“Em Mora, há um tempo antes do Fluviário e um tempo pós-Fluviário. É um projeto que marca de forma muito nítida a vida do concelho”, afirma o presidente da Câmara, Luís Simão, em declarações à agência Lusa.

Segundo o autarca, nas últimas décadas nenhum outro projeto teve idêntico impacto: “Criou cerca de 20 postos de trabalho diretos, praticamente todos para jovens que já não estariam por aqui se este equipamento não existisse, e impulsionou postos de trabalho indiretos na restauração e hotelaria”.

O equipamento, que mostra a fauna e flora dos rios ibéricos, num percurso desde a nascente até à foz, e também da bacia hidrográfica do rio Amazonas e dos grandes lagos africanos, também tornou este concelho do interior do Alentejo mais conhecido.

“Deu-nos uma notoriedade que não tínhamos, conseguimos colocar Mora no mapa”, salienta o autarca.

A gastronomia local “é riquíssima e conceituada”, mas não atraía “o turismo de massas que foi conseguido com o Fluviário”, continua Luís Simão, indicando que, nos quase nove anos em que o equipamento está aberto, “já atraiu cerca de 750 mil visitantes”.

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Um número “extraordinário” para um concelho que, atualmente, tem “cerca de cinco mil habitantes”, destaca, indicando que 60% dos visitantes são de Lisboa, 10% do Alentejo e “os restantes são das zonas próximas de Mora, como Santarém, Setúbal ou Leiria”.

Inaugurado em março de 2007, o Fluviário, situado no Parque Ecológico do Gameiro, na freguesia de Cabeção, é propriedade da câmara e custou cerca de sete milhões de euros, 50% assegurados por fundos comunitários e os outros 50% pelo município.

O espaço, que também “ganhou” um restaurante, entretanto, acolhe 600 peixes de 70 espécies, além de várias lontras, e é o único equipamento do género em Portugal. Quando abriu, foi mesmo pioneiro na Europa e o terceiro a nível mundial.

Eleito o melhor Museu Português em 2008, participa em projetos de conservação do saramugo e da boga de Lisboa, espécies endémicas nacionais, e, em 2010, começou a atribuir o Prémio Jovem Cientista, que distingue um estudante do ensino superior que publique um artigo sobre conservação e biodiversidade de recursos aquáticos continentais.

Para o antigo presidente da Câmara de Mora, José Manuel Sinogas, “pai” da ideia de criar este aquário, que classifica como “um museu vivo”, a aposta foi ganha.

“É um projeto emblemático. Mora é uma terra nova, sem castelos ou esse tipo de património histórico, mas tem um património natural muito grande, é o Alentejo verde ainda antes de existir o Alqueva. E quisemos com este projeto aproveitar esse conjunto de potencialidades ambientais”, lembra.

A ideia foi sugerida à volta da mesa, em 2001, num almoço do então autarca com Nuno Lecoq, antigo diretor do Parque da Reserva Natural da Ria Formosa.

“Foram lançadas várias ideias, mas eu disse logo que era esta que íamos fazer, até porque tínhamos o potencial necessário, com a ribeira do Raia, que corre todo o ano, a grande feira nacional de pesca [MoraPesca] que é realizada aqui e as duas pistas de pesca mais internacionais de Portugal”, relata.

O projeto foi explicado ao ministro do Ambiente da altura, Isaltino Morais, que encaminhou os responsáveis da autarquia para o seu secretário de Estado José Eduardo Martins. Este ajudou-o a passar do papel à realidade, valendo-lhe, da parte da Câmara, em 2007, a medalha “Mora Reconhecida”, na vertente da Cultura.

“Foi o único governante que ajudou a concretizar o Fluviário”, porque se tratava de “um projeto mal-amado por alguns decisores nacionais e pelos decisores alentejanos, que não queriam que se gastasse tanto dinheiro comunitário em Mora. Mas o certo é que o Fluviário se fez e dá postos de trabalho”, argumenta José Manuel Sinogas.

O antigo secretário de Estado recorda à Lusa que, na altura, teve de “impor” o projeto “a toda a gente”. Tudo porque acreditou “que estava ali uma ideia completamente diferenciadora e que ia fazer com que as pessoas tivessem interesse em ir a Mora”.

“Dei toda a força que pude à candidatura e, ao fim do segundo ano”, já com mais de 300 mil visitantes, “provou-se que tínhamos razão”, evoca José Eduardo Martins, que já foi ao espaço várias vezes, com os filhos: “Em Lisboa, onde resido, começo a conhecer poucas pessoas com filhos que ainda não tenham visitado o Fluviário”.