Estas posições foram assumidas por Ana Catarina Mendes em entrevista conjunta à agência Lusa e à Rádio Renascença, antes do Congresso Nacional do PS, que hoje se inicia na FIL (Feira Internacional de Lisboa) e que termina no domingo.

Em princípio, no sábado, caberá à secretária-geral adjunta do PS a apresentação da moção de estratégia – um documento cuja elaboração coordenou e que tem como primeiro subscritor o líder partidário, António Costa.

Ao contrário do que se passou no último congresso, em novembro de 2014, em que por questões de “urgência” foram eleitos as comissões Nacional, Política e o Secretariado Nacional (o órgão partidário executivo), agora o PS vai retomar a sua prática tradicional e apenas elegerá no domingo, por voto secreto, a Comissão Nacional.

Constituída a Comissão Nacional do PS (o órgão máximo entre congressos), na sua primeira reunião serão então eleitos os órgãos de direção dos socialistas: A Comissão Política, o Secretariado Nacional e a Comissão Permanente.

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Quanto ao perfil que terá a nova Comissão Nacional do PS, Ana Catarina Mendes adiantou que a direção partidária sensibilizou as diferentes estruturas do partido para a importância da ideia de se incluírem também pessoas que não se encontrem a exercer cargos públicos.

“Não por demérito de pessoas que se encontram a exercer cargos públicos, que têm todo o seu mérito, mas porque há muitos militantes do PS com notórias capacidades, que não querem ir para o Governo, ou para o exercício de funções de deputado, e querem ter uma palavra a dizer na vida do partido. Entendo que a Comissão Nacional do PS deve ser um espelho da sociedade”, frisou a “número dois” da direção dos socialistas.

De acordo com Ana Catarina Mendes, na nova Comissão Nacional do PS, “os sindicatos devem ter um papel reforçado”, assim como “pessoas ativistas de organizações, que são militantes socialistas e que fazem na sociedade civil um trabalho de grande mérito”.

“A renovação é a que for possível, depende de todos nós e também das indicações que os senhores presidentes das federações dão para os órgãos nacionais. Temos de começar a fazer um caminho no sentido de haver mais representantes da sociedade civil militantes do PS”, acentuou.

Ana Catarina Mendes exclui, no entanto, a possibilidade de simpatizantes socialistas entrarem para órgãos nacionais do PS, alegando que os estatutos dos socialistas tal não permitem.

“Temos promovido uma mobilização grande de simpatizantes para que se juntam ao PS em fóruns de discussão e contribuam para decisões. Enquanto secretária-geral adjunta, num momento em que o PS está no Governo, considero que é importante que se fomentem novas ideias”, declarou.

Sobre o perfil futuro da Comissão Política e do Secretariado Nacional do PS, Ana Catarina Mendes considerou “prematuro” falar-se já desses órgãos nacionais, que apenas serão eleitos mais tarde.

Já sobre a inclusão de militantes que entraram nas direções lideradas por António José Seguro, a secretária-geral adjunta defende que o seu partido “fez nos últimos dois anos um esforço muito significativo para sarar as feridas” que resultaram da disputa pela liderança em setembro de 2014.

“Não há tendências, mas, como sempre, vozes que concordam e que discordam da estratégia da direção nacional. O PS foi sempre um partido plural, em que a divergência foi sempre respeitada – e sê-lo-á no futuro também”, respondeu.

Questionado sobre a sua experiência enquanto secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes defendeu que os últimos seis meses de exercício do cargo “demonstraram a absoluta necessidade de um partido vivo enquanto o PS está no Governo”.

“Neste período, foi possível proporcionar um espaço de debate na preparação do XXI Congresso Nacional. Queremos um PS de portas abertas à cidadania e, por outro lado, penso que tem sido muito importante a articulação entre o partido e o próprio Governo”, acrescentou.

“Quotas demonstraram constituir um fator de perversão nas eleições”

A secretária-geral adjunta do PS afirmou também que será promovido após o congresso um amplo debate interno sobre novos mecanismos de vinculação neste partido, visando eliminar suspeitas que são geradas pelo atual sistema de pagamento de quotas.

Esta posição foi assumida por Ana Catarina Mendes depois de confrontada sobre casos ocorridos no PS que chegaram às autoridades judiciais, entre eles um relacionado com a existência com fichas falsas de militantes na Federação de Coimbra.

“Desde que sou secretária-geral adjunta do PS, todos os casos dessa natureza que aqui chegaram foram imediatamente repudiados, tendo sido tomadas medidas por parte da Comissão Permanente. Perante esses casos, a Comissão Permanente do PS enviou-os para os órgãos jurisdicionais para os efeitos adequados”, respondeu a “número dois” da direção dos socialistas.

De acordo com o secretária-geral adjunta do PS, apesar desta questão não estar em cima da mesa no congresso nacional que hoje se inicia, ao longo dos próximos dois anos “impõe-se uma reflexão profunda” sobre a forma de eliminar esses casos.

“Temos de refletir como podem as pessoas vincularem-se ao PS sem ser através do sistema [de pagamento] de quotas. As quotas demonstraram constituir um fator de perversão em muitos momentos eleitorais”, defendeu.

De acordo com Ana Catarina Mendes, “é importante que o PS amadureça esta questão e que haja uma cada vez maior transparência interna”.

“Na minha perspetiva, temos mesmo de equacionar o fim das quotas. Mas é uma questão que tem de ser discutida”, acrescentou.