Uma mulher de 37 anos atirou-se esta sexta-feira, com o filho de seis anos ao colo, da ponte de Santa Eugénia, em Barcelos, para o rio Cávado. A mãe foi resgatada com vida e, de acordo com fontes hospitalares, está consciente. O filho continua desaparecido mas, com o dia a escurecer, as autoridades suspenderam as buscas, que retomam sábado de manhã.

Susana, assim se chama a mulher, “está consciente” mas continua em avaliações, já que apresenta “alguns critérios de gravidade”. Foi logo assistida pelo INEM no local e encaminhada para o hospital de Braga, enquanto bombeiros, GNR e PSP procederam com as buscas, que se estendem a dois quilómetros da ponte, decorrendo num perímetro de cerca de 500 metros. Foi instalada uma rede junto à Ponte Medieval de Barcelos, caso a criança seja arrastada pela corrente.

“A dificuldade é não haver uma testemunha ocular que tenha visto a criança” depois da queda na ponte, afirmou o chefe dos mergulhadores aos jornalistas. Armando Carvalho acrescentou ainda que as buscas seriam interrompidas quando já não houvesse luz solar, “por questões de segurança”.

Foi o que aconteceu às 19h18. “Não encontrámos qualquer sinal” da criança, disse o adjunto dos bombeiros, José Simões. Algo considerado normal, dado tratar-se um “trabalho moroso”. A hipótese de o menino, Carlos, de seis anos, estar vivo “está posta de lado”, afirmou o adjunto.

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A Procuradoria-Geral Distrital do Porto já anunciou que foi aberto um inquérito ao caso. Caberá à Polícia Judiciária investigar se se trata de um crime “de homicídio qualificado, na forma tentada ou consumada“. Relativamente à criança que se encontra desaparecida, o Ministério Público clarificou que “não está pendente ou arquivado processo de natureza tutelar cível ou de promoção e proteção”.

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Ao todo estiveram envolvidos 30 elementos em toda a operação, entre bombeiros, PSP e GNR. © Ricardo Castelo

Baseado na experiência de buscas no local, Armando Carvalho estima que o menino de seis anos possa ser encontrado “em 48 horas”, mas sem certezas. Ao todo estiveram envolvidos 30 elementos em toda a operação, que passou também pelas margens do rio Cávado.

“Ainda tocou no casaco do menino, mas não conseguiu salvá-lo”

“Abre os olhos, Tone. Abre bem os olhos!” Muitas das pessoas que se concentraram durante a tarde na Ponte de Santa Eugénia eram mirones por bons motivos. Os olhares estavam todos virados 20 metros para baixo, para o rio Cávado, na esperança de avistarem a criança de seis anos que a mãe arrastou consigo quando se atirou da ponte, pelas 12h30. Na água estavam os mergulhadores dos bombeiros e ainda dois pequenos barcos de madeira de populares empenhados em ajudar. Num deles seguia “Tone”, sozinho, a remar com cuidado e sempre a olhar para a água. No outro estava o homem que, horas antes, tinha salvado a mulher de se afogar.

Depois de recuperar a mulher, o homem tentou reanimá-la, até à chegada do INEM. Fonte policial disse ao Observador que o dono do barco que salvou a mulher nunca chegou a ver a criança. Se a tivesse visto tinha ido lá primeiro”, afirmou.

As autoridades foram avisadas às 12h41 por um local que ia a atravessar a ponte quanto tudo sucedeu e que terá tentado impedir que a mulher saltasse. Depois do sucedido, deslocou-se até ao quartel de bombeiros, que fica a 500 metros do local, para alertar a corporação.

Um morador da zona relatou ao Observador que uma mulher que passava na ponte por volta das 12h30 viu Susana com a criança e atravessou, para ver o que se passava. “Ainda tocou no casaco do menino, mas não conseguiu salvá-lo”, disse.

Quando, à hora de almoço, duas ambulâncias chegaram à ponte, um bombeiro acredita ter visto a criança no rio a tentar manter-se à tona. O bombeiro ficou abalado e teve de receber apoio psicológico, tendo sido enviado para casa, disse ao Observador o comandante dos bombeiros, José Simões.

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O carro da família ficou estacionado na ponte até que familiares o vieram retirar. Não se sabe, contudo, quem o veio a conduzir até ao tabuleiro. © Ricardo Castelo

O pai da criança, que também se chama Carlos, esteve mais tarde na ponte e teve de receber apoio psicológico no quartel dos bombeiros. O carro da família, um Renault Megane cinzento, ficou estacionado no tabuleiro até às 16h10, hora a que familiares retiraram a viatura. Fonte policial confirmou ao Observador que o carro é da família, mas não sabe precisar se é da mãe ou do pai da criança.

Ainda não se sabe o que levou Susana a saltar com o filho

A ponte de Santa Eugénia já é conhecida na zona pelos piores motivos. “Quando há muita gente na ponte, já sabemos o que aconteceu”, disse um morador de Arcozelo. Susana vive nesta freguesia de Barcelos, onde também trabalha, numa padaria local. Segundo contou uma colega ao Observador, a mulher encontrava-se atualmente ausente por motivo de férias. Não notou nada de estranho com a colega nos últimos tempos.

O mesmo disse um funcionário de uma bomba de gasolina onde o casal vai quase todos os dias. “Não faço ideia do que a terá levado a fazer isso”. Bruno é funcionário da Repsol e há anos que vê o casal quase diariamente. Carlos e Susana tiveram um segundo filho há cerca de um ano, um menino. “Pareceram-me sempre bem, ainda há pouco aumentaram a família”, recordou.

Mesmo sem dados suficiente que permitam reconstituir o porquê de Susana ter feito o caminho até à ponte com o filho, muitos especulavam sobre as razões, sem que haja qualquer confirmação ainda por parte da família. Uns olhavam para a situação e colocavam-se contra a mãe. Outros, com mais bom senso, lembravam que não se pode tomar uma posição sem saber o que se passou. Na memória está ainda o caso de Samira e Viviane, as duas meninas que foram arrastadas para a morte pela mãe, em fevereiro, em Caxias.