O primeiro-ministro afirmou esta segunda-feira esperar que não haja rutura no acordo entre a Turquia e a União Europeia e considerou que a fixação dos refugiados na Alemanha constitui um mau sinal sobre o estado da Europa.

Posições que foram assumidas por António Costa em declarações aos jornalistas no final do primeiro dia da Cimeira Humanitária Mundial, que termina terça-feira em Istambul, na Turquia.

Confrontado com a ameaça da Turquia de romper o acordo com a União Europa para o controlo do fluxo de refugiados, na sua maioria deslocados devido às guerras na Síria e Iraque, o líder do executivo português disse esperar que tal acabe por não acontecer.

“Esse acordo é de facto muito complexo, contendo uma série de equilíbrios e pressupostos”, referiu, apontando depois que a Turquia só acedeu porque teve a garantia da eliminação do controlo de vistos.

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Por sua vez, segundo António Costa, a União Europeia acedeu ao acordo “porque a Turquia se disponibilizou a acolher um conjunto de refugiados que se encontravam na Grécia em situação de crise humanitária”.

“E a Grécia fez o acordo com a Turquia com base nesse mesmo pressuposto”, completou o primeiro-ministro.

Como tal, de acordo com António Costa, se alguma das componentes desse acordo falhar, então, de facto, “pode estar em crise a totalidade do acordo”.

Sobre o processo de colocação de refugiados em Portugal, o primeiro-ministro reconheceu a existência de dificuldades, parte das quais de tipo burocrático.

“Não tem sido fácil os refugiados acederem aos pedidos de asilo e não tem sido fácil o processo de recolocação, porque há muitos entraves burocráticos”, referiu.

Mas António Costa também aludiu ao facto de uma grande maioria de refugiados pretender entrar na Alemanha e não em outros países da União Europeia, como Portugal.

“Também importa respeitar a escolha das pessoas. É natural que quem vem para a Europa prefira escolher imediatamente um país que dê perspetivas de maior crescimento económico e maior facilidade de obtenção de emprego”, justificou.

O primeiro-ministro referiu então que visitou em abril um campo de refugiados na Grécia, na periferia de Atenas, onde verificou que “o sonho de todos os que ali se encontravam era Alemanha, Alemanha, Alemanha”.

“A Alemanha é hoje o país que representa o sonho de futuro para muito dos que acorrem à Europa. Aliás, é um mau sinal do estado em que a Europa se encontra esta visão de que só a Alemanha é promissora de prosperidade”, advogou.

Em relação ao processo de colocação de refugiados em Portugal, António Costa disse que, ao longo deste mês, “estão previstas várias relocalizações, quer no âmbito dos acordos bilaterais, quer ao nível das nossas quotas no programa da União Europeia”.

Nesta crise, de acordo com o líder do executivo, “Portugal tem também procurado valorizar um aspeto, onde tem provas dadas e que tem a ver com a valorização da educação, sobretudo o Ensino Superior”.

“A experiência que tem sido desenvolvida com a iniciativa do antigo Presidente da República [a Plataforma para os Estudantes Sírios] tem sido um exemplo bem acolhido por toda a gente e, principalmente, um exemplo de que é essencial não apenas trabalhar na educação das crianças, mas também ao nível superior, sob pena dos países, uma vez passadas as guerras e as calamidades, perderem uma geração fundamental para a recuperação e para o seu futuro”, acrescentou.