As dúvidas existem para todos. Porque é que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) precisa de 4 mil milhões para se recapitalizar? Que créditos concedeu nos últimos anos para chegar a este ponto? Mas a forma de esclarecê-las é que não é unânime. O PSD quer uma comissão de inquérito à CGD para perceber como o banco foi gerido. Mas o PS e o próprio regulador Banco de Portugal (BdP) consideram que há outras formas de o fazer, como uma avaliação à porta fechada das auditorias já feitas. Oficialmente o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, abstém-se. Não deve sequer comentar. Mas há, segundo o Expresso, quem já o tenha ouvido concordar com a ideia: uma comissão de inquérito nesta altura poderia arrasar a imagem do banco público e desequilibrar a sua estabilidade.

Marcelo Rebelo de Sousa esteve esta sexta-feira reunido com o governador do BdP, Carlos Costa, mas garantiu publicamente que não tocou no assunto da CGD. Não o deve fazer, não é da sua competência. Ainda assim, o jornal Expresso diz que o assunto foi abordado e que o chefe de Estado até já emitiu algumas opiniões sobre o caso em conversa com o líder parlamentar do PSD. Marcelo esteve com Luís Montenegro em Espinho, na última quinta-feira, “e manifestou-lhe as suas objeções a um inquérito que teme vir a resultar numa devassa das contas do banco”, escreve o semanário.

O governador do BdP partilha da mesma opinião. E terá tocado no assunto quando se reuniu com Marcelo. Ainda assim, e em resposta à notícia do Expresso, a Presidência emitiu um comunicado este sábado a desmentir uma posição oficial sobre a comissão de inquérito. “O Presidente da República afirmou, repetidamente, que não toma posição sobre matérias da competência da Assembleia da República, que, em caso algum, podem ser objeto de intervenção presidencial, como é o caso com comissões parlamentares de inquérito. Não tem por isso fundamento uma tomada de posição quanto a eventual comissão parlamentar de inquérito sobre a CGD”, lê-se no comunicado.

O próprio primeiro-ministro, em declarações ao Expresso, confirmou que se procura “uma forma de satisfazer o legítimo interesse público de esclarecer as dúvidas existentes e de procurar uma alternativa”. Ou seja, o PS está a fazer esforços para encontrar uma alternativa à comissão de inquérito, sem desautorizar o PSD que está a ultimar o texto que justifica o pedido da comissão de inquérito. Ao jornal Público não foi António Costa quem falou, mas o porta-voz do PS, João Galamba, disse que a ideia é que o BdP “esclareça o que apurou na Caixa Geral de Depósitos e que intervenções fez.”

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O Público diz que nos corredores do parlamento essa alternativa passa por por comissão eventual ao sistema bancário, em vez de um inquérito. Ou seja, sem os poderes judiciais de que dispõe uma comissão de inquérito. Mas o Expresso, que falou com o primeiro-ministro, é mais concreto. Diz que a solução alternativa passa por levar todas as entidades supervisoras à Comissão Parlamentar de Finanças para, em reuniões à porta fechada, serem prestados todos os esclarecimentos relativos às contas do banco público. Entre essas auditorias estarão as que foram feitas pelo Mecanismo Europeu de Supervisão. E Carlos Costa já terá pedido autorização ao BCE para isso.

Na sexta-feira António Costa disse que o que estava em causa não era uma auditoria, mas uma avaliação que teria de ser feita pela Comissão Europeia. “Para que a Comissão Europeia se possa pronunciar, tem de proceder a uma avaliação das necessidades efetivas de recapitalização da CGD”, disse o líder do executivo.

Aos olhos de Passos Coelho, líder do PSD, uma comissão de inquérito terá um efeito contrário na CGD. Trará confiança. “O maior banco de Portugal não pode viver numa espécie de clima de suspeição. Essa ideia não vem sendo alimentada por mim ou pelo meu partido, mas pela comunicação social que está a passar notícias semanalmente que dão conta da necessidade de que haja uma capitalização muito avultada no banco”, defendeu no Brasil. E garantiu que o requerimento estará pronto nos próximos dias.