O presidente da Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses, Luís Marques, disse, esta sexta-feira, que tem a garantia da Embaixada portuguesa em Paris que vai ser recebido pelo Presidente da República durante o dia, na Câmara Municipal de Paris.

O representante dos emigrantes lesados foi recebido pelo Embaixador e pelo Cônsul de Portugal, enquanto dezenas de emigrantes se concentravam junto à Embaixada para reclamar o reembolso das suas economias e gritavam em coro “justiça”.

“Temos a garantia que vamos reunir com o presidente da República esta tarde, sim senhora”, declarou aos jornalistas Luís Marques acrescentando que lhe “fizeram crer que o primeiro-ministro também participará nesse encontro no Hôtel de Ville de Paris” e que “vão fazer tudo para sensibilizar o primeiro-ministro e o presidente da República” porque “não vêm como é que isto não pode ficar resolvido”.

Na rua, cerca de 150 manifestantes de acordo com a organização, 80 segundo a polícia, entoavam as palavras “justiça” e os ‘slogans'”o povo unido jamais será vencido”, cantando também a “Grândola Vila Morena”.

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Com o megafone em riste, Sérgio Morgado, de 54 anos, participou pela quarta vez num protesto em Paris e também já se manifestou em Portugal “para mostrar que o que se está a passar com os emigrantes é um destroço”.

“Somos criados para mandar dinheiro para Portugal e o nosso dinheiro está agora bloqueado. Não se trata de dinheiro a risco, trata-se de poupanças ‘plus’ a 3%. Não somos investidores da bolsa, nem jogadores de casino. Somos todos trabalhadores”, declarou o português de Viana do Castelo a viver em França há 28 anos e que tem, junto com o filho, 200 mil euros bloqueados no ex-BES/Novo Banco.

Alberto Gonçalves, natural de Guimarães, diz que “perdeu 46 anos de poupanças”, exibindo um cartaz com uma publicidade do Novo Banco a indicar que a instituição patrocina a seleção de futebol no Euro 2016 e com a mensagem escrita à mão “Novo Banco: podiam ter vergonha de ser patrocinador da seleção com as poupanças dos emigrantes lesados do BES/Novo Banco”.

“O senhor Fernando Santos e toda a equipa estão a ser pagos com o nosso dinheiro. Ontem fui ao centro de treinos em Marcoussis com este cartaz, mas tive medo de o mostrar porque era o único [em protesto]”, afirmou o português de 64 anos a viver há 46 em França.

Também Manuel Carvalho, de Amarante, se mostrou indignado porque “o Novo Banco não tem dinheiro para pagar os emigrantes, mas tem dinheiro para a seleção”, sublinhando que quer reaver os “quase 200 mil euros, as poupanças de uma vida” e mostrando um cartaz com a mensagem: “Traficantes publicitam desporto, roubam emigrantes”.

“Fomos todos roubados. Tenho lá mais de cem mil euros e já vim protestar duas vezes. Enquanto há vida há esperança”, interrompeu Jorge de Albuquerque, de 72 anos, que disse não poder trabalhar porque já está na reforma e empunhando um cartaz a dizer: “Marcelo é fixe. Bes/Novo Banco é mau”.

Amélia Reis, mentora da primeira manifestação em Paris contra o BES, no ano passado, continua a ser presença assídua nos protestos e promete “continuar esta luta”.

“Se o Novo Banco não quer ir às negociações de boa vontade, terá de ir de outra maneira. Queremos que o presidente cumpra a promessa que nos fez. Ele prometeu que ia resolver os problemas dos emigrantes”, disse aquela que já foi ama dos sobrinhos de Ricardo Salgado.

De lágrimas nos olhos e visivelmente cansada, Elisa Marques, esposa do presidente da AMELP, disse à Lusa estar “a chorar porque são 24 horas sobre 24 horas a suportar muita coisa”, mas que “há que ter esperança e continuar a lutar”, indicando que ela e o marido tinham cerca de “meio milhão de euros” no banco.

Cristina Semblano, coordenadora do Bloco de Esquerda Europa, também esteve presente na manifestação “em solidariedade com os emigrantes lesados do BES e porque o Bloco de Esquerda apelou todos os emigrantes que se sentem lesados das sucessivas políticas de emigração a virem manifestar-se hoje”.

“Apelamos a todos aqueles que estejam presentes aqui, para além da legítima solidariedade com os emigrantes lesados do BES, para que eles reclamem outras políticas de emigração. O governo da geringonça trouxe uma lufada de ar fresco mas essa lufada de ar fresco não chegou à emigração”, disse à Lusa a também dirigente nacional do Bloco.

Alguns lesados do BES também contam deslocar-se este sábado a Champigny para continuarem o protesto, aquando da inauguração pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro de um monumento ao antigo autarca Louis Talamoni que ajudou os portugueses que viviam nos bairros de lata nos anos 60 e 70.