O Banco Central Europeu nota que existe preocupação dos mercados com Portugal, “mas não excessivamente”, ainda que existam dúvidas sobre algumas das reformas que estão a ser revertidas, como é o caso da redução do horário de trabalho, com o regresso às 35 horas semanais. “Quais são as implicações orçamentais, por exemplo, se se voltar para a semana de 35 horas?”, questiona um dos seis membros do conselho executivo do banco central.

Em entrevista ao Público, publicada na edição desta segunda-feira, o belga Peter Praet nota que, visto pelas instituições europeias, Portugal ainda vive “um período em que existem pontos de interrogação” e que há “uma série de coisas que não estão ainda claras para o Orçamento de 2016”. Para o economista, uma das interrogações surge perante a medida que o Governo se prepara para aplicar, a partir de 1 de julho: o horário de trabalho semanal pré-troika. As “reformas têm de ser continuadas”, avisa o economista-chefe do BCE.

Há algumas reformas que foram revertidas, e precisamos por isso de levantar uma série de questões. Quais são as implicações orçamentais, por exemplo, se se voltar para a semana de 35 horas? Este ainda é um período em que existem pontos de interrogação”.

Também existem “algumas dúvidas” sobre “os pressupostos macroeconómicos” das contas nacionais, diz Praet, apesar de reconhecer que “há uma declaração política de continuidade e de intenção de seguir regras europeias”. A desconfiança maior do economista do BCE vai para o “número previsto para o crescimento do PIB”. Peter Praet também avisa que Portugal só conseguiu taxas de juro mais baixas “porque cumpriu o seu programa” de assistência financeira e não descarta que a ação do BCE nesta matéria, em termos europeus, possa ir mais longe: “No mapa que traçámos para a evolução das taxas de juro, dissemos que as taxas irão permanecer aos níveis atuais ou mais baixos. Por isso, isto significa que as taxas de juro ainda são uma possibilidade“.

O que interessa nos bancos é que sejam bem geridos, não que sejam detidos por nacionais”.

Sobre a situação da banca, o economista desvaloriza a questão que tem dominado o debate em Portugal sobre a absorção dos pequenos bancos nacionais pelos grandes bancos europeus e diz mesmo ser “absolutamente vital que se evolua em direção a bancos pan-europeus, bancos que esteja geograficamente diversificados e que tenham uma garantia de toda a união monetária como um todo”. Praet considera que os sistemas bancários são “mais nacionais do que eram”, no geral, e que isso acaba por defendê-los menos das crises que os países possam enfrentar.

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