O músico e compositor António Chainho, de 78 anos, encerra as celebrações do seu cinquentenário artístico, na próxima terça-feira, em Lisboa, partilhando o palco com Rui Veloso, Hélder Moutinho, Mafalda Arnauth e os Adiafa.

O espetáculo, no Teatro Tivoli, conta ainda com a participação dos músicos Ciro Bertini (contrabaixo), Tiago Oliveira (guitarra clássica), Diogo Melo de Carvalho (percussões) e tem, como convidado especial, o saxofonista Cajó Soares.

Neste concerto, pela primeira vez, o mestre António Chainho partilha o palco com Rui Veloso, um dos músicos que participou no álbum “Cumplicidades”, editado no ano passado.

Em declarações à Lusa, referindo-se à participação do intérprete de “Chico Fininho” no CD, António Chainho contou: “Quando liguei para o Rui [Veloso], para o convidar, disse-me logo: ‘Até que, enfim, que me convidas para trabalhar contigo, é uma honra’. O Pedro Abrunhosa foi uma sugestão do meu agente, o Nuno Sampaio, que me disse que ele admirava o meu trabalho e que aceitaria o convite, e de facto assim foi”, contou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As iniciativas celebrativas dos 50 anos de carreira de António Chainho iniciaram-se no ano passado e, entre elas, conta-se um concerto esgotado no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a participação no X Guitar Art Summer Fest, em Herceg Novi, na República de Montenegro, e a atuação no Festival Terras sem Sombra, num concerto com o guitarrista clássico Jurgen Ruck, na igreja matriz do seu concelho natal, Santiago do Cacém, no Baixo Alentejo.

António Chainho iniciou a carreia no meio fadista, terminado o serviço militar obrigatório, durante o qual deu a conhecer os seus dotes musicais, numa digressão pelo território de Moçambique.

“Vim da minha aldeia, S. Francisco da Serra [no concelho de Santiago do Cacém, Beja], para Lisboa, em finais do ano de 1965, para tocar no restaurante típico A Severa, no Bairro Alto [em Lisboa]”, recordou à Lusa o músico, que assinala esta data como o início da sua carreira artística.

Anteriormente, tinha tocado no café de seu pai, datando de 1960 o seu primeiro contacto com o meio fadista, numa taberna na praça do Chile, em Lisboa, quando se apresentou ao serviço militar na capital, para o qual entrou em 1961.

Apontado como “um dos virtuosos da guitarra portuguesa” pela “Enciclopédia da Música em Portugal no século XX”, António Chainho acompanhou os mais diversos fadistas, destacando-se Carlos do Carmo, ao lado do qual esteve “durante mais de 20 anos”, mas também José Afonso, Rão Kyao, Gal Costa, Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto, Saky Kubota, Hideco Tchokyba, Paco de Lucia e John Williams, e gravou um disco com a The London Philarmonic Orchestra.

Entre a sua discografia destacam-se “A guitarra e outras mulheres”, em que colaboraram, entre outras, Teresa Salgueiro e Nina Miranda, “Entre amigos”, com Camané, Ney Matorrogo e Fernando Alvim, entre outros, “Guitarra portuguesa”, “Ao vivo no CCB”, com Marta Dias, e “LisGoa”, que contou com a participação de Natasha Lewis, Sonia Shirsat e Remo Fernandes, quer antecedeu “Cumplicidades”.

Este álbum, constituído por 18 temas, conta ainda com as participações de Paulo de Carvalho, Fernando Ribeiro, Hélder Moutinho, Pedro Abrunhosa, Paulo Flores, Filipa Pais, Ana Vieira e a brasileira Vanessa da Mata.

“Sinceramente nunca pensei que tivesse todos estes artistas, e com a facilidade que foi, o terem aceitado, e muitos deles frisando que era uma honra, que conheciam o meu trabalho – a gente nunca tem essa ideia de que os outros conhecem o nosso trabalho”, afirmou o músico que se afirmou “muito contente” com o resultado final.

“A guitarra portuguesa era apenas vista como um instrumento ligado ao fado, e havia que a levar a respirar outras sonoridades, e é o que tem acontecido e fico muito contente. Claro que o fado é indissociável da guitarra portuguesa, não é fado sem ela, mas há outras possibilidades, e atualmente há muita gente nova a tocar bem, a experimentar, o que é importante para o crescimento do instrumento”, disse.

“Uma das coisas que atualmente me deixa feliz é existirem escolas de guitarra portuguesa, pelas quais me bati há 20 anos”, realçou.

Referindo-se à sua criação musical, o músico afirmou que reflete “mestiçagens, fruto dos contactos com as músicas do mundo”.

“Tenho procurado traçar novos caminhos para guitarra portuguesa, e a minha música reflete as muitas viagens que fiz, os músicos com quem contactei e com quem trabalhei, procura o respirar as músicas do mundo”, rematou.