Os elevadores comuns sobem e descem. Mas no que depender dos engenheiros do grupo industrial Thyssenkrupp, o cenário será bem diferente dentro de alguns anos. A multinacional está a desenvolver um elevador capaz de se deslocar tanto na horizontal como na vertical. Chama-se MULTI e o primeiro protótipo deverá ser posto à prova em breve, numa torre de testes que está a ser construída em Rottweil, na Alemanha.
“Na verdade, o MULTI não é muito diferente dos elevadores tradicionais”, conta ao Observador Andreas Schierenbeck, diretor executivo da empresa. Trata-se de uma espécie de calha onde podem circular múltiplas cabines de elevador em simultâneo. Para tal, os cabos que suportam os ascensores tradicionais foram substituídos por módulos lineares, semelhantes a pequenos motores integrados em cada cabine. Estas são suportadas por campos magnéticos e movimentam-se quando esses módulos são eletrizados. Segundo Schierenbeck, esta é a mesma tecnologia de levitação magnética usada no comboio de alta velocidade Maglev, que liga a cidade chinesa de Xangai ao Aeroporto Internacional de Pudong.
Ou seja, as cabines circulam de forma cíclica nessas calhas, parando automaticamente quando encontram uma porta de acesso a um piso. “A cada 15/30 segundos você tem uma cabine a passar na sua porta. Já não chama o elevador. O elevador para, abre a porta, você entra, o elevador segue”, explica Luís Ramos, diretor de comunicação da Thyssenkrupp, ao Observador.
Para permitir o movimento horizontal, os engenheiros tiveram ainda de trabalhar a estabilidade das cabines. “Quando se movimenta na vertical a gravidade permite que as pessoas fiquem estáveis dentro da cabine. [Mas] o movimento horizontal provoca deslocações que as pessoas não estão habituadas. É preciso desenhar cabines que permitam que as pessoas tenham sítio onde se agarrar”, refere Luís Ramos. E há ainda a questão da aceleração. “Não pode ir a velocidades exageradas para que as pessoas não se sintam desconfortáveis. Encontrámos os cinco metros por segundo como a velocidade equilibrada para tudo isso”, diz, acrescentando que “estamos aqui a falar de distâncias curtas”.
Isso é importante para que a velocidade não seja um problema. Andreas Schierenbeck arrisca um exemplo: “É como [ter] um Ferrari” e querer “conduzir a 320 quilómetros por hora.” Ainda que o automóvel seja capaz atingir essa velocidade, “se estiver em Londres, engarrafado no meio do tráfego”, isso já não é possível. Ou seja, mesmo que as cabines do elevador pudessem atingir velocidades superiores, não teriam espaço para acelerar.
Em relação à segurança, Luís Ramos diz que o MULTI “é seguro por defeito”. Se houver uma falha de energia, as cabines têm baterias que lhes permitem deslocar-se até à porta mais próxima. “Ele não cai”, garante.
“Irá mudar as cidades? Vamos ver”
É a pergunta que se impõe: para quê um elevador que também se desloca na horizontal? Vários especialistas reuniram-se esta terça-feira em Londres (Reino Unido) numa conferência sobre O Futuro das Estações de Metro e onde o MULTI foi assunto corrente. Isto porque alguns deles — e, claro, a própria Thyssenkrupp — acreditam que este elevador poderá ser uma solução para melhorar a mobilidade nas cidades.
Aqui entra o metro de Londres, onde circulam mais de mil milhões de passageiros por ano. A rede, de 402 quilómetros de comprimento, integra 167 elevadores e 430 escadarias rolantes numa estrutura que, no total, soma já 150 anos de idade. O metro londrino é o exemplo escolhido pela companhia para ilustrar como o MULTI se consegue adaptar “a muitas situações [e] a diversos tipos de contextos geográficos”, diz ainda Luís Ramos. Tal “como é uma estação de metro [em Londres], onde várias linhas se sobrepõem umas em relação às outras, onde o espaço é muito limitado e onde é preciso uma tecnologia capaz de movimentar um grande número de pessoas num espaço muito limitado”.
Andreas Schierenbeck também participou no debate, onde assumiu a dada altura que aplicar esta solução “não é assim tão complicado”. “Definitivamente, é real e alcançável”, acrescentou. Questionado pelo moderador Mark Hansford, editor da publicação New Civil Engineer, sobre quando estaria este sistema em funcionamento, Schierenbeck brincou: “Se quiser comprar um, não há problema”. Acabou por apontar duas hipóteses: ou em 2018, ou no ano a seguir. “Irá mudar as cidades? Vamos ver. Talvez daqui a cem anos poderemos dizer que as mudou completamente, tal como o automóvel, os comboios ou os metropolitanos. Mas ainda é demasiado cedo”, assumiu mais tarde, em conversa com o Observador.
Assim, para a empresa, o MULTI poderá ajudar a dar resposta à tendência de crescimento das grandes cidades. A empresa justifica-se com os “estudos das Nações Unidas” que preveem que, em 2050, 66% da população mundial viverá em cidades (em 2014, já 54% da população vivia em zonas urbanas). “Começa a haver este movimento de crescimento das cidades, de crescimento da importância das cidades, como polos de atração de pessoas”, explica Luís Ramos. Por isso, “temos que encontrar formas para que a cidade se adapte a receber essas pessoas e que fique melhor do que estava”, acrescenta.
E onde se insere Portugal nesta história? “Lisboa está num ponto de transição onde é preciso renovar, inovar e criar equipamentos de forma a transformar a cidade [para que possa acolher] todos os turistas que está a receber. Esse processo de transformação necessita de ser olhado com cuidado para que, daqui a algum tempo, a cidade possa ser melhor do que é. Mas tendo mais gente e de uma forma sustentável para o futuro”, conclui Luís Ramos. Resta esperar que o MULTI, ainda protótipo, venha algum dia a deixar de o ser.
O Observador viajou para Londres a convite da Thyssenkrupp.