O comandante do Instituto dos Socorros a Náufragos (ISN) refere que há mais 3.000 nadadores-salvadores do que é necessário, mas os concessionários de praia queixam-se da falta de profissionais e dizem que a segurança está posta em causa.

Em vésperas de arrancar a época balnear em grande parte das praias portuguesas, o comandante do ISN, Nuno Leitão, afirmou à Lusa que existem 7.400 nadadores-salvadores certificados para o exercício da atividade, quando a necessidade é de 4.100 profissionais para trabalhar nas 1.250 unidades balneares.

“Houve um decréscimo de formação e certificação em relação a anos anteriores, mas de há três anos para cá os quantitativos estão acima das necessidades reais”, sustentou.

No entanto, o presidente dos concessionários de praia, João Correia, apontou como maiores dificuldades no setor “a falta de nadadores-salvadores”.

“Se a Marinha diz que há excesso de nadadores-salvadores, então que os coloque nas praias. Porque o problema é que muitos vão para as piscinas e as praias acabam por ficar sem ninguém”, explicou.

João Correia adiantou que as praias da Costa da Caparica (Almada, distrito de Setúbal) são as que mais sentem a falta de profissionais e, no seu entender, a segurança dos banhistas está em risco.

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“Nós não formamos os nadadores-salvadores, não temos maneira de os garantir. A situação está gravíssima. A segurança está completamente posta em causa”, afirmou.

Para o representante dos concessionários nacionais, a solução deveria passar pela obrigatoriedade de colocar os nadadores-salvadores a fazer um estágio em praias e só depois poderem escolher o local onde quisessem ficar a trabalhar.

“Se houvesse uma obrigação de os nadadores-salvadores irem 15 dias ou um mês para as praias e depois passarem o resto do verão onde quisessem, talvez a situação se resolvesse. Mas é a Marinha que tem de tratar disso. Esta situação entrou em rutura, completamente, e os concessionários são o elo mais fraco desta cadeia”, sustentou João Correia.

Confrontado com as queixas, o comandante do ISN sublinhou que a contratação de nadadores-salvadores é “da inteira responsabilidade e obrigação dos concessionários”.

“O problema aqui é que muitos concessionários têm outras prioridades e deixam para o fim a contratação de nadadores-salvadores. Depois, o que se passa é que todos já escolheram outros sítios para ficar e não há ninguém disponível para ali”, explicou Nuno Leitão.

A contratação de profissionais, lembrou, depende também dos ordenados que cada concessionário oferece. “Claro que os concessionários que oferecerem ordenados mais altos têm mais oportunidade, têm mais candidatos. Os concessionários que não tenham tanta capacidade financeira irão ter maior dificuldade em arranjar nadadores-salvadores”, esclareceu.

O comandante assegurou que há equidade no valor dos salários nas praias do Norte, com menos afluência, e nas praias da Grande Lisboa e Algarve, com mais banhistas.

“Temos praias no Norte que oferecem ordenados acima dos 800 euros, como também temos zonas do Alentejo e Algarve que pagam menos de 800 euros. A média é de 800 a 1.000 euros, com direito a almoço”, contou.

Nuno Leitão rejeitou que a segurança balnear esteja em risco e lembrou que a maior preocupação da Marinha são os 350 quilómetros de praias não vigiadas.

“Aqui, a Marinha faz um grande esforço para vigiá-las através de projetos implementados nestas zonas, nomeadamente o AMAROC [carrinhas de patrulha] e militares, que corresponde a um esforço de 500 mil euros em ajudas de custo e combustível”, adiantou.

O comandante do ISN assegurou ainda que serão desenvolvidas várias campanhas de sensibilização para os banhistas.