Luís Marques Mendes não tem dúvidas: o PS parece partir na frente para as próximas eleições autárquicas. Uma vitória dos socialistas, acredita o comentador, deixará Pedro Passos Coelho numa situação delicada.

“[Nas próximas eleições], ou António Costa sai reforçado e Passos entra em crise, ou António Costa entre em crise de liderança do Governo e Pedro Passos Coelho sai reforçado. [Mas] as coisas estão favoráveis ao PS. Eu não aposto em grandes mudanças”, afirmou Marques Mendes no seu habitual espaço de comentário político, na SIC. O PS ganhou as últimas eleições autárquicas, em 2013, e venceu em 150 câmaras municipais.

O antigo líder social-democrata falava a propósito das declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que na terça-feira chamou a atenção para a mudança de ciclo político depois das eleições autárquicas — declarações que foram interpretadas, inicialmente, como uma ameaça à estabilidade do Governo socialista. Um dia depois, em declarações ao Observador, o próprio Presidente da República veio esclarecer a questão. “Em Portugal há uma tradição de as autárquicas terem uma leitura nacional. Já houve vários casos. Não acho que o Governo vá cair” por causa das autárquicas, afirmou Marcelo.

Ora, Marques Mendes considera que o Presidente da República “disse o óbvio: as autárquicas têm sempre uma leitura nacional” e Marcelo reforçou esse caráter nacional das eleições. No fundo, “se o PS ganhar as eleições” e se o PCP “não estiver mal” este Governo “pode ir até ao fim da legislatura”. Se acontecer um contrário, então “pode haver aí uma crise política”, considera o social-democrata.

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A relação entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa acabou por merecer a atenção particular de Marques Mendes. Para o comentador, “houve algum distanciamento” entre primeiro-ministro e Presidente da República. “Entramos numa fase distanciamento, de coabitação distanciada”, alimentada por visões diferentes sobre o caminho de recuperação económica escolhido pelo Governo socialista.

Se o distanciamento entre Costa e Marcelo é compreensível, Marques Mendes também considera que as críticas de Francisco Assis ao Governo são coerentes com as posições que têm sido assumidas pelo eurodeputado socialista. Em entrevista ao Observador, o socialista defendeu que “a coligação não trouxe nada de bom ao país” — críticas que repetiu em entrevistas ao Expresso e ao DN/TSF. O comentador acredita que Assis “foi mais crítico para o Governo do que PSD e CDS” e que “está a mostrar uma coragem que não é normal na vida política”.

A terminar, o ex-líder social-democrata falou ainda do acordo alcançado entre operadores e estivadores do porto de Lisboa, um tema que acabou por dominar a agenda política da semana passada. Marques Mendes considera que o Governo “resolveu mal” a questão e explicou porquê: primeiro, sublinhou o comentador, este acordo impede a admissão de trabalhadores. E, por outro lado, prevê a “progressão automática na carreira” para os estivadores. Estamos perante um caso de “condicionamento industrial” e regras de progressão que parecem saídas da “tropa”.