tesouros da CBS e do jornalismo”. Morley diz ainda que Safer era “um dos pilares” e uma “inspiração” para aquele canal de televisão. “Vamos sentir muito a sua falta.”

O presidente da CBS News, David Rhodes, também já reagiu à morte e referiu que Safer “ajudou a criar” o canal tal e qual como é hoje. “Nenhum correspondente teve uma leque tão extraordinário, desde reportagem de guerra a todos os aspetos da cultura moderna.”

Safer nasceu em Toronto, Canadá, em novembro de 1931 e tinha dupla nacionalidade norte-americana. Considerava-se um homem “sem país”, talvez pelas temporadas no estrangeiro. “Eu trago uma perspetiva diferente e não tenho quaisquer interesses”, disse a uma revista em 1998. O homem que seguia num helicóptero quando este foi atingido, no Vietname, e que mesmo assim continuou a reportar deixou o jornalismo esta quinta-feira, aos 84 anos. Deixou-o de vez e mais pobre.

https://www.youtube.com/watch?v=YrCSB8B6pNA