A China está a desenvolver esforços para se tornar uma potência científica a nível global e não tem olhado a despesas para conseguir atingir esse objetivo. A ambição científica dos chineses é imensa e os investimentos que têm feito em Ciência têm sido na mesma medida. Para além de levarem a cabo algumas das maiores experiências do mundo, têm também tentado implementar novas técnicas médicas em larga escala e pretendem contribuir para alargar as fronteiras do mundo como o conhecemos através da exploração quer das profundezas dos oceanos, quer dos limites do Espaço.
A aposta na Ciência tem sido tão elevada que o país subiu dos últimos lugares dos rankings da ciência mundial quase até ao topo. Atualmente, a China ocupa o segundo lugar a nível mundial, apenas atrás dos Estados Unidos da América, tanto em investimento na investigação como em número de artigos científicos publicados. A BBC foi à China e descobriu cinco grandes projetos de investigação chineses, que prometem fazer a diferença a nível global.
O maior radiotelescópio do mundo
Está a ser construído na China o maior radiotelescópio do mundo, com 500 metros de diâmetro, o equivalente a 30 campos de futebol. O radiotelescópio tem o aspeto de um prato de uma antena parabólica de grandes dimensões e permite captar as ondas emitidas por fontes de rádio. A enorme antena fica na província de Guizhou, no sudoeste do país. É o maior radiotelescópio jamais construído.
Chinese 500m FAST radiotelescope progress within 1 year pic.twitter.com/Z898W9iAW2
— Astronomicon.eu (@AstronomiconEu) April 29, 2016
“Na China, em relação à astronomia estávamos muito atrás do resto do mundo”, diz o professor Peng Bo, vice-diretor do Aperture Spherical Telescope (cuja sigla em inglês é FAST).
Um telescópio como o Telescópio Espacial Hubble utiliza a luz para ver o Universo visível, mas um radiotelescópio funciona quase como uma orelha gigante e consegue “ouvir” ondas de rádio emitidas por objetos no espaço profundo, conta a BBC.
As ondas de rádio são uma forma de radiação eletromagnética, com comprimentos de onda que variam entre 1 milímetro e os 100 quilómetros de comprimento. Quando maior for o prato de um radiotelescópio, maior a quantidade e amplitude dos sinais que consegue captar.
Os chineses esperam que o seu radiotelescópio, com um prato de 500 metros de diâmetro, consiga captar as ondas de rádio que chegam dos confins do Universo. Um dos objetivos é tentar perceber como o universo evolui. A hipótese de encontrar sinais de vida extraterrestre também não está completamente posta de lado pelos investigadores chineses.
Córneas de porco para cegos
A China está na linha da frente a nível mundial numa técnica inovadora de transplantação de córnea de porco em olhos humanos. Depois do abate dos animais para consumo humano, as córneas são separadas para o transplante. O país tem cerca de um milhão e 400 mil cegos, ou seja, cerca de um quinto da população mundial de cegos. Para muitos, um transplante é a única solução, já que uma lesão ou infeção da córnea, se não for tratada, pode levar à perda de visão.
VIDEO: Chinese man given pig's cornea https://t.co/zZt2Ct1WU9
— BBC News (World) (@BBCWorld) May 23, 2016
A lista de espera para o transplante de córnea humana é muito longa e não existem córneas humanas em quantidade suficiente. Na China, a principal fonte de órgãos para transplantar eram os prisioneiros executados, mas a prática era alvo de muita controvérsia e foi abandonada. O governo tem apelado à doação póstuma, mas os bancos de órgãos ainda estão aquém das necessidades. Como forma de combater a falta de córneas para transplante, o governo autorizou os transplantes experimentais de córnea de porco em humanos — já se realizaram cerca de 200.
Chinese hospital transplants pig’s cornea in human for the first time https://t.co/XoiEClkPwq pic.twitter.com/W98xUrg8jc
— CGTN (@CGTNOfficial) March 13, 2016
Em busca dos neutrinos
Os neutrinos são gerados a partir de reações nucleares e são das partículas mais abundantes no universo. São tão pequenas que não conseguimos senti-las ou vê-las e continuam a ser um dos mistérios da física. Na China, os cientistas estudam os neutrinos, uma das mais estranhas partículas subatómicas do Universo, nas profundezas de uma montanha de granito na Baía de Daya, no sul da China, 300 metros abaixo da superfície.
Os neutrinos são partículas que estão constantemente a mudar e viajam através do Universo adquirindo diversas formas. Tanto quanto se sabe até ao momento, nenhuma outra partícula se comporta desta forma. A experiência que está a ser levada a cabo na Baía da Daya tem por objetivo saber mais sobre os neutrinos.
#JUNO Taglio del nastro per il Jiangmen Underground Neutrino Observatory (JUNO) http://t.co/ZrjdkNwxa5 pic.twitter.com/H6mFyKqDw0
— INFN (@INFN_) January 12, 2015
Até ao momento, a equipa internacional que estuda os neutrinos na China já conseguiu calcular com maior precisão como é que se processa a mudança dos neutrinos de uma forma para outra. “Todos os dias milhares detetamos milhares de neutrinos. É uma idade de ouro, muito emocionante para a física de neutrinos”, disse o físico Cao Jun à BBC.
Explorar as profundezas dos oceanos
A China pretende lançar-se na exploração dos oceanos profundos, com o navio Rainbow Fish. O barco tem mais de 100 metros de comprimento e foi construído para a investigação científica. O navio é um verdadeiro laboratório flutuante e está equipado com a mais recente tecnologia, com a missão de explorar os oceanos.
Mas o navio também servirá como uma plataforma de lançamento de robôs submarinos, para que estes possam alcançar as profundezas do oceano.
“Os seres humanos sabem muito menos do oceano do que sobre a Lua e Marte. O nosso objetivo é desenvolver este mecanismo, de modo que os oceanógrafos possam alcançar águas profundas”, diz o professor Cui Weicheng, diretor da empresa privada do mesmo nome, encarregada de desenvolver e construir o novo submersível.
Num teste recente, um dos submarinos não tripulados atingiu os quatro mil metros de profundidade. O objetivo final é construir um submarino que permita levar seres humanos à parte mais profunda do oceano, a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, a uma profundidade de 11 mil metros.
Exploração espacial: viagem ao lado oculto da Lua
A primeira incursão da China no Espaço aconteceu em 1970, com o envio de um satélite que emitia uma música exaltando as virtudes de Mao Tsé-Tung. Nos últimos anos, o país tem avançado na conquista do Espaço e já fez vários lançamentos orbitais de sondas e taikonautas (o nome dos astronautas na China).
O programa espacial chinês é considerado de importância estratégica para o país e, ao contrário do que acontece noutros países, é dirigido por militares. As maiorias das agências espaciais do mundo, como a NASA (EUA), a ESA (Europa) e Roscosmos (Rússia) são dirigidas por entidades civis.
Em 2013 aterrou na Lua a primeira sonda chinesa em quase 40 anos. “O programa espacial chinês enfatiza o sucesso”, declarou o Professor Wu Weiren, diretor do programa lunar chinês à BBC.
“A União Soviética e os Estados Unidos têm aterrado várias vezes na Lua, mas ambos o têm feito na parte da frente (de frente para a Terra), não do outro lado”, acrescentou.
O programa de exploração espacial na China inclui uma ida e volta à Lua e uma visita à face oculta do satélite natural da Terra, prevista para 2018. Depois da Lua, a China quer também ir a Marte e, recentemente, anunciou que planeia visitar o planeta vermelho em 2020.
No futuro o país pretende ainda construir a sua própria estação espacial, pois estão impedidos de aceder à Estação Espacial Internacional por imposição dos Estados Unidos, que não concordam com o aspeto militarista do programa espacial chinês.