A solução para a crise das migrações “é política” e implica apoiar o desenvolvimento dos países de origem dos fluxos, mas também abrir os canais legais, defende uma responsável da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Em declarações à Lusa, via telefone, a propósito do Dia Mundial do Refugiado, que se assinala esta segunda-feira, a chefe da Divisão da Relação com os Doadores da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Genebra, Monica Goracci, concorda que a solução para a atual a crise de migrações “é política”.

Por isso mesmo, não chega, embora reconheça ser importante, apoiar o desenvolvimento dos países de origem dos fluxos migratórios, onde “as situações de conflito perduram”. Até porque a economia na Europa continua a ser um “fator de chamada” e quem vem sabe que há trabalho para fazer, assinala.

“É preciso trabalhar nos canais legais” de migração, doutra forma a Convenção de Genebra, que em 1951 fixou o estatuto de refugiado, é passível de ser mal utilizada, sustenta Monica Goracci, deixando um exemplo. O tempo para atribuir, ou não, o estatuto de refugiado “é bastante demorado” e, portanto, os requerentes de asilo ficam “num limbo”, recorda.

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“A maioria de migrantes em situação irregular na Europa entra com vistos legais. Quando estes caducam, ficam na economia informal”, resume, considerando que a definição de refugiado se mantém atual, sendo “um filtro que serve um propósito bem definido”, mas reconhecendo que “há outras pessoas que precisam de proteção” e que devem ser adotados instrumentos nesse sentido.

“É preciso trabalhar os canais legais”, insiste a ex-diretora do escritório da OIM em Portugal, defendendo a abertura do mercado de trabalho, dando “possibilidades múltiplas às pessoas de entrar e sair, em vez de uma hipótese só”.

Monica Goracci assinala ainda que a resposta urgente aos fluxos migratórios tem prevalecido sobre as soluções a longo prazo. “Se se tomam medidas de urgência, não se vê o longo prazo e é preciso utilizar instrumentos que asseguram a resposta a longo prazo e não a resposta de emergência imediata”, distingue.

Reconhecendo que a atual crise “tem uma componente humanitária importante”, a responsável considera que “é preciso trabalhar as políticas”.

No atual panorama, em termos de rotas, o Mediterrâneo é “a prioridade”, mas a via que atravessa a Europa Central, sobretudo utilizada por migrantes económicos, também é “preocupante”, diz.

Aliás, ressalva, “a maioria das migrações irregulares faz-se por terra”, embora o cenário nos mares — como o demonstram as imagens quase diárias de barcos sobrelotados – seja mais trágico.

“Nunca houve um momento com tantas crises simultâneas”, resume Goracci, frisando que os vários países da União Europeia devem adotar “políticas que sejam realmente de partilha” e comuns a todos. “Esta é mais uma crise de solidariedade do que crise de números”, observa.

Ainda que preocupada com o crescente discurso antimigrantes, Goracci recorda que ele “não é novo”, sobretudo em tempos de crise económica. “É importante dar uma imagem justa da imigração, que não seja negativa, mas também que seja real”, contrapõe.