De “Super Mário”, o pioneiro, a “Resident Evil”, de “Lara Croft: Tomb Raider” ao mais recente “Warcraft”, muitos são já os jogos de vídeo que foram transportados para o cinema. Mas “Angry Birds” é o primeiro jogo de telemóvel a ser transformado num filme, co-produzido pela Rovio, a companhia finlandesa que o criou em 2009, e transformou num colossal sucesso planetário, e pela Sony, através da sua divisão de fitas animadas. “Angry Birds – O Filme”, uma animação por computador e em 3D, vem na sequência lógica do jogo de vídeo adaptado do original para telemóvel, e em especial das duas séries de desenhos animados para televisão e plataformas virtuais, “Angry Birds Toons” e “Piggy Tales”.

[Veja um episódio de “Angry Birds Toons”]

https://youtu.be/0hL1oCTSoR0

A Rovio aposta na fita para dar a volta a uma contabilidade negativa (a empresa teve prejuízos de 13 milhões de euros em 2015 e despediu 260 pessoas, por causa dos maus resultados das versões mais recentes do jogo) e ainda, nas palavras do seu presidente, Tuomo Korpinen, numa entrevista dada ao “The New York Times” em Maio, para “competir com o que de melhor há aí, as Disneys, as Pixars, as DreamWorks”. Ou seja, e numa lógica capitalista simples e óbvia, “Angry Birds – O Filme” apresenta-se como um importante investimento para dar novo fôlego a um “franchise” de entretenimento multiforme que está a perder gás (a produção custou 75 milhões de euros, coisa nunca vista na Finlândia, e tem um orçamento de “marketing” ainda maior: 100 milhões.), embora haja quem diga que vem já tarde demais.

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[Veja o “trailer” de “Angry Birds-O Filme”]

Deixemos as estratégias de mercado e os números aos especialistas. No que toca a medir-se com as animações da Disney, da Pixar e da DreamWorks, “Angry Birds – O Filme”, não lhes chega nem às pontas das unhas dos pés, seja em sofisticação técnica, seja em criatividade, seja ainda em elaboração narrativa. Mesmo apesar da Rovio ter ido buscar, para escrever o argumento, Jon Vitti, um veterano do “Saturday Night Live”, de “Os Simpsons” e autor de “Os Simpsons – O Filme”, e para o realizar, Clay Kaytis, um animador com 20 anos de experiência na Disney, e Fergal Reilly, um homem da animação da Sony que também passou pela Disney, o imperativo comercial que tutela o filme condiciona qualquer veleidade de atrevimento criativo, mesmo dentro do limitado universo a que pertence. Ao contrário, por exemplo, do que acontecia em “O Filme Lego”.

[Veja a entrevista com os dois realizadores]

https://youtu.be/MrAAXxCFAr0

Aqui, trata-se de encaixar e formatar o jogo numa narrativa de animação acelerada, multicolorida e barulhenta, com personagens um bocadinho mais desenvolvidas (os pássaros agora têm pernas, asas, falam e dominam a arte da ironia – pelo menos Red, a personagem principal, e campeão do mau feitio — embora continuem a não conseguir voar), “gags” e diálogos cómicos, e semear a história com suficientes trocadilhos, referências, e piscadelas de olho à cultura pop para atrair também os adultos e não só os mais novos que gastam as teclas do telemóvel com o jogo (há uma piada muito, muito boa à custa de “The Shining”, de Stanley Kubrick).

[Veja os bastidores da animação]

De resto, mantém-se a premissa básica e frenética do jogo. Os pássaros são projetados por catapultas contra os porcos (verdes) que lhes roubam os ovos (o filme propõe-se revelar como tudo começou e porque é que pássaros e porcos se tornaram inimigos figadais), e que é ampliada para um confronto climático e caoticamente destruidor entre as populações aviária e porcina das duas ilhas. “Angry Birds – O Filme” não é tão desesperada e irremediavelmente mau que nos ponha a desejar que a gripe das aves se abata sobre ele e o varra do mapa cinematográfico. Mas também não consegue melhor do que voar baixinho.